Li recentemente uma reportagem que sistematiza os hábitos de leitura do país.
De maneira geral, o leitor brasileiro leria mais ou menos 1,3 livro. A pesquisa ainda detalha o caso excepcional do Rio Grande do Sul onde se constatou que cada habitante daquele estado lê em média seis livros por ano, excluindo-se desse cômputo os livros acadêmicos, profissionais ou aqueles obrigatórios para alguma espécie de seleção.
Um terço dos leitores gaúchos atribui o gosto pela leitura ao incentivo do pai. Outro terço, ao da mãe. Em ambos os casos, os pais liam para os filhos desde a mais tenra idade e o hábito, que para muitos se transformaria numa obrigação, acabou se encaixando no cotidiano da sociedade. Hábito tão importante quanto escovar os dentes, tomar banho, comer, beber água ou dormir.
O hábito da leitura se deve em grande parte ao esforço dos professores aliado à ampla estrutura literária na qual se destacam as feiras do livro que vão tomando conta do interior do estado (a de Porto Alegre completará cinquenta e cinco anos em 2009), as boas bibliotecas, os concursos literários, os projetos educacionais como o Escritor na sala de Aula, editoras próprias e eficiente distribuição.
Quando o resto do país vai acertar essa sorte grande? Quando o Brasil vai se transformar num Rio Grande do Sul?
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
domingo, 28 de dezembro de 2008
O fim do fim de semana
Quando chegou a noite de domingo, ouviu a música do início de um programa e pensou que na segunda-feira encontraria novamente o chefe extenuado e irritado, a mulher que nunca lhe daria atenção, o manobrista que invariavelmente demoraria para atendê-lo e indiscutivelmente traria mais alguma avaria ao seu carro velho, a vizinha que reclamaria de suas músicas executadas de madrugada...
Pelo menos o vento entrava facilmente pelas janelas do apartamento...
Pelo menos o vento entrava facilmente pelas janelas do apartamento...
sábado, 27 de dezembro de 2008
Depois do natal
Depois do natal as pessoas parecem demonstrar o mesmo espírito egoísta e estulto de antes do natal.
As cotoveladas trocadas arrogantemente nos dias das compras agora são trocadas nos dias de permuta de mercadorias. Um sapato grande, uma saia apertada, um aparelho eletrônico que simplesmente não funciona.
E assim praticamente entramos em mais um período ao fim do qual, antecedendo e passando, chegaremos novamente...ao natal.
Agora, resta planejar as ações do próximo ano. Quais serão as suas?
As cotoveladas trocadas arrogantemente nos dias das compras agora são trocadas nos dias de permuta de mercadorias. Um sapato grande, uma saia apertada, um aparelho eletrônico que simplesmente não funciona.
E assim praticamente entramos em mais um período ao fim do qual, antecedendo e passando, chegaremos novamente...ao natal.
Agora, resta planejar as ações do próximo ano. Quais serão as suas?
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Finalmente natal
Finalmente chegou a véspera de natal. Espero que todos que lêem esse blog tenham a sorte de possuir uma família como a minha. Nos reuniremos em nossa casa esta noite para comemorar, confraternizar e preparar novos projetos para o ano de 2009.
A todos que eventualmente lêem esse blog, meus sinceros votos de feliz natal!
A todos que eventualmente lêem esse blog, meus sinceros votos de feliz natal!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Quase lá...
Leu atentamente a lista dos aprovados no vestibular, releu e não encontrou o nome. Entrou na sala do coordenador da escola, batendo na mesa com as mãos abertas, onde estava o milagroso cursinho pré-vestibular que não a colocara na faculdade? Onde estava o dinheiro que investira pesadamente para passar no vestibular, para estudar nos gabaritos da prova aplicada semanas atrás?
O coordenador tentou desconversar, enrolar, mas percebeu a seriedade da situação quando a menina quebrou uma garrafa de Coca-cola e, olhando-o furiosa, nada precisou falar.
Em três tempos, entrava numa loja de roupas engraçadas para gastar a restituição que o coordenador insistira em fazer.
O coordenador tentou desconversar, enrolar, mas percebeu a seriedade da situação quando a menina quebrou uma garrafa de Coca-cola e, olhando-o furiosa, nada precisou falar.
Em três tempos, entrava numa loja de roupas engraçadas para gastar a restituição que o coordenador insistira em fazer.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Duas semanas
Peço desculpas aos leitores frequentes desse blob pela ausência nas últimas duas semanas. Cheio de acertos para fazer na dissertação, que enviei hoje ao meu orientador e que retornará nos próximos dias cheia de rabiscos, de observações e de críticas consideráveis, acabei me isolando de tudo e de todos. Se não faço isso, simplesmente a coisa não rende.
***
Gostaria de agradecer ao comentário que o filósofo Márcio Alexandre da Silva deixou na última mensagem de 1 de dezembro assim como aos dois anônimos.
***
Em relação ao mineiro, obrigado pelo convite de visita às terras da genialidade literária de onde vêm Murilo Rubião, Paulo Mendes Campos e tantos outros. Depois, se puder e voltar a ler esse blog, só deixar o endereço eletrônico que agradeço pessoalmente de modo eletrônico.
***
Quero desejar a todos um feliz natal. Depois do natal, se as correções da dissertação não me matarem, volto a escrever para desejar um feliz ano novo que, se der parcialmente certo, será o ano de novos projetos culturais não apenas em Assis, interior de São Paulo, mas Brasil afora. Afinal, a Sociedade Mutuante, brilhantemente comandada pela Sylvia Maria, não tem feito um trabalho realmente magnífico?
***
Gostaria de agradecer ao comentário que o filósofo Márcio Alexandre da Silva deixou na última mensagem de 1 de dezembro assim como aos dois anônimos.
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Em relação ao mineiro, obrigado pelo convite de visita às terras da genialidade literária de onde vêm Murilo Rubião, Paulo Mendes Campos e tantos outros. Depois, se puder e voltar a ler esse blog, só deixar o endereço eletrônico que agradeço pessoalmente de modo eletrônico.
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Quero desejar a todos um feliz natal. Depois do natal, se as correções da dissertação não me matarem, volto a escrever para desejar um feliz ano novo que, se der parcialmente certo, será o ano de novos projetos culturais não apenas em Assis, interior de São Paulo, mas Brasil afora. Afinal, a Sociedade Mutuante, brilhantemente comandada pela Sylvia Maria, não tem feito um trabalho realmente magnífico?
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Dia de luta contra a Aids
Geralmente as pessoas falam do dia primeiro dezembro apenas no dia primeiro de dezembro, comemorando a luta contra a Aids, mas se esquecendo de que essa batalha deve ser travada diariamente.
Lutar contra a Aids atualmente é tão importante quanto almoçar, jantar, beber água, promover a circulação sanguínea em nosso corpo etc.
Algumas estatística recentemente apresentadas por órgãos oficiais e organizações não governamentais demonstram que o número de infectados por Aids cresceu significamente entre os homens com mais de cinquenta anos. A incidência de casos na região sudeste caiu, mas aumentou drasticamente nas regiões nordeste e norte.
Em síntese, não são apenas os jovens e os adolescentes que precisam se conscientizar do risco em que se colocam quando transam sem preservativo.
Daqui para frente, mais esforços coletivos (não significam necessariamente mais esforços estatais) devem ser feitos para controlar o crescimento do HIV. Vamos começar?
Lutar contra a Aids atualmente é tão importante quanto almoçar, jantar, beber água, promover a circulação sanguínea em nosso corpo etc.
Algumas estatística recentemente apresentadas por órgãos oficiais e organizações não governamentais demonstram que o número de infectados por Aids cresceu significamente entre os homens com mais de cinquenta anos. A incidência de casos na região sudeste caiu, mas aumentou drasticamente nas regiões nordeste e norte.
Em síntese, não são apenas os jovens e os adolescentes que precisam se conscientizar do risco em que se colocam quando transam sem preservativo.
Daqui para frente, mais esforços coletivos (não significam necessariamente mais esforços estatais) devem ser feitos para controlar o crescimento do HIV. Vamos começar?
domingo, 30 de novembro de 2008
Menos humano
Lembrou dos tempos em que transitava nas ruas do bairro em sua pequena bicicleta. Tão pequena que suas pernas compridas viraram motivo de gozação.
Hoje, dirigindo o carro, pernas amplamente esticadas e braços suspensos no ar para ordenar uma direção leve, sente-se incomodado por ninguém mais ridicularizá-lo.
Ninguém mais o chama pernão, mas doutor qualquer coisa. À noite, uma nostalgia chorosa explode antes de dormir.
Talvez a vontade de voltar a ser feliz, sem compromisso, liberto.
Hoje, dirigindo o carro, pernas amplamente esticadas e braços suspensos no ar para ordenar uma direção leve, sente-se incomodado por ninguém mais ridicularizá-lo.
Ninguém mais o chama pernão, mas doutor qualquer coisa. À noite, uma nostalgia chorosa explode antes de dormir.
Talvez a vontade de voltar a ser feliz, sem compromisso, liberto.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Bobbio: extemporâneo e universal
Estava escrevendo mais uma parte da dissertação. Lembrei-me que, em outra parte dela, questionava as nuances e convergências das patologias decorrentes das ações e conceitos entre público e privado.
Alguns dos que a leram apontaram um equívoco na utlização dos conceitos de Bobbio na análise da correspondência de Bevilaqua demonstrando corretamente que usava artifícios estranhos e complexos na análise de fontes regualdas estruturalmente de maneira diversa. Eles estão certos. Estava efetivamente equivocado em minhas análises.
Porém, relendo cartas e lendo outras, que encontrei numa das biografias do jurista cerarense, percebo que os conceitos de Bobbio são extemporâneos (que podem ser usados em qualquer tempo) e universais (podem ser aplicados em qualquer lugar). O que preciso fazer, na realidade, é apontar com mais clareza e mais argumentos como o conceito de público e de privado transcendem as relações patronais, destacadas por José Murilo de Carvalho, na República Velha.
Não é fácil. Talvez impossível. Mas, não somos românticos?
Alguns dos que a leram apontaram um equívoco na utlização dos conceitos de Bobbio na análise da correspondência de Bevilaqua demonstrando corretamente que usava artifícios estranhos e complexos na análise de fontes regualdas estruturalmente de maneira diversa. Eles estão certos. Estava efetivamente equivocado em minhas análises.
Porém, relendo cartas e lendo outras, que encontrei numa das biografias do jurista cerarense, percebo que os conceitos de Bobbio são extemporâneos (que podem ser usados em qualquer tempo) e universais (podem ser aplicados em qualquer lugar). O que preciso fazer, na realidade, é apontar com mais clareza e mais argumentos como o conceito de público e de privado transcendem as relações patronais, destacadas por José Murilo de Carvalho, na República Velha.
Não é fácil. Talvez impossível. Mas, não somos românticos?
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Perda de tempo
Uma menina perguntou ao homem em fim de vida se não era perda de tempo, àquela altura, aprender piano. Valeria a pena?
O homem sorriu, olhou bem a menina, perguntou:
- Vale a pena respirar?
O homem sorriu, olhou bem a menina, perguntou:
- Vale a pena respirar?
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
O fim do dia
Assim, levantou-se da cadeira, assim, olhou o sol expirando no fim da tela, assim, fechou os olhos para a modernidade numa refutação implícita do amor, da vida, dos sonhos.
sábado, 15 de novembro de 2008
Intolerância ou desequilíbrio na Câmara de Vereadores de Assis?
Como de costume, peguei a edição do “Jornal de Assis” de quinta-feira, 6 de novembro e, com perplexidade e atenção, li o brilhante e pontual artigo do filósofo Márcio Alexandre da Silva sobre o comportamento lastimável do vereador petista José Aparecido Fernandes durante sessão da Câmara de Vereadores de Assis.
Da tribuna da Câmara, rasgou um exemplar do “Jornal de Assis” de que constava uma matéria sobre doação de computadores à associação de produtores rurais. O comportamento deplorável, justificou o vereador, se devia ao fato de que ele, o vereador, não aparecera na foto da doação.
O filósofo discorreu didaticamente sobre a utilidade da tribuna da Câmara Municipal de qualquer cidade: propor soluções e fazer reclamações em defesa da coletividade. Que interesse possuiria a coletividade em ver a foto do vereador no J.A. ou em qualquer outro periódico?
Quando um representante eleito democraticamente pelo povo usa da tribuna da Câmara de Vereadores para falar de interesses próprios, acontece uma confusão entre público e privado. Quando a confusão acontece, despencamos nas anomalias mencionadas pelo filósofo Bobbio em “Estado Governo Sociedade”.
O Brasil é um país democrático. Tão democrático que as atitudes estranhas ao bom senso, à democracia, à pluralidade e às liberdades são tomadas por engraçadas. Comportamento idêntico de um vereador em grande parte das cidades da Holanda constituiria pressuposto para vetar manifestações futuras. Na França, seria cassado por falta de decoro, de conflito ético e de atentar contra os princípios elementares da Democracia. Em Cuba (por quem Lula mantém admiração pública) ou na China (recentemente reconhecida pelo Brasil como economia de mercado), seria fuzilado.
Vivemos em um país de princípios e práticas democráticas. Princípios e práticas democráticas são os bons alicerces do “Jornal de Assis”. Um Jornal plural, cosmopolita, eclético. Um jornal democrático pelo qual passam socialistas e capitalistas, liberais e conservadores, tucanos e petistas, acadêmicos, empresários, professores, alunos, sindicalistas, pessoas do povo.
Tão eclético e democrático que, neste mesmo espaço em que ora escrevo, católicos, protestantes e espíritas divulgam harmoniosa e respeitosamente suas doutrinas.
O comportamento equivocado do vereador pode decorrer de dois problemas: intolerância e desequilíbrio.
Cenas de intolerância estão largamente registradas pela História. Durante a Idade Média a Inquisição queimou milhares de pessoas vivas e de livros em gestos de intolerância. Séculos mais tarde, os nazistas marcharam sobre a Europa também queimando milhares de pessoas vivas e de livros em semelhante gesto de intolerância. Tudo isso porque inquisidores e nazistas não aceitavam pessoas que pensassem de maneira diferente.
Entretanto, deduzo que o vereador não quisesse manifestar intolerância, mas desequilíbrio. Vida agitada, problemas diários, cobranças de todos os lados nos fazem perder o equilíbrio. Assim, desequilibrado subira à tribuna. Desequilibrado protagonizara gestos dignos de pena.
O que é mais importante: a boa ação ou quem pratica a boa ação? A obra ou o criador? Afinal, o texto bíblico não recomenda que a mão esquerda não saiba para quem a direita fez o benefício? Por que o vereador deveria aparecer na foto? Até onde imagine, as fotos da doação dos computadores assim como o nome da entidade que recebeu os aparelhos são muito mais importantes do que o nome do vereador!
Sinceramente espero que a atitude do vereador não tenha sido uma manifestação de intolerância, mas um momento de desequilíbrio pelo qual qualquer um pode passar.
Se foi realmente um momento de desequilíbrio, cabe ao vereador, como sabiamente apontou o filósofo Márcio A. da Silva no artigo “Indignação”, pedir desculpas publicamente não apenas ao “Jornal de Assis” – símbolo de Democracia –, mas principalmente ao fotógrafo Ricardo Amaro que, desempenhando correta e competentemente seu ofício, sofreu uma agressão desnecessária.
Pedir desculpas não é sinônimo de fraqueza. Pedir desculpas significa reconhecer os excessos cometidos indevidamente, praticar a serenidade e mostrar que, apesar de nossos problemas, temos humildade para promover o diálogo, base da humanidade.
Procure em seu partido nomes como Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Plínio de Arruda Sampaio e Hélio Bicudo, que lutaram pelas liberdades (entre elas a de imprensa), pelo respeito à pessoa humana, pela Democracia e pela pluralidade. Inspire-se neles!
Se julgar que só trato do passado, asseguro que nomes atuais, entre eles o Senador Eduardo Suplicy e o Ministro da Justiça Tarso Genro, também lutam pelos mesmos ideais dos intelectuais do parágrafo anterior.
Se o vereador pedir desculpas publicamente tanto ao “Jornal de Assis” quanto ao fotógrafo, com quem me solidarizo plenamente, demonstra o reconhecimento do excesso cometido e se reconcilia com o espírito democrático.
Se a recusa tiver mais força, persistindo no erro lamentável, só se pode encarar essa atitude como um ato de intolerância. Se todos os que doaram e receberam as doações são iguais, por que o vereador deveria sair em destaque na foto se ele não é melhor nem pior do que ninguém, mas igual a todos os outros?
Por fim, o comportamento inadequado em usar da tribuna da Câmara de Vereadores de Assis para brigar por um interesse pessoal (que em nada altera, atinge ou interfere na coletividade) leva-me à pergunta: O discurso do vereador constituiria ou não uma manifestação de caráter absolutamente eleitoreiro?
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 11 de novembro de 2008.
Da tribuna da Câmara, rasgou um exemplar do “Jornal de Assis” de que constava uma matéria sobre doação de computadores à associação de produtores rurais. O comportamento deplorável, justificou o vereador, se devia ao fato de que ele, o vereador, não aparecera na foto da doação.
O filósofo discorreu didaticamente sobre a utilidade da tribuna da Câmara Municipal de qualquer cidade: propor soluções e fazer reclamações em defesa da coletividade. Que interesse possuiria a coletividade em ver a foto do vereador no J.A. ou em qualquer outro periódico?
Quando um representante eleito democraticamente pelo povo usa da tribuna da Câmara de Vereadores para falar de interesses próprios, acontece uma confusão entre público e privado. Quando a confusão acontece, despencamos nas anomalias mencionadas pelo filósofo Bobbio em “Estado Governo Sociedade”.
O Brasil é um país democrático. Tão democrático que as atitudes estranhas ao bom senso, à democracia, à pluralidade e às liberdades são tomadas por engraçadas. Comportamento idêntico de um vereador em grande parte das cidades da Holanda constituiria pressuposto para vetar manifestações futuras. Na França, seria cassado por falta de decoro, de conflito ético e de atentar contra os princípios elementares da Democracia. Em Cuba (por quem Lula mantém admiração pública) ou na China (recentemente reconhecida pelo Brasil como economia de mercado), seria fuzilado.
Vivemos em um país de princípios e práticas democráticas. Princípios e práticas democráticas são os bons alicerces do “Jornal de Assis”. Um Jornal plural, cosmopolita, eclético. Um jornal democrático pelo qual passam socialistas e capitalistas, liberais e conservadores, tucanos e petistas, acadêmicos, empresários, professores, alunos, sindicalistas, pessoas do povo.
Tão eclético e democrático que, neste mesmo espaço em que ora escrevo, católicos, protestantes e espíritas divulgam harmoniosa e respeitosamente suas doutrinas.
O comportamento equivocado do vereador pode decorrer de dois problemas: intolerância e desequilíbrio.
Cenas de intolerância estão largamente registradas pela História. Durante a Idade Média a Inquisição queimou milhares de pessoas vivas e de livros em gestos de intolerância. Séculos mais tarde, os nazistas marcharam sobre a Europa também queimando milhares de pessoas vivas e de livros em semelhante gesto de intolerância. Tudo isso porque inquisidores e nazistas não aceitavam pessoas que pensassem de maneira diferente.
Entretanto, deduzo que o vereador não quisesse manifestar intolerância, mas desequilíbrio. Vida agitada, problemas diários, cobranças de todos os lados nos fazem perder o equilíbrio. Assim, desequilibrado subira à tribuna. Desequilibrado protagonizara gestos dignos de pena.
O que é mais importante: a boa ação ou quem pratica a boa ação? A obra ou o criador? Afinal, o texto bíblico não recomenda que a mão esquerda não saiba para quem a direita fez o benefício? Por que o vereador deveria aparecer na foto? Até onde imagine, as fotos da doação dos computadores assim como o nome da entidade que recebeu os aparelhos são muito mais importantes do que o nome do vereador!
Sinceramente espero que a atitude do vereador não tenha sido uma manifestação de intolerância, mas um momento de desequilíbrio pelo qual qualquer um pode passar.
Se foi realmente um momento de desequilíbrio, cabe ao vereador, como sabiamente apontou o filósofo Márcio A. da Silva no artigo “Indignação”, pedir desculpas publicamente não apenas ao “Jornal de Assis” – símbolo de Democracia –, mas principalmente ao fotógrafo Ricardo Amaro que, desempenhando correta e competentemente seu ofício, sofreu uma agressão desnecessária.
Pedir desculpas não é sinônimo de fraqueza. Pedir desculpas significa reconhecer os excessos cometidos indevidamente, praticar a serenidade e mostrar que, apesar de nossos problemas, temos humildade para promover o diálogo, base da humanidade.
Procure em seu partido nomes como Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Plínio de Arruda Sampaio e Hélio Bicudo, que lutaram pelas liberdades (entre elas a de imprensa), pelo respeito à pessoa humana, pela Democracia e pela pluralidade. Inspire-se neles!
Se julgar que só trato do passado, asseguro que nomes atuais, entre eles o Senador Eduardo Suplicy e o Ministro da Justiça Tarso Genro, também lutam pelos mesmos ideais dos intelectuais do parágrafo anterior.
Se o vereador pedir desculpas publicamente tanto ao “Jornal de Assis” quanto ao fotógrafo, com quem me solidarizo plenamente, demonstra o reconhecimento do excesso cometido e se reconcilia com o espírito democrático.
Se a recusa tiver mais força, persistindo no erro lamentável, só se pode encarar essa atitude como um ato de intolerância. Se todos os que doaram e receberam as doações são iguais, por que o vereador deveria sair em destaque na foto se ele não é melhor nem pior do que ninguém, mas igual a todos os outros?
Por fim, o comportamento inadequado em usar da tribuna da Câmara de Vereadores de Assis para brigar por um interesse pessoal (que em nada altera, atinge ou interfere na coletividade) leva-me à pergunta: O discurso do vereador constituiria ou não uma manifestação de caráter absolutamente eleitoreiro?
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 11 de novembro de 2008.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Um outro dia
Aconteceu de passar um dia intolerável, patológico e medonho.
Acordou de uma madorna conturbada, abriu a cabeça, espichou os ouvidos e perdeu o sentido da vida quando não mais testemunhou a gritaria de dois pássaros verdes num poste de estrutura lamentável.
Nesse dia, soube que acordaria nos dias seguintes de idêntica maneira, menos intolerável, igualmente patológica, mais medonha.
Acordou de uma madorna conturbada, abriu a cabeça, espichou os ouvidos e perdeu o sentido da vida quando não mais testemunhou a gritaria de dois pássaros verdes num poste de estrutura lamentável.
Nesse dia, soube que acordaria nos dias seguintes de idêntica maneira, menos intolerável, igualmente patológica, mais medonha.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Doar sangue
Mais uma vez rompendo a promessa de que chegaria cedo à sala de meu orientador, fui doar sangue para uma emergência.
Conheço a garota há uns dez anos, mas nos últimos seis ou sete não tive mais contato com ela. Já a revi praticamente adulta. Morando sozinha numa cidade do interior do Paraná, estudando de manhã e trabalhando à noite.
O pai dela me disse que ela precisaria de sangue urgentemente. Não é brincadeira.
O engraçado é que, embora não seja a primeira vez que doe sangue, passei a tarde inteira mal, levantei há pouco e ainda estou com dor de cabeça e com pressão baixa.
Nada que um bom descanso não resolva!
Amanhã encontro meu grande orientador, levo-lhe o trabalho, que terminarei de dar uns pontos e recomeço para mais uma semana.
Vamos doar sangue?
Conheço a garota há uns dez anos, mas nos últimos seis ou sete não tive mais contato com ela. Já a revi praticamente adulta. Morando sozinha numa cidade do interior do Paraná, estudando de manhã e trabalhando à noite.
O pai dela me disse que ela precisaria de sangue urgentemente. Não é brincadeira.
O engraçado é que, embora não seja a primeira vez que doe sangue, passei a tarde inteira mal, levantei há pouco e ainda estou com dor de cabeça e com pressão baixa.
Nada que um bom descanso não resolva!
Amanhã encontro meu grande orientador, levo-lhe o trabalho, que terminarei de dar uns pontos e recomeço para mais uma semana.
Vamos doar sangue?
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
O contrário brasileiro
Acabo de ler a notícia de que o delegado que prendeu o banqueiro Daniel Dantas e vários outros envolvidos em crimes pesados será indiciado por cometer cinco crimes. É mole?
Em quantos outros países as ações corretas são interpretadas contrariamente? Até onde se saiba, quem deveria ser indiciado e responder por crimes seria o banqueiro e seus companheiros, entretanto, quem tanto batalhou para colocar os criminosos na cadeia se transforma em criminoso. Quem sabe se o delegado da polícia federal não teria mais êxito se tivesse cometido efetivamente algum crime? Uma hora destas estaria livre, serelepe, tranquilo.
***
Em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, um dos locutores afirmava que precisava corromper os delegados federais e os juízes de primeira instância, porque, ao chegarem aos tribunais superiores, não encontraria dificuldades.
Será que ele tinha razão?
Primeiro o ministro Gilmar Medes desdobrou-se para colocar na rua, duas vezes seguidas e em menos de setenta e duas horas, o banqueiro Daniel Dantas e Cia. LTDA.
Agora, quase todo o Supremo Tribunal Federal, com exceção do ministro Marco Aurélio Melo, que se manifestou contrariamente, e o ministro Joaquim Barbosa, em missão oficial fora do país, votou pela liberdade do banqueiro.
Perguntas: o funcionário de Dantas tinha ou não tinha razão quando afirmou que nos tribunais superiores estava tudo garantido? Os ministros do STF conhecem Daniel Dantas? Que relações, diretas ou indiretas, mantêm com o banqueiro? Em que estão envolvidos, além das denúncias do comportamento macabro envolvendo dinheiro público recebido de uma empresa de educação vinculada ao poder público que presta serviços sem licitação?
Em quantos outros países as ações corretas são interpretadas contrariamente? Até onde se saiba, quem deveria ser indiciado e responder por crimes seria o banqueiro e seus companheiros, entretanto, quem tanto batalhou para colocar os criminosos na cadeia se transforma em criminoso. Quem sabe se o delegado da polícia federal não teria mais êxito se tivesse cometido efetivamente algum crime? Uma hora destas estaria livre, serelepe, tranquilo.
***
Em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, um dos locutores afirmava que precisava corromper os delegados federais e os juízes de primeira instância, porque, ao chegarem aos tribunais superiores, não encontraria dificuldades.
Será que ele tinha razão?
Primeiro o ministro Gilmar Medes desdobrou-se para colocar na rua, duas vezes seguidas e em menos de setenta e duas horas, o banqueiro Daniel Dantas e Cia. LTDA.
Agora, quase todo o Supremo Tribunal Federal, com exceção do ministro Marco Aurélio Melo, que se manifestou contrariamente, e o ministro Joaquim Barbosa, em missão oficial fora do país, votou pela liberdade do banqueiro.
Perguntas: o funcionário de Dantas tinha ou não tinha razão quando afirmou que nos tribunais superiores estava tudo garantido? Os ministros do STF conhecem Daniel Dantas? Que relações, diretas ou indiretas, mantêm com o banqueiro? Em que estão envolvidos, além das denúncias do comportamento macabro envolvendo dinheiro público recebido de uma empresa de educação vinculada ao poder público que presta serviços sem licitação?
sábado, 8 de novembro de 2008
Concursos Literários
Um conhecido pergunta-me se Cristovão Tezza, o escritor curitibano recentemente banhando com uma catarata de prêmios literários importantes, não é realmente um bom escritor. Hoje, pode ser. Amanhã, quem sabe?
Como diria Maquiavel, tudo depende da virtù e da fortuna, entendendo-se esses dois termos respectivamente por qualidade e sorte. A qualidade necessária para concorrer aos prêmios literários recebidos pelo escritor paranaense era publicar um livro. Ele o publicou. Todo o resto contou com a sorte de, em algum momento bom, os jurados se encantarem com seu romance.
Em todo caso, a todos nós que nos aventuramos pelos caminhos das letras, restam-nos os conselhos de escritores premiados como Luiz Antônio de Assis Brasil reunidos aqui.
Por fim, grandes escritores morreram sem reconhecimento e depois de anos foram festejados. Victor Hugo teve sua entrada na Academia Francesa de Letras vetada. Mário Quintana foi recusado três vezes na nossa. Por que Érico Veríssimo nunca se candidatou a uma vaga?
Como diria Maquiavel, tudo depende da virtù e da fortuna, entendendo-se esses dois termos respectivamente por qualidade e sorte. A qualidade necessária para concorrer aos prêmios literários recebidos pelo escritor paranaense era publicar um livro. Ele o publicou. Todo o resto contou com a sorte de, em algum momento bom, os jurados se encantarem com seu romance.
Em todo caso, a todos nós que nos aventuramos pelos caminhos das letras, restam-nos os conselhos de escritores premiados como Luiz Antônio de Assis Brasil reunidos aqui.
Por fim, grandes escritores morreram sem reconhecimento e depois de anos foram festejados. Victor Hugo teve sua entrada na Academia Francesa de Letras vetada. Mário Quintana foi recusado três vezes na nossa. Por que Érico Veríssimo nunca se candidatou a uma vaga?
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Choro incompreendido
Os amigos não compreenderam bem por que a esposa do chefe chorava tanto pelo defunto. Que fora seu funcionário nos últimos cinco anos e geralmente atendia aos pedidos da patroa, todos sabiam. O que ninguém sabia, provavelmente tomando ciência do fato apenas naquele dia, é que o funcionário atendia corajosamente a todos os pedidos da patroa de setenta e cinco anos.
O choro representava mais que uma lástima.
O choro representava mais que uma lástima.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Depois do dia de finados
Ainda não sabia o que faria naquele dia tão esperado pelos amigos, colegas, conhecidos e vizinhos. Para lá se mudara há pouco tempo.
O comentário de um dia de folga e de liberdade não despertou interesse de modo que, no dia exato, saiu para passear para cima e para baixo e, como não tivesse muito o que fazer, nem comemorar, nem compartilhar com antigos confidentes, resolveu voltar e sentar-se no telhado da casa.
Ali ficou o resto do dia e, quando finalmente teve uma idéia do que poderia fazer, o toque de recolher soou. Entrou, acomodou-se, agora esperando ansiosamente a saída do próximo ano. No dia seguinte, um dos mais de trezentos e sessenta.
O comentário de um dia de folga e de liberdade não despertou interesse de modo que, no dia exato, saiu para passear para cima e para baixo e, como não tivesse muito o que fazer, nem comemorar, nem compartilhar com antigos confidentes, resolveu voltar e sentar-se no telhado da casa.
Ali ficou o resto do dia e, quando finalmente teve uma idéia do que poderia fazer, o toque de recolher soou. Entrou, acomodou-se, agora esperando ansiosamente a saída do próximo ano. No dia seguinte, um dos mais de trezentos e sessenta.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
O melhor livro
Recebi recentemente uma mensagem eletrônica pontual e econômica: qual o melhor livro?
Imagino que o melhor livro seja aquele ao qual sempre recorremos de tempos em tempos, em busca de uma nova leitura que desemboca numa novidade. Como se nunca tivéssemos lido o livro a ponto de entender melhor o que acontece nele. Como se as situações vistas agora nunca estivesse lá. Esse o melhor livro.
Imagino que o melhor livro seja aquele ao qual sempre recorremos de tempos em tempos, em busca de uma nova leitura que desemboca numa novidade. Como se nunca tivéssemos lido o livro a ponto de entender melhor o que acontece nele. Como se as situações vistas agora nunca estivesse lá. Esse o melhor livro.
domingo, 26 de outubro de 2008
Repetição política
Os resultados do segundo turno promovido em algumas capitais e em algumas grandes cidades brasileiras demonstram que os artifícios usados tanto na trasição monárquico-republicana quanto na transição autoritária-democrática dos anos 1980 ainda são válidos em tempos considerados plenamente democráticos.
A ascensção de alguns partidos políticos, outrora hostilizados e evitados, comprova simplesmente que o eleitor não evoluiu ou adquiriu maior criticidade em sua visão política, mas que os partidos ditos de esquerda recorrem aos mesmos expedientes contra os quais tanto bradaram.
Mudanças? Sim. De dinheiro e de poder das mãos de um grupo para outro grupo. Nem mais nem menos.
A ascensção de alguns partidos políticos, outrora hostilizados e evitados, comprova simplesmente que o eleitor não evoluiu ou adquiriu maior criticidade em sua visão política, mas que os partidos ditos de esquerda recorrem aos mesmos expedientes contra os quais tanto bradaram.
Mudanças? Sim. De dinheiro e de poder das mãos de um grupo para outro grupo. Nem mais nem menos.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
NInguém mais poderia...
NInguém mais poderia escrever-lhe uma carta de amor. Ela. Apenas ela. Por isso tomou uma caneta azul que exalava olores de flores silvestres, escolheu uma folha de um antigo caderno universitário, deitou-se sobre o tapete na sala e apoiando a caneta sobre a folha jogada no chão fresco redigiu aquilo que seria sua última manifestação de afeto, de carinho, de socorro.
sábado, 18 de outubro de 2008
Fim de semana
Passava a semana inteira orando ao seu Deus quase todo poderoso. Pedia pouco: chegasse rapidamente o fim de semana e, de maneira inversamente proporcional, o fim de semana durasse um mês. Deus quase todo poderoso porque se realmente fosse poderoso, pensava ela trancada no banheiro do trabalho durante a hora do almoço e nos horários de confraternização, não a deixaria envergonhada, humilhada.
O líder de sua igreja recitou um versículo bíblico no qual ressaltava a exaltação dos humilhados. Por algum tempo creu naquelas palavras. Depois, entrou em dúvidas de se realmente mudaria alguma coisa na vida divina e eterna.
O líder de sua igreja recitou um versículo bíblico no qual ressaltava a exaltação dos humilhados. Por algum tempo creu naquelas palavras. Depois, entrou em dúvidas de se realmente mudaria alguma coisa na vida divina e eterna.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Iniciativa
Li ontem no Jornal de Assis uma interessante reportagem sobre um grupo. O nome do grupo é "Fábrica da Leitura". Entre outras, sua finalidade consiste na divulgação e no incentivo à leitura. A matéria ainda informa de suas atividades inciais praticadas entre os participantes da Legião Mirim, entidade que fica em Assis.
Na edição desta quinta-feira, um artigo de Eduardo Reis, coordenador da Fábrica da Leitura, alerta sobre as imposições absurdas de alguns "educadores". Em seu texto curto, porém de impactante teor alegórico, Eduardo Reis mostra como devemos incentivar as crianças: não com choques, mas com flores. Afinal, a boa leitura não é um deleite floril ou, em outra hipótese, uma sala infinita repleta de brinquedos variados? Como diria Paulo Freire, em seu famigerado "Pedagogia da autonomia", mencionados por Eduardo Reis, ao educador a incumbência de criar. De criar sempre.
Na edição desta quinta-feira, um artigo de Eduardo Reis, coordenador da Fábrica da Leitura, alerta sobre as imposições absurdas de alguns "educadores". Em seu texto curto, porém de impactante teor alegórico, Eduardo Reis mostra como devemos incentivar as crianças: não com choques, mas com flores. Afinal, a boa leitura não é um deleite floril ou, em outra hipótese, uma sala infinita repleta de brinquedos variados? Como diria Paulo Freire, em seu famigerado "Pedagogia da autonomia", mencionados por Eduardo Reis, ao educador a incumbência de criar. De criar sempre.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Começar a semana
Muitas as maneiras de começar uma semana, mas nenhum começo é válido sem Frank Sinatra, sem o abraço da mulher amada e sem a previsão de percalços que teremos durante ela.
sábado, 11 de outubro de 2008
Mudanças
As mudanças são válidas na medida em que efetivamente representam mudanças. Se elas se restringirem ao uso excessivo do léxico, perdem seu valor e enveredam pelo caminho da retórica vazia.
Assim como as promessas de início de ano: de tanto falarmos que faremos isso, deixaremos de praticar aquilo, deixamos tudo do mesmo jeito. As mudanças não passam de uma figura retórica. Figura à qual todos parecemos presos e da qual não pretendemos nos afastar.
Afinal, quem quer mudar?
Assim como as promessas de início de ano: de tanto falarmos que faremos isso, deixaremos de praticar aquilo, deixamos tudo do mesmo jeito. As mudanças não passam de uma figura retórica. Figura à qual todos parecemos presos e da qual não pretendemos nos afastar.
Afinal, quem quer mudar?
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
dois pesos e duas medidas
Imagino que uma das mais inexeplicáveis e ao mesmo tempo interessantes ações é a vontade política. Dela se espera tudo. O que não se consegue efetivamente entender é como prefeitos candidatos a reeleição obtêm êxito se usam dois pesos e duas medidas. Como o eleitor não consegue distinguir um administrador que trabalha pela cidade e outro que apenas a joga na boca do lixo?
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Quem nos lê?
Imagino que um dos prinicipais problemas do escritor sejam seus leitores. Alguns são engraçados, outros revoltados, entediantes, agressivos, moralistas, intelectuais, arredios às leituras mais complexas e mais longas... São tantos os tipos!
Mas pior do que exemplares diversificados de leitores, é a falta de leitor. Talvez porque geralmente o leitor não comunique, mantenha-se silencioso, cresce uma angústia com a possibilidade de não sermos lidos. Tudo bobagem. De um lado ou de outro sempre aparece alguém que diz, em nossa angústia de escritor iniciante, que leu a crônica ou o conto, que discorda da crítica, que detestou a temática e o desenvolvimento de alguma criação. Ainda bem que existem os leitores. Mesmo quando não se manifestam. Obrigado a todos que me lêem.
Mas pior do que exemplares diversificados de leitores, é a falta de leitor. Talvez porque geralmente o leitor não comunique, mantenha-se silencioso, cresce uma angústia com a possibilidade de não sermos lidos. Tudo bobagem. De um lado ou de outro sempre aparece alguém que diz, em nossa angústia de escritor iniciante, que leu a crônica ou o conto, que discorda da crítica, que detestou a temática e o desenvolvimento de alguma criação. Ainda bem que existem os leitores. Mesmo quando não se manifestam. Obrigado a todos que me lêem.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Eis a questão
Um senhor, na fila interminável do supermercado, puxa conversa e pergunta qual minha opinião sobre humildade.
Quando não temos leituras aprofundadas de certos conceitos, nossa reação imediata é dar uma resposta simplista e que caia no maniqueismo. Ou pela leitura de humildade que se pode ter, ou por um intenso testemunho empírico em torno do assunto, perdi-me completamente a ponto de, depois de esperar e de me ver gaguejar, o senhor entreter-se com um jogo de futebol de salão transmitido por um TV à entrada do estabelecimento.
Quem tem humildade?
Quando não temos leituras aprofundadas de certos conceitos, nossa reação imediata é dar uma resposta simplista e que caia no maniqueismo. Ou pela leitura de humildade que se pode ter, ou por um intenso testemunho empírico em torno do assunto, perdi-me completamente a ponto de, depois de esperar e de me ver gaguejar, o senhor entreter-se com um jogo de futebol de salão transmitido por um TV à entrada do estabelecimento.
Quem tem humildade?
sábado, 4 de outubro de 2008
Questão de acreditar
Acreditar e possuir fé são dois termos certamente distintos que, em algumas situações, se complementam. Quem tem fé sempre acredita em algo ou em alguma coisa, mas nem sempre quem acredita tem necessariamente fé em alguma coisa.
De modo que, ao sair do país para disputar prêmios internacionais, o Brasil não apenas trabalha em torno de um nome que será inscrito no quadro dos vencedores, mas se empenha principalmente em ser reconhecido como uma nação capaz de produzir bons escritores, bons músicos, bons documentaristas, bons cineastas, bons atores, bons atletas...
Quando um brasileiro rompe os limites geográficos e se compromete a romper os limites exteriores, deixamos de acreditar no indivíduo para ter fé em alguém que, de alguma maneira, nos leva ao ápice. Não é questão de dinheiro, de fama ou de honraria. É questão de felicidade. Pura e simples felicidade de constatar que somos tão bons ou iguais aos outros milhares de competidores mundiais.
De modo que, ao sair do país para disputar prêmios internacionais, o Brasil não apenas trabalha em torno de um nome que será inscrito no quadro dos vencedores, mas se empenha principalmente em ser reconhecido como uma nação capaz de produzir bons escritores, bons músicos, bons documentaristas, bons cineastas, bons atores, bons atletas...
Quando um brasileiro rompe os limites geográficos e se compromete a romper os limites exteriores, deixamos de acreditar no indivíduo para ter fé em alguém que, de alguma maneira, nos leva ao ápice. Não é questão de dinheiro, de fama ou de honraria. É questão de felicidade. Pura e simples felicidade de constatar que somos tão bons ou iguais aos outros milhares de competidores mundiais.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Escolhas
Nem sempre as escolhas que fazemos são as mais acertadas.
O erro não está em escolher incorretamente, mas em não despertar em tempo de corrigir o ato falho. Além de corrigir o ato falho, é necessária a coragem de enfrentar os pequenos obstáculos que se põem.
Será que enfrentei meus medos de hoje?
O erro não está em escolher incorretamente, mas em não despertar em tempo de corrigir o ato falho. Além de corrigir o ato falho, é necessária a coragem de enfrentar os pequenos obstáculos que se põem.
Será que enfrentei meus medos de hoje?
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Esperança
Ouvia a conversa de duas senhoras na fila do supermercado. Uma delas aconselhava a outra a ter paciência. A esperança curava qualquer problema no momento da solução. Obviamente, acredito eu. No momento da solução, qualquer esperança se reforça ou se dilacera, produz alegrias ou sofrimentos. Não?
A única diferença é que, para uns, a esperança integra o cotidiano. Para outros, não passa de quimera. Mas no fim, talvez pelo medo, provavelmente pela insegurança, a esperança se transforma em algo essencial para a vida de todos. Não?
A única diferença é que, para uns, a esperança integra o cotidiano. Para outros, não passa de quimera. Mas no fim, talvez pelo medo, provavelmente pela insegurança, a esperança se transforma em algo essencial para a vida de todos. Não?
domingo, 21 de setembro de 2008
Das virtudes do fim de semana
Ainda não descobriram uma maneira prática de passar a vida inteira sem se preocupar, mas o filósofo Epicuro afirmava que uma das maneiras de bem aproveitar a vida passava pelo convívio agradável entre amigos.
Num fim de semana chuvoso como este, frios de julho em início de primavera, os amigos são realmente uma maneira de passar o tempo. Uma maneira agradável, diga-se de passagem.
Amigos que vão, amigos que vêm, amigos que se distanciam em função dos objetivos em comum que desaparecem, amigos que se aproximam em decorrência de situação semelhante em que se encontram, amigos que ouvem, amigos falantes - mas não necessariamente extrovertidos, como é o meu caso, uns econômicos, outros prógidos, alguns ranzizas, todos predominantemente felizes.
Enfim, amigos.
Num fim de semana chuvoso como este, frios de julho em início de primavera, os amigos são realmente uma maneira de passar o tempo. Uma maneira agradável, diga-se de passagem.
Amigos que vão, amigos que vêm, amigos que se distanciam em função dos objetivos em comum que desaparecem, amigos que se aproximam em decorrência de situação semelhante em que se encontram, amigos que ouvem, amigos falantes - mas não necessariamente extrovertidos, como é o meu caso, uns econômicos, outros prógidos, alguns ranzizas, todos predominantemente felizes.
Enfim, amigos.
sábado, 20 de setembro de 2008
O que fazer numa chuvosa tarde de sábado?
Saí de casa e vim para um lugar onde as pessoas não pudessem me encontrar e os telefones fossem objetos distantes da realidade. Ainda bem que consegui.
Acordei cedo, escrevi mais uma dezena de páginas para a dissertação que serão revistas amanhã e indiscutivelmente sofrerão cortes. Quanto mais escrevemos mais temos a impressão de que não conribuimos em nada com nossa escrita.
Um moça de roupa de frio pergunta a outra o que fazer numa chuvosa tarde de sábado. Que tal assistir a um filme, comer massa e chocolate, beber um vinho trincante, ler algum romance suave ou crônicas frugais? São tantas coisas para se fazer numa tarde chuvosa de sábado...
Acordei cedo, escrevi mais uma dezena de páginas para a dissertação que serão revistas amanhã e indiscutivelmente sofrerão cortes. Quanto mais escrevemos mais temos a impressão de que não conribuimos em nada com nossa escrita.
Um moça de roupa de frio pergunta a outra o que fazer numa chuvosa tarde de sábado. Que tal assistir a um filme, comer massa e chocolate, beber um vinho trincante, ler algum romance suave ou crônicas frugais? São tantas coisas para se fazer numa tarde chuvosa de sábado...
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Jornal de Assis - 1000
O Jornal de Assis, periódico da região de Assis, interior de São Paulo, chega ao número mil e quem recebe presentes pelo alcance do número é o leitor. A partir de hoje, os leitores do Jornal poderão desfrutar de uma inovação gráfica que alia estética atraente e leveza na disposição do espaço interno, promovendo uma leitura mais suave e agradável, sem enfadar o leitor.
Esse é mais um passo que conduz o Jornal de Assis ao patamar dos veículos de comunicação escrita preocupados tanto com a imparcialidade, a verdade e o profissionalismo quanto com quem lê o jornal.
Parabéns Jornal de Assis!
Esse é mais um passo que conduz o Jornal de Assis ao patamar dos veículos de comunicação escrita preocupados tanto com a imparcialidade, a verdade e o profissionalismo quanto com quem lê o jornal.
Parabéns Jornal de Assis!
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Quem frequenta a USP?
Como falei na última postagem, passei a semana passada na cidade de São Paulo, participando de um congresso na USP.
Durante os poucos dias em que estive no campus, percebi que aquela instituição de ensino é realmente uma universidade de elite. Sim, de elite financeira.
Fiquei hospedado na casa do meu primo, que fica na zona leste. Para chegar a USP tive de enfrentar três horas de transporte (dois ônibus e um metrô). Gastei dez reais para chegar e, depois, mais dez reais para voltar.
Se um aluno tiver que estudar lá, terá de gastar vinte reais por dia, cem reais por semana, quatrocentos reais por mês. Só de passagem! Quem dispõe de quatrocentos reais mensais para gastar apenas em transporte? Quem se aventura em sair do trabalho direto para uma faculdade para a qual os ônibus e metrô partem lotados, sendo praticamente impossível subir neles em alguns pontos?
Durante os poucos dias em que estive no campus, percebi que aquela instituição de ensino é realmente uma universidade de elite. Sim, de elite financeira.
Fiquei hospedado na casa do meu primo, que fica na zona leste. Para chegar a USP tive de enfrentar três horas de transporte (dois ônibus e um metrô). Gastei dez reais para chegar e, depois, mais dez reais para voltar.
Se um aluno tiver que estudar lá, terá de gastar vinte reais por dia, cem reais por semana, quatrocentos reais por mês. Só de passagem! Quem dispõe de quatrocentos reais mensais para gastar apenas em transporte? Quem se aventura em sair do trabalho direto para uma faculdade para a qual os ônibus e metrô partem lotados, sendo praticamente impossível subir neles em alguns pontos?
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Uma semana depois...
Na última postagem fiz algumas considerações sobre Clóvis Bevilaqua, meu objeto de estudo na dissertação de mestrado. Fazer História - assim como fazer Filosofia, Literatura ou Direito - exige fôlego para reunir os elementos do campo historiográfico que, sem dúvida, não são fáceis de colocar no mesmo lugar.
Ontem fiz a apresentação de minha comunicação de pesquisa no encontro da seção paulista da ANPUH (Associação Nacional de História). O encontro, realizado no departamento de História da Universidade de São Paulo, reuniu algumas centenas de historiadores não apenas paulistas. Do meu grupo de apresentação constava a famigerada historiadora Izabel Marzon que tratou de alguns vieses pouco estudados do Joaquim Nabuco.
Na volta para casa - trajeto de três horas de viagem entre a USP e o outro lado da cidade - afloraram entre os pensamentos os grandes nomes que ficaram retidos em pontos da vida por algum motivo e depois se eternizaram. O primeiro que veio foi o de Einstein, reconhecidamente fraco em matemática e em números durante a infância, tornou-se um dos mais brilhantes físicos do mundo.
Depois lembrei do Machado de Assis: quem diria que um homem sem diploma de bacharel, mulato, gago e aparentemente condenado ao anonimato subiria a escadaria literária? E Guimarães Rosa ou Clarice Lispector com suas prosas bem diferentes de todas as demais? Em muitos casos, Lispector foi acusada de hermética. Quando lembro desses casos iniciais, penso: O que é Literatura? Quem são efetivamente os "historiadores"? Finalmente, o que é História?
Muitos outros casos na Literatura podem ser citados - assim como na música, no cinema, no teatro. Quando mais uma vez lembro deles, lembro concomitantemente de um fragmento de Camões que diz qualquer coisa como "senão fosse para tanto, tão curta a vida".
Ontem fiz a apresentação de minha comunicação de pesquisa no encontro da seção paulista da ANPUH (Associação Nacional de História). O encontro, realizado no departamento de História da Universidade de São Paulo, reuniu algumas centenas de historiadores não apenas paulistas. Do meu grupo de apresentação constava a famigerada historiadora Izabel Marzon que tratou de alguns vieses pouco estudados do Joaquim Nabuco.
Na volta para casa - trajeto de três horas de viagem entre a USP e o outro lado da cidade - afloraram entre os pensamentos os grandes nomes que ficaram retidos em pontos da vida por algum motivo e depois se eternizaram. O primeiro que veio foi o de Einstein, reconhecidamente fraco em matemática e em números durante a infância, tornou-se um dos mais brilhantes físicos do mundo.
Depois lembrei do Machado de Assis: quem diria que um homem sem diploma de bacharel, mulato, gago e aparentemente condenado ao anonimato subiria a escadaria literária? E Guimarães Rosa ou Clarice Lispector com suas prosas bem diferentes de todas as demais? Em muitos casos, Lispector foi acusada de hermética. Quando lembro desses casos iniciais, penso: O que é Literatura? Quem são efetivamente os "historiadores"? Finalmente, o que é História?
Muitos outros casos na Literatura podem ser citados - assim como na música, no cinema, no teatro. Quando mais uma vez lembro deles, lembro concomitantemente de um fragmento de Camões que diz qualquer coisa como "senão fosse para tanto, tão curta a vida".
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Quem conhece Bevilaqua?
Se mencionado apenas o sobrenome, Bevilaqua pode despertar lembranças que vão desde um amigo com nome parecido em algum lugar do interior de São Paulo ou de um dos estados da região Sul até a descoberta de um personagem histórico. Importante ou não.
No meu caso especificamente, Bevilaqua (Clóvis Bevilaqua) é o nome de um jurista cearense que escreveu, entre outras obras, o primeiro Código Civil brasileiro.
Confesso que até meses atrás eu pensava que ele aparecia no cenário político e intelectual da transição monárquico-republicana apenas como um figurante - como figurantes somos todos nós que seremos engolidos pelo Esquecimento. Estava errado. Aos poucos, percebo que Bevilaqua - muito mais do que Rui Barbosa, por exemplo - colaborou no campo das idéias e da intelectualidade.
Será que Bevilaqua será retomado futuramente ou apenas eu o vejo como relevante no cenário historiográfico atual?
***
Por falar em cenário historiográfico, alguém já ouviu falar das confluências entre História e Literatura?
No meu caso especificamente, Bevilaqua (Clóvis Bevilaqua) é o nome de um jurista cearense que escreveu, entre outras obras, o primeiro Código Civil brasileiro.
Confesso que até meses atrás eu pensava que ele aparecia no cenário político e intelectual da transição monárquico-republicana apenas como um figurante - como figurantes somos todos nós que seremos engolidos pelo Esquecimento. Estava errado. Aos poucos, percebo que Bevilaqua - muito mais do que Rui Barbosa, por exemplo - colaborou no campo das idéias e da intelectualidade.
Será que Bevilaqua será retomado futuramente ou apenas eu o vejo como relevante no cenário historiográfico atual?
***
Por falar em cenário historiográfico, alguém já ouviu falar das confluências entre História e Literatura?
domingo, 24 de agosto de 2008
Receita para ser escritor?
Um dos leitores do blog pergunta se, seguindo os conselhos e as dicas dos escritores mais experientes, se pode chegar ao sucesso.
Desconheço se as orientações dos escritores veteranos possibilitam o sucesso e a "profissionalização" de todos nós, escritores iniciantes. Mas, para todos os efeitos, recortei os dez conselhos do Luiz Antônio de Assis Brasil, mandei plastificar e, sempre que possível, leio-os. Principalmente o terceiro que trata da leitura e da escrita habitual.
Outro escritor que figurou ao lado de Assis Brasil e que mora em Recife, cujo nome me falta à memória neste momento, acrescentou um ponto muito interessante: estudar. Estudar a Literatura, os escritores, suas obras, ler as críticas Literárias, a história da Literatura, a teoria da Literatura. Se nos pretendemos escritores completos, devemos procurar leituras completas e complexas, porém transmitidas a terceiros de maneira simples.
Quanto mais lermos e mais escrevermos, como aponta a terceira dica de Assis Brasil, mais chances temos de nos tornarmos claros, mas isso não implica necessariamente que teremos sucesso e que seremos convidados imediatamente para as próximas feiras literárias, mesas-redondas, simpósios, congressos ou bienais. Quem sabe se começarmos por pequenas livrarias, cursos comunitários, associações de moradores etc?
Fica, portanto, a idéia.
Desconheço se as orientações dos escritores veteranos possibilitam o sucesso e a "profissionalização" de todos nós, escritores iniciantes. Mas, para todos os efeitos, recortei os dez conselhos do Luiz Antônio de Assis Brasil, mandei plastificar e, sempre que possível, leio-os. Principalmente o terceiro que trata da leitura e da escrita habitual.
Outro escritor que figurou ao lado de Assis Brasil e que mora em Recife, cujo nome me falta à memória neste momento, acrescentou um ponto muito interessante: estudar. Estudar a Literatura, os escritores, suas obras, ler as críticas Literárias, a história da Literatura, a teoria da Literatura. Se nos pretendemos escritores completos, devemos procurar leituras completas e complexas, porém transmitidas a terceiros de maneira simples.
Quanto mais lermos e mais escrevermos, como aponta a terceira dica de Assis Brasil, mais chances temos de nos tornarmos claros, mas isso não implica necessariamente que teremos sucesso e que seremos convidados imediatamente para as próximas feiras literárias, mesas-redondas, simpósios, congressos ou bienais. Quem sabe se começarmos por pequenas livrarias, cursos comunitários, associações de moradores etc?
Fica, portanto, a idéia.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Dicas para ser escritor
O jornal literário Rascunho , periódico de abrangência nacional produzido em Curitiba, traz alguns conselhos de escritores veteranos para escritores iniciantes. Entre os escritores "conselheiros" figura o romancista gaúcho Luiz Antônio de Assis Brasil que, apesar de obra consistente e premiada e coordenador de uma oficina literária ministrada na PUC do Rio Grande, geralmente é esquecido em pesquisas tão importantes.
Dos sete escritores selecionados para descreverem um rito de descoberta da escrita de sucesso, todos os sete aconselharam a leitura cosmopolita e eclética, além, logicamente, da prática escrita.
Dos dez conselhos do Assis Brasil, transcrevo o terceiro:
"Ler, ler muito. Escrever, escrever muito. Todos os dias".
Bom, pelo menos a partir de agora vou recortar as dez dicas do Assis Brasil, colar na minha mesa e começar a ler mais do que leio e a escrever mais do escrevo.
Dos sete escritores selecionados para descreverem um rito de descoberta da escrita de sucesso, todos os sete aconselharam a leitura cosmopolita e eclética, além, logicamente, da prática escrita.
Dos dez conselhos do Assis Brasil, transcrevo o terceiro:
"Ler, ler muito. Escrever, escrever muito. Todos os dias".
Bom, pelo menos a partir de agora vou recortar as dez dicas do Assis Brasil, colar na minha mesa e começar a ler mais do que leio e a escrever mais do escrevo.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Mudanças
Imagino, mas ainda não tenho plena convicção, de que uma das maneiras mais práticas de mudar de opinião, de se sentir obrigado a analisar suas posições e aceitar as diferenças, mesmo quando não se concorde com elas, vêm da leitura.
A Literatura é uma grande fonte de reflexões e de mudanças. A filosofia, por sua vez, também não perde tempo e aqui trato rapidamente de uma descoberta.
Pouco tempo atrás achei que ninguém se igualaria ou chegaria perto da grandeza de Nietzsche, porém vejo que, no século XX, é bem difícil tratar dos acontecimentos nele transcorridos sem passar pela visão crítica e interessante do filósofo Bertrand Russell, cujos livros podem ser comprados nas melhores livrarias e, em alguns casos, diretamente na editora. A L&PM possui três livros de preços acessíveis, bem traduzidos e bem diagramados.
Depois da leitura de algum desses livros da L&PM, preferencialmente aquele que trata do cristianismo desde a capa, diga-me se a tentação de alçar Russell a uma das vagas de filósofos mais importantes não fica ao pé do ouvido, zunindo, falando, gritando?
Enquanto as leituras e confrontações entre Russell e outros filósofos mantêm-se distantes, vou escrevendo, reescrevendo, triescrevendo essa dissertação que nunca parece ter um fim...
A Literatura é uma grande fonte de reflexões e de mudanças. A filosofia, por sua vez, também não perde tempo e aqui trato rapidamente de uma descoberta.
Pouco tempo atrás achei que ninguém se igualaria ou chegaria perto da grandeza de Nietzsche, porém vejo que, no século XX, é bem difícil tratar dos acontecimentos nele transcorridos sem passar pela visão crítica e interessante do filósofo Bertrand Russell, cujos livros podem ser comprados nas melhores livrarias e, em alguns casos, diretamente na editora. A L&PM possui três livros de preços acessíveis, bem traduzidos e bem diagramados.
Depois da leitura de algum desses livros da L&PM, preferencialmente aquele que trata do cristianismo desde a capa, diga-me se a tentação de alçar Russell a uma das vagas de filósofos mais importantes não fica ao pé do ouvido, zunindo, falando, gritando?
Enquanto as leituras e confrontações entre Russell e outros filósofos mantêm-se distantes, vou escrevendo, reescrevendo, triescrevendo essa dissertação que nunca parece ter um fim...
sábado, 26 de julho de 2008
Se ler é difícil, escrever...
Confesso que escrever um texto, qualquer que seja - e agora estou escrevendo e reescrevendo minha dissertação de mestrado - não é fácil.
Algumas vezes a idéia está na cabeça. Pensamos nela a manhã inteira, a tarde inteira, a noite inteira, dormirmos e acordamos com ela, mas no momento em que vamos afixá-la num pedaço de papel ou num diagrama, as palavras não fluem, as frases perdem o sentido e a idéia, inicialmente excelente, perde consistência e entra no mar da tolice.
Outro dia conversei com um estudante de ensino médio. Prestaria um vestibular de inverno numa universidade pública paranaense cujo nome me escapa. A pergunta dele: "Como posso escrever bem?"
Enquanto eu pensava na resposta que iria dar, ele me interrompeu: "O professor de redação me deu uns 'macetes', mas eu queria mais outros..."
Perguntei: "Quantos livros você leu este ano?"
Acredito que não preciso descrever minha tranquilidade quando respondeu nenhum. Um jogador de futebol não entra em campo sem fazer musculação, aeróbica, treinamento tático e físico etc. Uma bailarina não assume um posto em uma peça importante caso não tenha treinado suficientemente assim como um médico não opera um coração sem estudo aprofundado e várias cirurgias simplesmente acompanhando e auxiliando um profissional mais experiente.
Sendo assim, por que todo mundo acha que escrever acontece recorrendo aos "macetes"? Por que as pessoas acreditam que ler é algo dispensável? Disse ao rapaz que procurasse uma pessoa que pudesse ajudá-lo. Afinal, não sou mágico nem Jesus Cristo.
Algumas vezes a idéia está na cabeça. Pensamos nela a manhã inteira, a tarde inteira, a noite inteira, dormirmos e acordamos com ela, mas no momento em que vamos afixá-la num pedaço de papel ou num diagrama, as palavras não fluem, as frases perdem o sentido e a idéia, inicialmente excelente, perde consistência e entra no mar da tolice.
Outro dia conversei com um estudante de ensino médio. Prestaria um vestibular de inverno numa universidade pública paranaense cujo nome me escapa. A pergunta dele: "Como posso escrever bem?"
Enquanto eu pensava na resposta que iria dar, ele me interrompeu: "O professor de redação me deu uns 'macetes', mas eu queria mais outros..."
Perguntei: "Quantos livros você leu este ano?"
Acredito que não preciso descrever minha tranquilidade quando respondeu nenhum. Um jogador de futebol não entra em campo sem fazer musculação, aeróbica, treinamento tático e físico etc. Uma bailarina não assume um posto em uma peça importante caso não tenha treinado suficientemente assim como um médico não opera um coração sem estudo aprofundado e várias cirurgias simplesmente acompanhando e auxiliando um profissional mais experiente.
Sendo assim, por que todo mundo acha que escrever acontece recorrendo aos "macetes"? Por que as pessoas acreditam que ler é algo dispensável? Disse ao rapaz que procurasse uma pessoa que pudesse ajudá-lo. Afinal, não sou mágico nem Jesus Cristo.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Frank Sinatra
Desde muito tempo ouvi falar de Frank Sinatra. Entre os que falam ou não inglês, impera o senso de que ele tem uma pronúncia clara, inteligível e agradável. Não estão certas essas pessoas que pensam dessa maneira?
Depois de Altemar Dutra, acredito que Frank Sinatra é o maior cantor que temos. Meses atrás comprei um disco dele em que estão reunidas músicas selecionadas. Desde a primeira vez que as ouvi, não sei por qual motivo, não consigo mais parar de escutá-las. É como se quisesse, de alguma maneira, aproveitar o tempo em que não as ouvia. Uma espécie de êxtase e de surpresa permanentes.
Algumas vezes fico imaginando que escritor teria a sensibilidade para transportar para a Literatura a magnificência de Sinatra na música, construindo a intertextualidade e a comunicação entre essas linguagens universais que são a Música e a Literatura. Alguns podem lembrar do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. Será que nos contos em que Literatura e Música conversam Caio alcança a magnificência musical?
Depois de Altemar Dutra, acredito que Frank Sinatra é o maior cantor que temos. Meses atrás comprei um disco dele em que estão reunidas músicas selecionadas. Desde a primeira vez que as ouvi, não sei por qual motivo, não consigo mais parar de escutá-las. É como se quisesse, de alguma maneira, aproveitar o tempo em que não as ouvia. Uma espécie de êxtase e de surpresa permanentes.
Algumas vezes fico imaginando que escritor teria a sensibilidade para transportar para a Literatura a magnificência de Sinatra na música, construindo a intertextualidade e a comunicação entre essas linguagens universais que são a Música e a Literatura. Alguns podem lembrar do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. Será que nos contos em que Literatura e Música conversam Caio alcança a magnificência musical?
terça-feira, 22 de julho de 2008
Associação dos Magistrados Brasileiros e as eleições municipais
A Associação dos Magistrados Brasileiros acaba de lançar uma considerável lista com os nomes dos candidatos às próximas eleições que estão com a "ficha suja".
De acordo com as páginas de agências de notícias, candidatos com "ficha suja" são aqueles que, entre outros processos, respondem por crimes e improbidade administrativa.
A iniciativa da AMB é um passo importante na medida em que divulga, exercendo de maneira cidadã e dentro dos limites constitucionais, os nomes dos candidatos enrolados com a justiça, abrindo a possibilidade para que novos nomes sejam inseridos.
Entre os indicados neste momento no site, Paulo Maluf sai em disparada na quantidade de processos.
Pena que os nomes de prefeitos do interior paulista não constem na lista. Quando teremos promotores públicos que vão exercer eficientemente suas funções e aumentarem, em decorrência de seu trabalho, os nomes de prefeitos envolvidos em caso obscuros na aplicação do dinheiro público? Quem pode esperar e confiar no Ministério Público? Quem confia na justiça e nos juízes brasileiros, com uma ou outra exceção?
De acordo com as páginas de agências de notícias, candidatos com "ficha suja" são aqueles que, entre outros processos, respondem por crimes e improbidade administrativa.
A iniciativa da AMB é um passo importante na medida em que divulga, exercendo de maneira cidadã e dentro dos limites constitucionais, os nomes dos candidatos enrolados com a justiça, abrindo a possibilidade para que novos nomes sejam inseridos.
Entre os indicados neste momento no site, Paulo Maluf sai em disparada na quantidade de processos.
Pena que os nomes de prefeitos do interior paulista não constem na lista. Quando teremos promotores públicos que vão exercer eficientemente suas funções e aumentarem, em decorrência de seu trabalho, os nomes de prefeitos envolvidos em caso obscuros na aplicação do dinheiro público? Quem pode esperar e confiar no Ministério Público? Quem confia na justiça e nos juízes brasileiros, com uma ou outra exceção?
Da condição feminina
Na maioria de crônicas e de contos que escrevo, tento desvendar a condição feminina. Afinal, qual a condição feminina?
sexta-feira, 18 de julho de 2008
A Literatura muda as pessoas?
Um leitor do "Jornal de Assis" enviou-me uma mensagem eletrônica perguntando se a Literatura muda as pessoas, tornando-as mais humanas e melhores.
Sinceramente eu não sei. Acredito que a Literatura possa mudar, mas ler Literatura não significa necessariamente que a pessoa vai se tornar melhor ou aprenderá novos conceitos ou se tornará mais humana.
A maioria dos dirigentes do estado nazista lia Literatura, sabia de cabeça fragmentos extensos de filósofos e trechos completos de música clássica. Nem por isso os nazistas respeitaram as diferenças entre povos, religiões, sociedades, costumes e hábitos.
O alemão Thomas Mann - não faço nenhuma associação dele ao nazismo - é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. No entanto, não são poucos os estudiosos que apontam uma distância entre ele e o filho assumidamente homossexual. A Literatura não deveria abrir as portas para o entendimento universal e a aceitação das diferenças?
Aqui no Brasil, dois importantes intelectuais que liam Literatura apoiaram movimentos autoritários na condução dos negócios do estado.
Filósofo e jurista internacionalmente reconhecido, professor da Universidade de São Paulo e reitor dela por duas vezes, professor de Literatura até mais ou menos quarenta anos de idade, membro da Academia Brasileira de Letras, documentos informam que Miguel Reale apoiou a ditadura militar praticada entre 1964 e 1985.
Matemático exímio, economista de renome mundial, professor da Fundação Getúlio Vargas, por onde doutorou-se, poliglota e amante de ópera, Mário Henrique Simonsen assumiu ministérios em mais de um governo da ditadura militar.
Miguel Reale e Mario Henrique Simonsen. Dois intelectuais de grande valor, literatos secretos, poliglotas, leitores profissionais, escritores. Apoiaram o regime militar. Um regime que torturou dezenas de pessoas, matou outras centenas, impediu a liberdade de imprensa e de manifestação. Um intelectual ou escritor poderia se opor à liberdade de expressão, de imprensa, do exercício pleno dos direitos fundamentais?
Esses são apenas alguns exemplos de que a Literatura pode, mas não necessariamente muda o modo, a vida e o estilo das pessoas. Afinal, quem respalda um regime autoritário que mata e tortura pessoas, o que é?
Mesmo assim, ainda insisto que as pessoas se deleitem com a poesia exalada da Literatura. Pode ser que a vida dos leitores se transforme pouco. Pode ser que se transforme muito. Pode ser que permaneça estagnada. Mas, de todas as maneiras, convido os leitores a lerem Literatura, pois apenas Ela possibilitará uma transformação ou, pelo menos, uma tentativa de metamorfose...
Sinceramente eu não sei. Acredito que a Literatura possa mudar, mas ler Literatura não significa necessariamente que a pessoa vai se tornar melhor ou aprenderá novos conceitos ou se tornará mais humana.
A maioria dos dirigentes do estado nazista lia Literatura, sabia de cabeça fragmentos extensos de filósofos e trechos completos de música clássica. Nem por isso os nazistas respeitaram as diferenças entre povos, religiões, sociedades, costumes e hábitos.
O alemão Thomas Mann - não faço nenhuma associação dele ao nazismo - é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. No entanto, não são poucos os estudiosos que apontam uma distância entre ele e o filho assumidamente homossexual. A Literatura não deveria abrir as portas para o entendimento universal e a aceitação das diferenças?
Aqui no Brasil, dois importantes intelectuais que liam Literatura apoiaram movimentos autoritários na condução dos negócios do estado.
Filósofo e jurista internacionalmente reconhecido, professor da Universidade de São Paulo e reitor dela por duas vezes, professor de Literatura até mais ou menos quarenta anos de idade, membro da Academia Brasileira de Letras, documentos informam que Miguel Reale apoiou a ditadura militar praticada entre 1964 e 1985.
Matemático exímio, economista de renome mundial, professor da Fundação Getúlio Vargas, por onde doutorou-se, poliglota e amante de ópera, Mário Henrique Simonsen assumiu ministérios em mais de um governo da ditadura militar.
Miguel Reale e Mario Henrique Simonsen. Dois intelectuais de grande valor, literatos secretos, poliglotas, leitores profissionais, escritores. Apoiaram o regime militar. Um regime que torturou dezenas de pessoas, matou outras centenas, impediu a liberdade de imprensa e de manifestação. Um intelectual ou escritor poderia se opor à liberdade de expressão, de imprensa, do exercício pleno dos direitos fundamentais?
Esses são apenas alguns exemplos de que a Literatura pode, mas não necessariamente muda o modo, a vida e o estilo das pessoas. Afinal, quem respalda um regime autoritário que mata e tortura pessoas, o que é?
Mesmo assim, ainda insisto que as pessoas se deleitem com a poesia exalada da Literatura. Pode ser que a vida dos leitores se transforme pouco. Pode ser que se transforme muito. Pode ser que permaneça estagnada. Mas, de todas as maneiras, convido os leitores a lerem Literatura, pois apenas Ela possibilitará uma transformação ou, pelo menos, uma tentativa de metamorfose...
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Cacciola e o STF: todos sabemos o fim da novela
Para um tribunal que libertou o banqueiro Daniel Dantas, indiscutivelmente envolvido nos casos de corrupção pública e privada, que libertou quase duas dezenas de envolvidos em caso de falsificação e venda de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) - respaldando indiretamente a responsabilidade dos motoristas nos acidentes fatais cometidos - e que promove tantas outras ações discutíveis: alguém tem dúvida que Cacciola ficará numa cela boa ou, se brincar, vai ficar livre?
Os advogados do ex-banqueiro começaram a listar as exigências: nada de algemas, nada de ser transportado na parte traseira do carro da polícia, nada de imprensa nem fotógrafos, nada de cela comum... Afinal, sabemos que não haverá nada de nada.
Poderíamos esperar outro resultado do STF? Será que o tribunal vai mudar sua conduta agora diante da pressão popular pelas sentenças e decisões absurdas? Onde está a igualdade jurídica? A quem é aplicada igualdade?
Quem acredita em Papai Noel e Coelho da Páscoa pode acreditar na justiça brasileira. Daniel Dantas e Cacciola acreditam em Coelho da Pásco e em Papai Noel...
Os advogados do ex-banqueiro começaram a listar as exigências: nada de algemas, nada de ser transportado na parte traseira do carro da polícia, nada de imprensa nem fotógrafos, nada de cela comum... Afinal, sabemos que não haverá nada de nada.
Poderíamos esperar outro resultado do STF? Será que o tribunal vai mudar sua conduta agora diante da pressão popular pelas sentenças e decisões absurdas? Onde está a igualdade jurídica? A quem é aplicada igualdade?
Quem acredita em Papai Noel e Coelho da Páscoa pode acreditar na justiça brasileira. Daniel Dantas e Cacciola acreditam em Coelho da Pásco e em Papai Noel...
terça-feira, 15 de julho de 2008
Do caso do STF e do banqueiro Daniel Dantas
Em artigo publicado na "Folha de São Paulo" deste domingo (13 de julho), Frei Betto tratou das escutas telefônicas dos envolvidos em caso de corrupção e do prenúncio do envolvimento dos tribunais superiores em eventuais esquemas. Num dos fragmentos escolhidos pelo autor do artigo, salta aos olhos aquele em que um dos interlocutores garante que, resolvido o problema na primeira instância, tudo ficará livre no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Não é que ele tinha razão?
Em praticamente dois dias o presidente do STF Gilmar Mendes soltou o banqueiro Daniel Dantas duas vezes. Será que ele daria habeas-corpus idêntico, com tanta rapidez, se alguém sem dinheiro, preso injustamente, tivesse recorrido ao STF?
Não voto no PT nem nutro simpatias pelo socialismo. Entretanto, reconheço que o artigo de Frei Betto toca na ferida exposta da relativa e altamente patrimonialista sociedade brasileira na medida em que convoca os leitores a refletirem sobre os dois pesos e as duas medidas geralmente usadas nessas situações.
Depois do artigo e da proposta de Procuradores da República processarem o presidente do STF por crime de responsabilidade, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) fez um inflamado discurso contra o ato dos procuradores, a favor da estabilidade das instituições etc. É bom recordar que Gilmar Mendes, este que libertou Daniel Dantas duas vezes e que atualmente preside o STF, foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do partido do senador do Amazonas.
O senador Arthur Virgílio, em vez de discursar defendendo o presidente do STF, deveria perguntar: - E aí, presidente do STF, quando o cara das gravações feitas pela polícia disse que o problema era na primeira instância, porque no STJ e no STF tudo estava resolvido, ele estava se referindo ao senhor? O senhor está envolvido no esquema? O senhor está encarregado de livrar a cara desse pessoal no STF?
Outras perguntas deveriam e poderiam ter sido feitas, afinal, perguntar não ofende. Será que o Ministro daria respostas?
Por fim, o senador Arthur Virgílio equivoca-se ao chamar a estabilidade das instituições como argumento para os procuradores não processarem o presidente do STF. Se já colocamos um presidente da República no chão por seus atos de corrupção, derrubar um presidente do STF, do STJ, do TST, do TSE, do Senado ou da Câmara dos Deputados é um ato de exercício pleno da democracia contra aqueles que não respeitam nem a si nem ao povo brasileiro.
Em praticamente dois dias o presidente do STF Gilmar Mendes soltou o banqueiro Daniel Dantas duas vezes. Será que ele daria habeas-corpus idêntico, com tanta rapidez, se alguém sem dinheiro, preso injustamente, tivesse recorrido ao STF?
Não voto no PT nem nutro simpatias pelo socialismo. Entretanto, reconheço que o artigo de Frei Betto toca na ferida exposta da relativa e altamente patrimonialista sociedade brasileira na medida em que convoca os leitores a refletirem sobre os dois pesos e as duas medidas geralmente usadas nessas situações.
Depois do artigo e da proposta de Procuradores da República processarem o presidente do STF por crime de responsabilidade, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) fez um inflamado discurso contra o ato dos procuradores, a favor da estabilidade das instituições etc. É bom recordar que Gilmar Mendes, este que libertou Daniel Dantas duas vezes e que atualmente preside o STF, foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do partido do senador do Amazonas.
O senador Arthur Virgílio, em vez de discursar defendendo o presidente do STF, deveria perguntar: - E aí, presidente do STF, quando o cara das gravações feitas pela polícia disse que o problema era na primeira instância, porque no STJ e no STF tudo estava resolvido, ele estava se referindo ao senhor? O senhor está envolvido no esquema? O senhor está encarregado de livrar a cara desse pessoal no STF?
Outras perguntas deveriam e poderiam ter sido feitas, afinal, perguntar não ofende. Será que o Ministro daria respostas?
Por fim, o senador Arthur Virgílio equivoca-se ao chamar a estabilidade das instituições como argumento para os procuradores não processarem o presidente do STF. Se já colocamos um presidente da República no chão por seus atos de corrupção, derrubar um presidente do STF, do STJ, do TST, do TSE, do Senado ou da Câmara dos Deputados é um ato de exercício pleno da democracia contra aqueles que não respeitam nem a si nem ao povo brasileiro.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Greve nos correios
Sou um dos dependentes dos correios. Aluguei uma caixa postal na agência local em razão da quantidade razoável de correspondências que recebo semanalmente. No entanto, ultimamente não tenho recebido as correspondências em decorrência da greve dos funcionários.
Embora diretamente prejudicado, não sou contra a greve dos correios. A atual paralisação pressupõe a discussão das funções dos correios. Enquanto diretores indicados por padrinhos políticos - geralmente sem nenhum conhecimento técnico da área - ganham milhões de reais e fazem negociatas em seus gabinetes, lembrando aqui exclusivamente o afilhado político do ex-deputado federal Roberto Jefferson, os funcionários da empresa, devidamente contratados por meio de concurso público estipulado pela Constituição Federal, têm que receber salário de fome?
Os funcionários dos correios que entraram em greve devem realmente brigar não apenas pelo aumento de salário, mas principalmente pela reestruturação da empresa, colocando para fora todos os puxa-sacos que ocupam altos cargos e recebem salários invejáveis sem terem a menor capacidade!!!
Em relação aos funcionários que não aderiram à greve, por que não aderiram? O que falta?
Embora diretamente prejudicado, não sou contra a greve dos correios. A atual paralisação pressupõe a discussão das funções dos correios. Enquanto diretores indicados por padrinhos políticos - geralmente sem nenhum conhecimento técnico da área - ganham milhões de reais e fazem negociatas em seus gabinetes, lembrando aqui exclusivamente o afilhado político do ex-deputado federal Roberto Jefferson, os funcionários da empresa, devidamente contratados por meio de concurso público estipulado pela Constituição Federal, têm que receber salário de fome?
Os funcionários dos correios que entraram em greve devem realmente brigar não apenas pelo aumento de salário, mas principalmente pela reestruturação da empresa, colocando para fora todos os puxa-sacos que ocupam altos cargos e recebem salários invejáveis sem terem a menor capacidade!!!
Em relação aos funcionários que não aderiram à greve, por que não aderiram? O que falta?
sexta-feira, 11 de julho de 2008
A justiça em duas faces
O poder judiciário funciona assim: para resolver problemas de pessoas ricas e bem relacionadas, funciona no mesmo dia. Até o presidente da mais alta corte de justiça se desdobra para soltar, sem esclarecimentos, os acusados em crimes miraculosos. Se fosse um pobre? Apodreceria na cadeia.
Mais uma vez pergunto: o poder judiciário, o ministério público e as polícias funcionam de igual forma para todos os cidadãos?
Quem confia no ministério público que trabalha em prol da república? Por acaso alguém sabe como se consituiu e como se mantém a república brasileira? Conheçam um pouco da História para verificar que o ministério público trabalha em prol dos princípios republicanos. Mas que princípios? Princípios republicanos brasileiros?
Para mais informações, leiam:
- Os bestializados - autor: José Murilo de Carvalho - Ed. Companhia das Letras
- Cidadania no Brasil - autor : José Murilo de Carvalho - Ed. Civilização Brasileira
- Literatura como missão - autor: Nicolau Sevcenko - Ed. Companhia das Letras
Depois de lerem, perguntem: o desempenho das funções do ministério público, que briga em favor dos princípios republicanos, beneficia realmente a sociedade inteira?
Mais uma vez pergunto: o poder judiciário, o ministério público e as polícias funcionam de igual forma para todos os cidadãos?
Quem confia no ministério público que trabalha em prol da república? Por acaso alguém sabe como se consituiu e como se mantém a república brasileira? Conheçam um pouco da História para verificar que o ministério público trabalha em prol dos princípios republicanos. Mas que princípios? Princípios republicanos brasileiros?
Para mais informações, leiam:
- Os bestializados - autor: José Murilo de Carvalho - Ed. Companhia das Letras
- Cidadania no Brasil - autor : José Murilo de Carvalho - Ed. Civilização Brasileira
- Literatura como missão - autor: Nicolau Sevcenko - Ed. Companhia das Letras
Depois de lerem, perguntem: o desempenho das funções do ministério público, que briga em favor dos princípios republicanos, beneficia realmente a sociedade inteira?
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Será que o Ministério Público é realmente eficiente?
Vira e mexe a Polícia Federal aparece em operações prendendo e encarcerando acusados, apreendendo documentos, confiscando equipamentos e bens supostamente adquiridos por meio de dinheiro de origem incerta.
Por trás da Polícia Federal, respaldando juridicamente as operações, inteligentes e interessados representantes do Ministério Público atuam de maneira decisiva para combater o crime em âmbito federal.
Todos os representantes do Ministério Público são tão eficientes e pragmáticos?
Certamente não. Apenas para ficar em dois casos, cito a Procuradoria da República na cidade de Assis, interior de São Paulo, que mesmo diante da extensa lista de ilegalidades e absurdos cometidos pela rádio "comunitária" Karisma FM de Maracaí, ainda não tomou nenhuma atitude de efeito. O que espera o Procurador da República em Assis? Onde está a eficiência constitucionalmente assegurada? Em poucos meses, a representação apresentada à Procuradoria da República em Assis fará três anos que tramita naquele órgão. E fica a pergunta: O que fez a Procuradoria até agora? Onde está o conselho comunitário da rádio previsto na lei? Onde está a rádio verdadeiramente comunitária?
Outro exemplo? Paraguaçu Paulista. Há muito tempo fiz uma representação contra a desordem no dinheiro público protagonizado pelo atual prefeito que, entre outras situações, negou informação do dinheiro...PÚBLICO. É brincadeira? Além da má administração, indícios claros de nepotismo na prefeitura de Paraguaçu Paulista ainda não despertaram a atenção dos promotores responsáveis pelo caso. Enquanto no Paraná e em outros estados brasileiros o nepotismo causa brigas noticiadas em sites de informação, em agências de notícias e na imprensa de maneira geral, em Paraguaçu Paulista a minha reclamação está há mais de seis meses parada. É mole? Pergunto: Onde está a eficiência constitucionalmente assegurada? Vão esperar o prefeito acabar o mandato, criar os filhos, os netos, os bisnetos, partir para o outro lado para só então arregaçar as mangas e investigar as denúncias de nepotismo?
Por fim, pergunto: Quem pode confiar no Ministério Público? No caso da menina Isabela, jogada de um edifício de São Paulo, o promotor concluiu a investigação e a justiça toma depoimentos dos acusados em menos de seis meses. O julgamento já começa e parece que vai ser rápido. E em Assis e em Paraguaçu Paulista? Por que o procurador da república em Assis e o promotor de justiça em Paraguaçu Paulista ainda não desempenharam seus papéis como o promotor do caso Isabela? O ministério público não é um só? E, como único, não deveria ter o mesmo grau de eficiência? Será que o promotor do caso Isabela, promotor de uma cidade como São Paulo, tem menos processos que o procurador da república em Assis e o promotor de Justiça em Paraguaçu Paulista?
Por trás da Polícia Federal, respaldando juridicamente as operações, inteligentes e interessados representantes do Ministério Público atuam de maneira decisiva para combater o crime em âmbito federal.
Todos os representantes do Ministério Público são tão eficientes e pragmáticos?
Certamente não. Apenas para ficar em dois casos, cito a Procuradoria da República na cidade de Assis, interior de São Paulo, que mesmo diante da extensa lista de ilegalidades e absurdos cometidos pela rádio "comunitária" Karisma FM de Maracaí, ainda não tomou nenhuma atitude de efeito. O que espera o Procurador da República em Assis? Onde está a eficiência constitucionalmente assegurada? Em poucos meses, a representação apresentada à Procuradoria da República em Assis fará três anos que tramita naquele órgão. E fica a pergunta: O que fez a Procuradoria até agora? Onde está o conselho comunitário da rádio previsto na lei? Onde está a rádio verdadeiramente comunitária?
Outro exemplo? Paraguaçu Paulista. Há muito tempo fiz uma representação contra a desordem no dinheiro público protagonizado pelo atual prefeito que, entre outras situações, negou informação do dinheiro...PÚBLICO. É brincadeira? Além da má administração, indícios claros de nepotismo na prefeitura de Paraguaçu Paulista ainda não despertaram a atenção dos promotores responsáveis pelo caso. Enquanto no Paraná e em outros estados brasileiros o nepotismo causa brigas noticiadas em sites de informação, em agências de notícias e na imprensa de maneira geral, em Paraguaçu Paulista a minha reclamação está há mais de seis meses parada. É mole? Pergunto: Onde está a eficiência constitucionalmente assegurada? Vão esperar o prefeito acabar o mandato, criar os filhos, os netos, os bisnetos, partir para o outro lado para só então arregaçar as mangas e investigar as denúncias de nepotismo?
Por fim, pergunto: Quem pode confiar no Ministério Público? No caso da menina Isabela, jogada de um edifício de São Paulo, o promotor concluiu a investigação e a justiça toma depoimentos dos acusados em menos de seis meses. O julgamento já começa e parece que vai ser rápido. E em Assis e em Paraguaçu Paulista? Por que o procurador da república em Assis e o promotor de justiça em Paraguaçu Paulista ainda não desempenharam seus papéis como o promotor do caso Isabela? O ministério público não é um só? E, como único, não deveria ter o mesmo grau de eficiência? Será que o promotor do caso Isabela, promotor de uma cidade como São Paulo, tem menos processos que o procurador da república em Assis e o promotor de Justiça em Paraguaçu Paulista?
terça-feira, 8 de julho de 2008
Nota Fiscal Paulista
Nota Fiscal Paulista: jogada de mestre do Serra para alicerçar sua candidatura à Presidência da República em 2010 por meio dos benefícios promovidos à sociedade paulista.
O sucesso dependerá exclusivamente dos fiscais da receita estadual. Se continuarem fiscalizando seriamente e punindo exemplarmente os que pretendem enganar o fisco, mais consumidores, geralmente desacreditados das promessas mirabolantes, aderirão à Nota Fiscal Paulista. Vamos ver se o governador não deixa escapar essa chance...
O sucesso dependerá exclusivamente dos fiscais da receita estadual. Se continuarem fiscalizando seriamente e punindo exemplarmente os que pretendem enganar o fisco, mais consumidores, geralmente desacreditados das promessas mirabolantes, aderirão à Nota Fiscal Paulista. Vamos ver se o governador não deixa escapar essa chance...
sábado, 5 de julho de 2008
Luta humanitária
A libertação da ex-candidata a presidência da Colômbia Ingrid Betancourt é indiscutivelmente um motivo de comemoração. Ninguém deve ser privado da liberdade sem passar pelo processo legal, dirigido por um tribunal que não seja de exceção.
Interessantes os movimentos instalados mundo afora que gritavam, pediam e lutavam de todas as maneiras pela libertação da prisioneira que passou anos nas matas, correndo risco de saúde, segundo informações de reféns libertados. E agora? O que acontece aos demais prisioneiros depois da libertação da refém mais ilustre e que ocupava mais espaço na mídia?
Um ponto lamentável neste episódio é o foco do jornalismo nacional sobre a vida e a libertação de senadora colombiana. Não é engraçado que a mídia de nosso país não retrate, ignore ou mesmo despreze os sequestros, a privação de liberdade e as barbaridades cometidas por aqui para noticiar o sofrimento e o desespero alheios? E aqui? Ninguém sofre? Ninguém se desespera?
Faço votos de que a senadora retome sua vida. Mas não poupo críticas à mídia brasileira que, em vez de procurar soluções e discutir o drama de nossas famílias nativas, busca inserir-se no mercado internacional menosprezando o que é nosso.
Senso de nacionalismo? Não necessariamente, porém uma leve provocação sobre a fianlidade e os objetivos da mídia brasileira. Afinal, por que ainda não fizeram uma profunda reflexão sobre o alto índice de racismo em Salvador (BA)? Ou sobre o trabalho de prostituição nos rincões do país? Ou sobre as igrejas estelionatárias que arregimentam milhões de desesperados prometendo bem-estar? Ou sobre os métodos heterodoxos da igreja tradicional, mantendo bandidos entre suas lideranças? Será que vamos ter de esperar a imprensa estrangeira denunciar estes problemas como sempre faz?
Interessantes os movimentos instalados mundo afora que gritavam, pediam e lutavam de todas as maneiras pela libertação da prisioneira que passou anos nas matas, correndo risco de saúde, segundo informações de reféns libertados. E agora? O que acontece aos demais prisioneiros depois da libertação da refém mais ilustre e que ocupava mais espaço na mídia?
Um ponto lamentável neste episódio é o foco do jornalismo nacional sobre a vida e a libertação de senadora colombiana. Não é engraçado que a mídia de nosso país não retrate, ignore ou mesmo despreze os sequestros, a privação de liberdade e as barbaridades cometidas por aqui para noticiar o sofrimento e o desespero alheios? E aqui? Ninguém sofre? Ninguém se desespera?
Faço votos de que a senadora retome sua vida. Mas não poupo críticas à mídia brasileira que, em vez de procurar soluções e discutir o drama de nossas famílias nativas, busca inserir-se no mercado internacional menosprezando o que é nosso.
Senso de nacionalismo? Não necessariamente, porém uma leve provocação sobre a fianlidade e os objetivos da mídia brasileira. Afinal, por que ainda não fizeram uma profunda reflexão sobre o alto índice de racismo em Salvador (BA)? Ou sobre o trabalho de prostituição nos rincões do país? Ou sobre as igrejas estelionatárias que arregimentam milhões de desesperados prometendo bem-estar? Ou sobre os métodos heterodoxos da igreja tradicional, mantendo bandidos entre suas lideranças? Será que vamos ter de esperar a imprensa estrangeira denunciar estes problemas como sempre faz?
terça-feira, 1 de julho de 2008
Cimento eleitoral
A estupidez aliada ao desejo fremente de conseguir votos de todas as maneiras devem ser os pressupostos que levaram o senador carioca a instituir o programa cimento eleitoral. De acordo com o programa, as casas de latão, de ferro e de outros materiais seriam substituídas por cimento e tijolos.
O mais lamentável dessa situação é que as casas de tijolos, que substituiriam as de latão e de outros materiais, seriam erguidas nos morros. Apenas para lembrar, os morros são aqueles locais quase inacessíveis, onde o abastecimento de água e de luz beira o incrível, as linhas telefônicas são deslocadas e duplicadas ilegalmente, o saneamento básico não chega e pelas ruas não transitam carros. Na verdade, as ruas não são ruas. São vielas.
É verdade que os morros também são grandes laboratórios de discussão sociológica e jurídica, principalmente quando se envereda pelas questões do pluralismo jurídico. Mas não precisamos de teorias acadêmicas, precisamos de práticas que tirem o povo da miséria. Numa casa de verdade, de tijolos, com água encanada, saneamento básico, energia elétrica e linha telefônica, sendo possível o trânsito de carros, de biciletas, de pessoas.
O historiador Nicolau Sevcenko debateu em "Literatura como missão" (Companhia das Letras) a trajetória e o perfil dos escritores Lima Barreto e Euclides da Cunha. Numa parte do livro, na que se encontra a contextualização da sociedade da época, consta um extenso relatório de dados de pessoas vivendo empilhadas em quartos, em banheiros e até nas escadas de antigos casarões. Calamidade. Essa situação alarmante deteriorou-se e se perpetuou. Estamos no século XXI vivendo em condições piores do que as de fins do século XIX.
Se escolhessem melhor seus assessores, o senador e o presidente da república que assinaram a autorização da construção de casas deveriam ter pensado na urbanização daqueles territórios e não na simples finalidade de conseguir votos nas próximas eleições municipais. Trocar as casas de latão por casas de tijolos, mas mantendo um padrão incompatível com a dignidade (energia elétrica e água de procedência duvidosa, linhas telefônicas duplicadas, falta de saneamento básico e de ruas, além do patrulhamento de traficantes, bandidos e policiais disfarçados de pele de cordeiro) é como colocar uma colher de sal na boca de alguém que está com pressão baixa, mas não resolver problemas mais profundos de saúde. Pode ajudar na hora, mas a dor de cabeça continuará.
Precisamos de planos eficazes que possibilitem a desocupação, a deslocação da população para áreas assistidas de estrutura básica e o reflorestamento dos morros, possibilitando uma nova constituição da paisagem urbana carioca. Precisamos de mudanças profundas. Quando elas virão?
Enquanto elas não vêm, traficantes, bandidos e milicianos continuam seu império fora da legalidade sustentados juridicamente por aqueles que, em suas políticas falhas e medíocres, estabelecem novas hierarquias de medo. Medo que ajudará na eleição de cretinos com propostas idênticas.
Quando vamos nos livrar desses cretinos incapazes de mudar nossa país?
O mais lamentável dessa situação é que as casas de tijolos, que substituiriam as de latão e de outros materiais, seriam erguidas nos morros. Apenas para lembrar, os morros são aqueles locais quase inacessíveis, onde o abastecimento de água e de luz beira o incrível, as linhas telefônicas são deslocadas e duplicadas ilegalmente, o saneamento básico não chega e pelas ruas não transitam carros. Na verdade, as ruas não são ruas. São vielas.
É verdade que os morros também são grandes laboratórios de discussão sociológica e jurídica, principalmente quando se envereda pelas questões do pluralismo jurídico. Mas não precisamos de teorias acadêmicas, precisamos de práticas que tirem o povo da miséria. Numa casa de verdade, de tijolos, com água encanada, saneamento básico, energia elétrica e linha telefônica, sendo possível o trânsito de carros, de biciletas, de pessoas.
O historiador Nicolau Sevcenko debateu em "Literatura como missão" (Companhia das Letras) a trajetória e o perfil dos escritores Lima Barreto e Euclides da Cunha. Numa parte do livro, na que se encontra a contextualização da sociedade da época, consta um extenso relatório de dados de pessoas vivendo empilhadas em quartos, em banheiros e até nas escadas de antigos casarões. Calamidade. Essa situação alarmante deteriorou-se e se perpetuou. Estamos no século XXI vivendo em condições piores do que as de fins do século XIX.
Se escolhessem melhor seus assessores, o senador e o presidente da república que assinaram a autorização da construção de casas deveriam ter pensado na urbanização daqueles territórios e não na simples finalidade de conseguir votos nas próximas eleições municipais. Trocar as casas de latão por casas de tijolos, mas mantendo um padrão incompatível com a dignidade (energia elétrica e água de procedência duvidosa, linhas telefônicas duplicadas, falta de saneamento básico e de ruas, além do patrulhamento de traficantes, bandidos e policiais disfarçados de pele de cordeiro) é como colocar uma colher de sal na boca de alguém que está com pressão baixa, mas não resolver problemas mais profundos de saúde. Pode ajudar na hora, mas a dor de cabeça continuará.
Precisamos de planos eficazes que possibilitem a desocupação, a deslocação da população para áreas assistidas de estrutura básica e o reflorestamento dos morros, possibilitando uma nova constituição da paisagem urbana carioca. Precisamos de mudanças profundas. Quando elas virão?
Enquanto elas não vêm, traficantes, bandidos e milicianos continuam seu império fora da legalidade sustentados juridicamente por aqueles que, em suas políticas falhas e medíocres, estabelecem novas hierarquias de medo. Medo que ajudará na eleição de cretinos com propostas idênticas.
Quando vamos nos livrar desses cretinos incapazes de mudar nossa país?
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Quer exterminar com as crianças? Mande para Belém do Pará
A imprensa nacional noticiou o descaso da Santa Casa de Belém do Pará que, apenas em um fim de semana, deixou mais de cinco crianças morrerem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A secretária de saúde daquele estado disse que o número de mortes, que atualmente está em torno de vinte, estava de acordo com os parâmetros estabelecidos internacionalmente. Só se forem os padrões internacionais baseados na morte de crianças que vivem em zonas de conflito, em guerras civis, no meio da guerrilha ou passando fome em terras estéreis.
Faço votos sinceros de que algum familiar da secretária da saúde ou da governadora do Pará necessitem de socorro em algum hospital público sucateado e que, no momento decisivo, faltemm médicos, instrumentos, medicamentos, estrutura. Quem sabe se a morte de um filho ou de um neto não dê alguma consciência a essa secretária que, juntamente com a governadora, deveria estar encarcerada em decorrência de um depoimento estapafúrdio, inconsequente, impensado e imbecil? Só quando a calamidade atingir algum parente dos dirigentes daquele estado é que provavelmente eles farão alguma coisa e não ficarão brincando com a vida de dezenas de pessoas!
Acham pouco a violência e a falta de lei que imperam no estado do Pará? Ainda querem arrebentar a saúde? Agora, fico pensando: o que será que acontece com a educação?
A secretária de saúde daquele estado disse que o número de mortes, que atualmente está em torno de vinte, estava de acordo com os parâmetros estabelecidos internacionalmente. Só se forem os padrões internacionais baseados na morte de crianças que vivem em zonas de conflito, em guerras civis, no meio da guerrilha ou passando fome em terras estéreis.
Faço votos sinceros de que algum familiar da secretária da saúde ou da governadora do Pará necessitem de socorro em algum hospital público sucateado e que, no momento decisivo, faltemm médicos, instrumentos, medicamentos, estrutura. Quem sabe se a morte de um filho ou de um neto não dê alguma consciência a essa secretária que, juntamente com a governadora, deveria estar encarcerada em decorrência de um depoimento estapafúrdio, inconsequente, impensado e imbecil? Só quando a calamidade atingir algum parente dos dirigentes daquele estado é que provavelmente eles farão alguma coisa e não ficarão brincando com a vida de dezenas de pessoas!
Acham pouco a violência e a falta de lei que imperam no estado do Pará? Ainda querem arrebentar a saúde? Agora, fico pensando: o que será que acontece com a educação?
domingo, 29 de junho de 2008
Eleições municipais
Mais uma vez nos aproximamos das eleições municipais. Prefeitos, vice-prefeitos e vereadores serão eleitos para um mandato de quatro anos durante os quais vão receber bons salários para simplesmente não fazerem nada pela cidade. Querem uma prova disso? Venham ao interior paulista.
Só um exemplo disso é a cidade de Paraguaçu Paulista que, por motivos inexplicáveis, carrega o slogan de Estância Turística. Na verdade, deveria se chamar Distância Turística de Paraguaçu Paulista. Até quando a população continuará arruinando a cidade?
Só um exemplo disso é a cidade de Paraguaçu Paulista que, por motivos inexplicáveis, carrega o slogan de Estância Turística. Na verdade, deveria se chamar Distância Turística de Paraguaçu Paulista. Até quando a população continuará arruinando a cidade?
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