sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

PREVISÃO DO TEMPO


Sempre atrelei-me às manifestações científicas de maneira que jamais saía de casa – ao trabalho, às férias, às viagens com a família – sem antes ouvir o noticiário na televisão ou no rádio, ler jornal ou consultar sites específicos que informassem as variações de temperatura. Três dias antes de viajar em julho para participar de congresso de história em Porto Alegre, certifiquei-me de que, mesmo no inverno, a capital gaúcha nos ofereceria clima ameno. Deixei em casa a tralha desnecessária. Coloquei na bolsa calças jeans finas, camisas e camisetas, boné.


Cheguei a Porto Alegre. O primeiro dia de calor agradável transformou-se num tormento sem limites. Precisei comprar três blusas de frio, camisas de mangas compridas, dois cobertores, pulôveres, calças de moletom e um pequeno aquecedor que me levaram todo o dinheiro da semana, economizado para presentes para a mãe, a esposa e a filha.


De volta ao interior paulista, comentei minha aventura pouco heroica com minha mulher cujos olhos, recriminando-me por não tê-la ouvido, disfarçaram risos de chacota. Em fins de setembro, o escritório mandou-me a Foz do Iguaçu, famosa cidade através da qual milhares de brasileiros compram supérfluos no Paraguai. Apesar dos primeiros raios de primavera, a previsão do tempo indicava frio na casa dos quinze graus. Sem dúvidas, enchi minhas malas de cobertores grossos, blusas de frio, camisas de manga comprida e, como sabia que nos instalaríamos em apartamentos de cozinhas privativas, separei café instantâneo, chocolate quente, chá.


Para minha surpresa – e deleite da esposa que, à minha volta, já sorria estrondosamente – sofri com o calor de quarenta e dois graus, asfalto exalando fervuras que aumentavam a impressão de caminhar numa frigideira em fogo alto. Sem roupas menos calorentas e com cartão de crédito estourado, oito dias usando calças pretas, camisas de mangas compridas. Os ventiladores mantinham efeito mais estético do que prático. O ar condicionado do hotel mal refrescava quem colocava a cara em frente dele.


O próximo destino: férias de natal e ano novo ou em Florianópolis ou no Rio de Janeiro. Consultei atentamente os mapas e os sites cujos históricos declaravam o perigo em ambas as capitais durante os meses de dezembro e janeiro quando habitualmente chuvas fortes devastavam em grande escala. Alertei minha esposa e minha filha. As duas me ignoraram: ou escolhia uma das cidades, ou minha esposa viajaria com os pais a Florianópolis e minha filha, acompanhada dos amigos, ao Rio de Janeiro.


- Fico em casa. Daqui não saio. Daqui ninguém me tira.


Entre 20 de dezembro e três de janeiro, datas respectivas de partida e de retorno, fiquei desolado e sem saber o que fazer. Não tinha com quem conversar à noite nem com quem brigar durante o dia pelos sapatos espalhados, a louça mal lavada, a bagunça no banheiro, o som alto ou os controles remotos quebrados. Por outro lado, comunicávamo-nos diariamente e, a cada ligação telefônica, perguntava se estava tudo bem, se avistavam indícios de nuvens carregadas. Diante da negativa, encerrávamos a conversa e, mais uma vez, voltava ao computador para certificar-me das chuvas que levariam inúmeros problemas aos catarinenses e fluminenses.


Dois dias antes do ano novo, as águas tomaram conta de nossa cidade. Perdi o contato tanto com minha filha quanto com minha esposa. Desembarcaram, na data planejada, queimadas de praia. Perguntei como tinha sido a experiência de sobreviver às tragédias, da falta de água, de dividir a pouca comida com pessoas estranhas, convivendo em lugares insalubres e perigosos.


As duas se entreolharam. Eu tinha visto desastres na televisão? Realmente nada observara, mas imaginei tratar-se de questão de segurança nacional. Já me irritara ao extremo com a situação quando uns vizinhos convidaram-nos para fim de semana no balneário. Minha filha e minha esposa, cansadas da viagem e do sol de praia, optaram por ficar em casa. Montei no carro. Voltaria no fim da tarde seguinte. Tão queimado quanto elas. Previsão do tempo? Nunca mais.


Quando cheguei em casa, as duas não continham os risos: uma hora e meia depois de minha saída, temporal caíra, mantendo-se até a segunda-feira.

*Publicado originalmente na coluna Ficções, caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 25 de janeiro de 2013.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

VELHINHOS



Estava na fila do banco, um só caixa funcionando, 22 pessoas à frente, 18 que chegaram depois de mim. O sol forte inviabilizava o funcionamento adequado dos condicionadores de ar. Alguns pais trouxeram filhos barulhentos. Após a saída do funcionário de escritório de contabilidade que levara duas bolsas repletas de boletos, senhora de cabelos brancos, metro e cinquenta e cinco, sapatos pretos lustrosos e vestido de cor clara, venceu os dois lances de degraus, ultrapassou um por um os integrantes da interminável fila, postou-se ao lado do caixa, abriu a bolsa: três calhamaços, dinheiro e cheques.


A boa educação – e, se a boa educação não bastasse, a lei já daria jeito de sermos educados – nos ensina que as pessoas mais velhas preponderam sobre as demais. Ônibus lotado? Os mais jovens devem ceder lugares aos mais velhos. Banco, farmácia, supermercado, casas lotéricas ou correios, cinema ou teatro, na falta de caixas específicos, as pessoas da “melhor idade” têm direito ao atendimento preferencial.


Concordo plenamente com essa regra de bons modos, mas os quarenta e sete minutos que a senhorinha – ou, como diria a filha da mulher impaciente, a “velhinha tão bonitinha, tão lindinha e tão pequeninha” – ocupou no único caixa se não fomentaram o aumento de minha pressão certamente contribuíram para meu coração bater mais apressado e minha respiração chegar aos limites de sua capacidade.


A senhorinha já guardava os últimos papéis quando, como em filme de terror, um senhor de cabelos brancos, de porte atlético e de camisas listradas, ultrapassou elegantemente a fila, mostrou a carteira de identidade – da qual, de longe, se viam as letras em vermelho que informavam seus mais de sessenta e cinco anos – e, sacando a carteira, retirou boletos, dinheiro e cheques. Os pagamentos deste senhor foram rápidos: em menos de dez minutos guardava novamente a papelada. Saía sorridente, cumprimentando os homens, reverenciando as mulheres e contando piadas às crianças.


Já me animava – sete clientes tinham sido atendidos – quando óculos escuros, capacete nas mãos, jaqueta preta e botas de couro atravessaram a fila. Um cliente à iminência de atendimento protestou, mas o motoqueiro – de cabelos cor de caju e, pela estatura, freqüentador assíduo de academias de musculação – puxou documento do bolso de trás da calça e o mostrou ao indignado que, assim como eu, penava naquela situação. Carteira de identidade: 76 anos. Preferência sobre todos os outros.


Seis pessoas à minha frente desistiram de esperar depois de constatarem que, além de pagar as contas, o homem precisaria explicar detalhadamente os tipos de depósitos e transferências a serem feitos: uns identificados com nomes, outros com vários números de CPF, outros, por fim, com sequências infindáveis dispostas em códigos de barras que não conseguiam ser lidos pelo aparelho ótico. Como se não bastasse, o motoqueiro distraía o caixa (mulher de cabelos pretos, vestido vermelho e esmaltes de tom azul claro) perguntando se solteira, se gostava de sair aos fins de semana, de fazer trilhas, de churrasco, de andar de moto, de conhecer novos lugares e pessoas...


Finalmente consegui pagar meus dois papéis. Se pudesse, teria ido a outra agência ou casa lotérica. Contudo, os documentos exigiam especificamente o pagamento naquele banco. Depois de sair do escritório, passei em casa, troquei de roupa, fui ao clube. Comprei Coca-Cola. Na piscina mais afastada, jogo de pólo aquático disputado por duas equipes: uma de “jovens” e outra da “melhor idade”.


Quando me aproximei, a senhorinha, o homem de camisa listrada e o motoqueiro integravam o time da “melhor idade”: nadavam de um lado a outro, driblavam adolescentes, cansavam jovens, arquitetavam jogadas bem elaboradas.


Placar: oito a um. Para a “melhor idade”. A bola saiu da piscina. Devolvi-a aos atletas. A senhorinha de cabelos brancos convidou-me para integrar o time: desfalque de dois jogadores. Diante de minha recusa, gritou enfurecida:


- Não vai jogar? Parece velho, pô!

*Publicado originalmente na coluna Ficções, Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) 18 de janeiro de 2013.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

EDITAL - CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO EDIÇÃO 2013


CONCURSO DE CRÔNICAS

LAURA FERREIRA DO

NASCIMENTO

 

Crônica: “gênero literário muito praticado no Brasil, consistindo num pequeno artigo sobre qualquer assunto, em tom coloquial, procurando estabelecer com o leitor uma intimidade afetuosa que o leva a se identificar à matéria exposta”. (CANDIDO, Antônio. Iniciação à Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2007, p. 110-111)

 

 

Crônica: “um gênero literário, de prosa, ao qual menos importa o assunto, em geral efêmero, do que as qualidades de estilo; menos o fato em si do que o pretexto ou a sugestão que pode oferecer ao escritor para divagações borboleantes e intemporais; menos o material histórico do que a variedade, a finura e a argúcia na apreciação, a graça na análise dos fatos miúdos e sem importância, ou na crítica buliçosa de pessoas”. (COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 104)

 

 

Crônica: “A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante o espetáculo da vida, as coisas, os seres”. (COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 106)

 

 

Crônica: “E, afinal, o que é a crônica? Trata-se do vôo livre da palavra, tão solta quanto na poesia, capaz de elevar o pensamento até os mais distantes confins, estabelecer os laços com a realidade ou se perder nas brumas da ficção, engajar-se às questões políticas ou se alienar nos domínios do amor, aprofundar-se na busca da verdade ou flutuar pelos imensos campos da dúvida. Ligada pelo cordão umbilical aos fatos do dia ou à época que se atravessa, ao momento histórico ou à situação eventual de uma comunidade, de um país, ao retrato de um instante qualquer na vida humana, filha do deus Khrónos (o tempo) por excelência, e por isso mesmo com a sua durabilidade abreviada pela transitoriedade intrínseca, a crônica pode subir tão alto a ponto de se tornar exemplar ou inalcançável. E, portanto, se eternizar”. (GALVANI, Walter. Crônica – o vôo da palavra. Porto Alegre: Mediação, 2009, p. 18)

 

 

 

Art. 1º - Promovido pela Associação de Cultura e Turismo de Maracaí (ACULTIM) e pela Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos Direitos do Cidadão de Maracaí/SP (ADPCIM), o CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO tem por objetivo estimular a produção literária, incentivar a cultura e promover a conscientização.

 

 

Art. 2º - Poderão participar do CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO textos em língua portuguesa.

 

 

Art. 3º - O texto ficcional apresentado individualmente deverá ser inédito, seja na forma impressa, seja na forma eletrônica.

 

 

Art. 4º - Não serão aceitas nem obras póstumas nem assinadas por grupos.

 

 

Art. 5º - É vedada a participação de parentes – filhos, enteados, sobrinhos, primos, cônjuges (civil ou religiosamente casados ou em União Estável), irmãos, cunhados, pais, mães, padrastos, madrastas e avós – dos membros da Comissão Organizadora e da Comissão Julgadora do CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO.

 

 

Art. 6º - Cada concorrente poderá participar com APENAS UMA CRÔNICA, sendo vedada a co-autoria.

 

Art. 7º - A terceira edição do Concurso de Crônicas Laura Ferreira do Nascimento homenageará um escritor da região de Maracaí (SP).

Parágrafo Primeiro – O homenageado, escolhido pelas diretorias da ADPCIM e da ACULTIM, é o poeta Antônio Lázaro de Almeida Prado. Piracicabano, adotou Assis (SP), município para o qual criou o slogan “Cidade Fraternal”. Jornalista, Poeta, Cronista, Contista, Ensaísta, Crítico Literário, Professor Emérito e Fundador da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (campus de Assis – SP), Doutor e Livre-Docente em língua e literatura italianas pela Universidade de São Paulo (USP). Lecionou na Universidade de São Paulo de 1953 a 1958, transferindo-se, em seguida, para a Cidade Fraternal, onde fundou o curso de Letras. É autor, entre outros livros, dos ensaios “Itinerário poético de Salvatore Quasímodo” e “O acordo impossível”, e, na poesia, de “Lúcido Sonho”, “Ciclo das chamas”, “Verso e reverso”, “Arte poética para passarinhos” e “Poesia sempre”. É tradutor do filósofo Giambattista Vico. Em 2008, foi o representante brasileiro convidado para participar do 14º Festival Internacional de Poesia de Gênova, na Itália. Nasceu em 1925. Vive em Assis.

O poeta Antônio Lázaro de Almeida Prado na sala de sua residência, na cidade de Assis (SP), ao ser comunicada sua escolha como homenageado no Concurso de Crônicas Laura Ferreira do Nascimento. 


 

Art. 8º - O concorrente escreverá sua crônica sobre o tema AMOR.

 

Art. 9º - Em referência ao poeta homenageado, a crônica obrigatoriamente começará com o verso “Com breves palavras minhas”, extraído do poema “Telegráfico” (PRADO, Antônio Lázaro de Almeida. Poesia sempre. São Paulo: Patuá, 2012, p. 16).

 

Art. 10 - As crônicas não poderão exceder 1 (uma) página. Os autores devem utilizar fonte Arial, tamanho 12, espaçamento 1,5 entre as linhas e todas as margens medindo 2,5 cm (dois centímetros e meio).

Parágrafo primeiro – O desrespeito às regras estabelecidas neste regulamento implica na desclassificação do concorrente.

 

Art. 11 - As inscrições estarão abertas de 1 (um) de fevereiro a 28 (vinte e oito) de junho de 2013.

Parágrafo único – As correspondências postadas antes ou depois do prazo de início e término do Concurso de Crônicas serão recusadas servindo, para averiguação de datas, o carimbo da postagem dos Correios.

 

 

Art. 12 – Os trabalhos devem ser enviados pelos Correios em carta simples, registrada ou via Sedex para: CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO - Caixa Postal 457 – Maracaí/SP. CEP: 19840-000.

Parágrafo Primeiro – Os textos postados até 28 de junho de 2013, para tanto valendo o carimbo dos Correios, serão aceitos se chegarem impreterivelmente até 5 de julho de 2013. Os textos que chegarem após 5 de julho de 2013 serão automaticamente desconsiderados e imediatamente descartados.

Parágrafo Segundo – As entidades promotoras do CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO não se responsabilizam pelas correspondências que não chegarem ao destino.

 

 

Art. 13 – Os textos, em 5 (cinco) vias, deverão conter o título (centralizado). O pseudônimo do concorrente deverá estar alinhado abaixo, à direita, logo após o título. A primeira linha deve seguir o estabelecido no art. 9º deste edital.

 

 

Art. 14 – Junto com esse material deve ser encaminhado um envelope menor, lacrado, identificado externamente apenas com o título do trabalho e o pseudônimo do concorrente. O envelope menor deverá conter o título e o pseudônimo do trabalho, o nome do autor, endereço completo, telefones, endereços eletrônicos (e-mails), números do RG e do CPF e curriculum de, no máximo, 1000 (mil) caracteres.

Parágrafo Primeiro – Os candidatos maiores de 18 (dezoito) anos devem enviar fotocópias do CPF e do RG, número de conta corrente ou conta poupança em banco de abrangência nacional para que, eventualmente classificados, recebam o prêmio em dinheiro.

Parágrafo Segundo – Os candidatos menores de 18 (dezoito) anos devem enviar fotocópia do RG e, na ausência deste, da certidão de nascimento. Se classificados, deverão enviar fotocópias do RG e do CPF do responsável, acompanhadas de autorização de recebimento dos valores e dos dados bancários (número de agência e de conta corrente ou conta poupança em banco de abrangência nacional).

 

 

Art. 15 – O julgamento será feito por uma Comissão composta de intelectuais de comprovado conhecimento literário.

Parágrafo Único – Os nomes e as biografias dos membros da Comissão Julgadora estarão disponíveis em meados de setembro.

 

 

Art. 16 – A avaliação dos textos será realizada considerando a originalidade, a criatividade, a qualidade técnica e o respeito às especificações dos artigos 8º, 9º, 10, 11, 12, 13, 14.

 

 

Art. 17 – As decisões da Comissão Organizadora e da Comissão Julgadora são irrecorríveis.

 

 

Art. 18 – Serão selecionados 3 (três) textos.

 

 

Art. 19 – Os resultados serão divulgados em 5 de outubro de 2013, no mural da Associação de Cultura e Turismo de Maracaí (ACULTIM) e da Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos Direitos do Cidadão de Maracaí (ADPCIM); na página da internet do CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTOwww.concursosdecronicas.blogspot.com e nos programas da UMAC – União Maracaiense de Associações Comunitárias – na rádio comunitária de Maracaí (SP).

Parágrafo Único – A Comissão Organizadora enviará aos meios de comunicação os resultados do CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO não se responsabilizando, no entanto, pelo compromisso de divulgação nos mencionados meios de comunicação.

 

 

Art. 20 – Três concorrentes serão classificados e premiados da seguinte forma:

 

 

PRIMEIRO LUGAR

R$ 1.000,00

(mil reais)

Certificado

Livros

 

 

SEGUNDO LUGAR

R$ 100,00 (cem reais)

Certificado

Livros

 

 

TERCEIRO LUGAR

R$ 100,00 (cem reais)

Certificado

Livros

 

 

Art. 21 – Após o término do concurso, os textos recebidos não serão devolvidos.

 

Art. 22 – A participação no CONCURSO DE CRÔNICAS LAURA FERREIRA DO NASCIMENTO implica a aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.

 

Art. 23 – Os casos omissos neste regulamento serão, de maneira irrecorrível, resolvidos pela Comissão Organizadora.

 

 

 

COMISSÃO ORGANIZADORA

 

Adriana Jesuíno Francisco

Ana Carla Oliveira Regis da Silva

Roberto Agapito

Vicentônio Regis do Nascimento Silva – Presidente

 

 

 

COMISSÃO JULGADORA

 

Os nomes dos membros da Comissão Julgadora serão divulgados em meados de setembro de 2013.

 

 

 

 

 

PATROCÍNIO


www.activesystemwd.com.br

(18) 9613-1823

 

 

 

LAN HOUSE CONEXÃO

NANDEX INFORMÁTICA

Avenida Siqueira Campos –

Paraguaçu Paulista/SP.

(18) 3361-5830

 

 

 

APOIO

 

UMAC

União Maracaiense de Associações Comunitárias


 

 

 

 

REALIZAÇÃO

 

 

ACULTIM

Associação de Cultura e Turismo de Maracaí

 

 

ADPCIM

Associação de Defesa e Proteção do Patrimônio Público e dos Direitos do Cidadão de Maracaí/SP


 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

VENTILADOR


Álcool e calor são duas variantes longe de combinarem. Resolvemos passar alguns dias na praia de maneira que, carros, malas e euforias a mil, saímos de madrugada e ao fim do dia estacionávamos na casa de veraneio de amigo de trabalho, alugada a preço acessível. As mulheres entraram rapidamente, limparam sala, quartos, cozinha e banheiros, determinando que os homens usariam o de fora enquanto às mulheres destinava-se o de dentro. Saímos (nós, os homens) rumo à praia e ficamos nas areias o resto da noite, retornando para a residência de verão por volta das duas da manhã. Acomodamo-nos como e onde conseguimos e, manhã seguinte, filhos e esposa já gritavam palavras de ordem: praia, praia, praia!


Tomamos banho para tirar o resto de cheiro das bebidas da madrugada e meia hora depois parávamos num boteco a cem metros do mar de onde, sem grande esforço e com muita atenção, observávamos as esposas e os filhos jogando-se nas ondas que os levavam e os traziam de volta à areia. Combinamos de diariamente repetir o trajeto das manhãs e de fins de tarde: crianças e mulheres na praia; homens, no bar.


A rotina de bar e praia se mostrou satisfatória até o terceiro dia quando, alguns dos amigos, empolgados com as cervejas e a vista de lindas mulheres de biquínis quiseram estender o expediente tarde adentro retornando para casa quase alta noite.


O grande problema disso tudo é que, quanto mais ficávamos no bar, mais as bebidas – já não se engolia apenas cerveja – pulavam goela abaixo, animando os camaradas a contarem piadas, provocarem rivais de times de futebol, abordarem temas políticos sem importância, atacarem as denominações religiosas, discordarem dos acordos trabalhistas de grandes empresas, paquerarem descaradamente as meninas de dezoito ou vinte anos cujos cabelos pareciam a continuação do mar. Entre uma e outra paquera, o namorado de uma das meninas avançou sobre a mesa. Escapamos da pancadaria. O garçom – acostumado a esse tipo de situação e prevendo aquele resultado a qualquer momento – conversou com o surfista sugerindo-lhe esquecer o incidente e voltar à noite para uma bebida por conta da casa. Por conta da casa? Que nada! Quando saímos – ou melhor, quando fomos convidados a nos retirar – notei acréscimos em nossa conta.


Quase sete horas quando entramos em casa. Os meninos brincavam de bola na frente, outros jogavam cartas aos fundos. As meninas liam revista de fofoca, informando-se sobre o desaparecimento do sapato de apresentadora de televisão avaliado em dez mil reais e pago em dezenas de parcelas no cartão de crédito. Duas esposas descansavam nas redes: uma, folheando a revista nos últimos raios de sol; a outra, ressonando profundamente.


Jogamos alguns colchões no único espaço livre: o corredor entre a cozinha e a sala. Um dos amigos de copo trouxe três ventiladores. Espalhou-os de tal maneira que o vento atravessasse de um lado a outro sem interrupções. Apertou o botão do primeiro: nada. O do segundo: nada. O do terceiro: nada. Levantamos todos na intenção de ajudá-lo e cada um, conforme seu extraordinário e nulo conhecimento de eletrônica e de aparelhos domésticos, opinava, forçava a hélice, verificava se a tomada estava bem encaixada...


Depois de conferir todos os itens básicos e de o suor escorrer intransigentemente pela temperatura elevada do janeiro torrencial, a paciência se esgotou e um dos amigos arremessou o ventilador – adquirido dias antes de nossa viagem – contra a porta do banheiro. O segundo ventilador – pertencia a outro amigo que tomara quase meia garrafa de aguardente, dois copos de conhaque e cervejas – socou seu aparelho, convencendo-se de que se tratava de mau olhado da sogra, deixada com o cunhado. Solidário aos amigos, já me preparava para acabar com o meu quando a esposa do dono do primeiro ventilador, que ressonava tranqüilamente na rede, entrou esbaforida:


- Como vocês querem – perguntou, entre quase dormindo e irritada – que os ventiladores liguem se estamos sem energia elétrica desde o início da tarde?

*Publicado originalmente na coluna Ficções, Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 11 de janeiro de 2013.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

JANTAR FINO


Os restaurantes considerados de elite – berços da fineza e do bom gosto – despertam-me curiosidade. Recentemente entrei num deles no cruzamento da Avenida Rui Barbosa com a Clóvis Bevilaqua a convite de conhecido que, sabendo de minha ojeriza aos gastos excessivos, comprometeu-se a pagar o que pedisse. Via das dúvidas, precavido nos casos de comida, estacionei numa barraquinha e pedi dois cachorros-quentes e uma lata de Coca-Cola ao fim dos quais retomei a Rui Barbosa até parar dois quarteirões acima onde, disfarçado atrás do muro, o flanelinha ofereceu serviços de fiscalização.


Busquei meu conhecido entre as mesas. Identifiquei-o de costas à rua. Conversava com dois casais e uma mulher, pelos ombros largos e pela desenvoltura das pernas, atleta de exercícios regulares. Sentei-me ao lado. Num rompante de entusiasmo – já bebera quatro ou cinco copos de vinho, apresentou-me os dois casais: o grisalho, capitão aposentado da polícia acompanhado da esposa; o calvo, professor de universidade pública do Paraná passeando na cidade com a namorada. A garota de ombros largos e pernas desenvoltas, irmã dele.


Conversavam a respeito das últimas crises políticas. O capitão defendendo aplicação de penas severas aos infratores da lei e o professor, contrapondo-se à opinião do militar, propondo oportunidades reais aos excluídos pelo mundo capitalista selvagem. A conversa continuaria noite adentro se meu conhecido não tivesse perguntado o posicionamento de ambos sobre o campeonato brasileiro de futebol e a aparente hostilidade se transformasse em simpatia pelo fato de ambos – embora não residissem no Rio de Janeiro – torcerem fanaticamente pelo time imortalizado por José Lins do Rego em suas crônicas.


Quando sentei-me, o capitão informara que já tinham feito o pedido. Dali a meia hora, ensopado cujo nome, difícil de pronunciar e impossível de entender, assemelhava-se à saudação nazista. O cheiro deu-me náuseas. Condenei em pensamentos os cachorros-quentes e a Coca-Cola, prováveis responsáveis pelo mal estar. Constatando meu desconforto, uma garçonete abriu a janela.


O garçom distribuiu de maneira proporcional o ensopado, recusado imediatamente por mim que, sem grande esforço, contentava-me com o copo de água mineral sem gás. O capitão e o professor – desconfiados do petisco – optaram por leves colheradas contrariando as esposas e a irmã de meu conhecido que encheram seus pratos. Em poucos minutos, não apenas as três mulheres, mas também o capitão, o professor e meu conhecido deliciavam-se pela segunda vez, elogiando excessivamente a iguaria estrangeira perfeitamente elaborada e cuidadosamente cozinhada num restaurante de interior.


- Você não sabe o que está perdendo, sentenciou o capitão, mastigando maravilhadamente os pequenos pedaços de carne.


- Além do Flamengo, acrescentou o professor, concordo com o oficial: você não sabe o que está perdendo. Se soubesse, já teria entrado em crise de consciência.


Meu conhecido correu à travessa ao meio da mesa, encheu o prato, sugando o caldinho vermelho. As esposas do capitão e do professor – até então silenciosas e comportadas – também se alvoroçaram de maneira que, ao se aproximar, a irmã de meu conhecido nada mais encontrou. Todos razoavelmente satisfeitos e oito garrafas de vinho esgotadas. Aguardamos numa sala aconchegante onde poltronas confortáveis dividiam espaços com cardápios de quarenta e sete espécies de café. Retomamos a conversa e, sem me manifestar exageradamente, bebi duas xícaras de Caramelo Latte ao fim das quais o gerente, ajustando a gravata e vislumbrando o corte do cabelo no reflexo do vidro da porta, apareceu com a conta.


- Adoramos a comida de hoje, mas não entendemos o nome. Poderia traduzi-lo? Meu amigo indagou, puxando o cartão de crédito, pegando do chão e do braço do sofá algumas moedas caídas da carteira.


- Claramente, respondeu o gerente. Os senhores comeram testículos e intestinos de boi banhados ao molho rosé.


Preciso acrescentar que fiquei sozinho na sala de café? Jantar fino realmente não é para mim.


*Publicado originalmente na coluna Ficções, caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 4 de janeiro de 2013.