quinta-feira, 28 de maio de 2009

Tiro pela culatra

Não que fosse inteiramente dedicado aos vícios da carne, mas não dispensava uma linda morena se ela quisesse manter um relacionamento discreto. Casado, evitava despertar os ciúmes da esposa, apesar de frequentemente provocá-la inventando peripécias amorosas com outras mulheres nos caminhos da imaginação.

Os caminhos da imaginação ficaram para trás quando se envolveu seriamente com a faxineira do restaurante industrial. Trabalhavam praticamente nos mesmos horários, roubando trinta ou quarenta minutos diários para conversas, beijos, abraços e amor.

A esposa ignorava as aventuras do marido. Preocupava-se com a escola dos filhos, os jogos de carta do pai e as revistas semanais de fofocas que antecipavam incorretamente os capítulos das novelas da semana. Sua vida continuaria cotidiana e irrelevante se o bolso da calça do marido não contivesse um poema de três linhas, escrito numa letra redonda azul e cingido de corações vermelhos atravessados por flechas mal desenhadas.

Se até aquele momento as provocações do marido e as indiretas das alcoviteiras não lhe tiraram o bom humor, o poema de Manuel Bandeira, dando nome à amante, fizera-a perder a noite, rolando de um lado a outro na cama, olhando raivosamente o marido, dormindo tranqüilo, barriga grande virada para cima.

- Eu te mato, ah se te mato, sussurrava, apoiando a cabeça na mão esquerda.

Quando o sol irrompeu a janela de vidros velhos do quarto do casal, a esposa já dispusera uma bandeja de café da manhã. Queijo, presunto, ovos mexidos, pão francês, baguete, margarina, suco de uva e de laranja, café, leite, chocolate, duas fatias de mamão e de melão, dois cajus e um copo de vinho do porto. O marido começaria a devorar os alimentos sem remorsos, entretanto pensou que esquecera alguma coisa. Aniversário de casamento? Aniversário dela? Aniversário de algum dos filhos? Data especial? Por que a simpatia insólita?

- Eu te amo. Fiz esse agradinho só porque te amo!

O marido sorriu, beijou-a rapidamente e parou na esquina a fim de esperar a passagem do caminhão do lixo. A esposa, acordara cedo e emprestara a moto do irmão, seguiu-o, parou a alguns metros do restaurante, embaixo de uma árvore velha e enlouqueceu ao vê-lo estacionando, beijando uma mulher que não era nem bonita, nem jovem, mas visivelmente fogosa.

Abriu o banco da moto, tirou um cano de ferro, jogou o capacete lá dentro e caminhou rapidamente para o restaurante. Tão rapidamente que o marido e a amante ainda não tinham alcançado a porta quando a esposa, gritando “meu bem”, acenou e estraçalhou vidros, teto, lataria e faróis do automóvel cuja última prestação seria quitada em três anos.

Marido e amante dispensados antes do almoço. Para o marido, o problema seria contornar a situação em casa, enrolar a mulher, inventar uma desculpa aos filhos e ficar algum tempo trancado para fugir dos olhares interrogativos dos vizinhos.

Pensando no desemprego involuntário, a amante procurava um lugar para passar a noite até que o marido, motivo de chacota de amigos que já deveriam saber da notícia, esfriasse a cabeça.

*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 28 de maio de 2009.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Testemunha profissional

Começou meio por acaso, ouvindo o sufoco de um amigo que penava em encontrar uma testemunha para um caso que lhe renderia bons dividendos. Se achasse uma...

O trabalho em três empresas em duas cidades produzia mais prejuízo do que lucro. Desde os tempos do doutorado a esposa, crente de que o marido enriqueceria, planejava viagens ao estrangeiro e a aquisição de alguns produtos franceses de beleza. Pinturas para os cabelos, para as faces, cremes para as mãos, os ombros e as costas, máscaras anti-envelhecimento.

Dois anos de lutas diárias para manter o orçamento com um pouco de folga levaram a esposa às lágrimas, ora pelo carro (ainda sendo pago), ora pela casa (aluguel quase sempre atrasado), ora pela viagem a Paris (perdida em algum arquivo de sonhos). Aos fins de semana, pastel oleoso com suco de laranja numa barraquinha do Parque.

Curioso, perguntou quanto pagaria para testemunhar uma vez.

- Sete mil reais.

Sete mil reais para falar quinze minutos numa tarde correspondiam a quase três vezes o que ganhava trabalhando quarenta e cinco dias. No início a esposa rechaçou a hipótese, ponderou das implicações penais, reclamou do desvio de conduta, da falta de ética e de comprometimento com a justiça. Mudou de opinião quando viu as parcelas do carro adiantadas, jantou em restaurantes de revistas, o senhorio a cumprimentou efusivamente na fila do correio e o dono do supermercado enviou folhetos com ofertas do dia acrescentando, à mão, que poderia passar cheques diretos para trinta ou sessenta dias.

Abandonou as empresas, encerrou o título de doutor embaixo do colchão, livrou-se da biblioteca de três mil e quinhentos volumes (livros, revistas, jornais, anotações, fotos, discos), jogou no lixo as angústias financeiras e abriu uma consultoria testemunhal.

A consultoria funcionava perfeitamente e empregava cinco pessoas: ele, a esposa, a sogra, a cunhada e uma amiga de faculdade que, mesmo qualificada academicamente, abriu mão de vaidades intelectuais para se dedicar exclusivamente ao empreendimento que não lhe rendia menos de cinco mil e quinhentos reais.

Outra noite, durante um jantar, alguém perguntou se sua empresa não feria os princípios da moralidade. Ele baixou a cabeça, pensou um pouco.

- Os ditadores brasileiros tinham princípios e mataram dezenas de milhares de pessoas. Hitler possuía princípios que considerava nobres, livrou-se de milhões de judeus, de deficientes físicos, de ciganos e de homossexuais. O ex-presidente Bush se diz cristão, mas que homem de princípios cristãos permitiria que outros homens fossem afogados em caixas d’água, sofressem choques elétricos e agressões em seus órgãos genitais, tivessem suas famílias destruídas, seus bens confiscados e sua dignidade violentada?

O interlocutor parou de sorrir. O jantar prosseguiu. Caviar, vinho do Porto, queijos franceses e chocolates suíços pagos em euro.

*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 21 de maio de 2009.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O poliglota

O fazendeiro espalhava que o filho seria doutor e falaria inglês. Quem falava inglês falava no mundo inteiro, pronunciava em bom tom.

A idéia de aprender o idioma surgiu num fim de semana. Louco por boates, mulheres, uísque, sinuca, cartas e o que se relacionasse à boemia, escreveu ao pai pedindo acréscimo de duzentos reais ao orçamento mensal. Para estudar inglês, destacava com caneta vermelha.

O pai desconfiou. Achava um absurdo o filho abandonar a terra. Além de doutor, queria falar inglês. Ele enriquecera sem nem assinar o nome. Por que o filho precisava aprender inglês?

Chamou o empregado da venda que mantinha na beira da estrada, deu-lhe caneta e papel e iniciou o ditado da recusa. Humilde, o empregado enumerou os possíveis benefícios que o garoto, sabendo falar inglês perfeitamente, traria aos negócios da fazenda.

- Lembra do Jovino? Ele começou a vender pros estrangeiros e enriqueceu. A filha dele que falava inglês fechava os negócios. Até casou com um brancão do outro lado do mar.

Por um minuto os olhos do fazendeiro perderam-se em terras oniricamente povoadas de bois de todos os tamanhos, de todas as raças, de todas as cores. Os bois falavam inglês e enchiam o bolso do fazendeiro de dólares.

Em três tempos a carta gritava na caixinha de correio improvisada no portão: o consentimento e o envio mensal não de duzentos, mas de trezentos e cinqüenta reais. Talvez precisasse comprar uns livros, discos para aperfeiçoar a audição, cadernos importados. Quem sabe se não precisaria comprar uns dólares?

O pai pagou o curso de inglês durante quatro anos. Todo quinto dia útil o dinheiro depositado de manhã batia asas no fim da tarde. À noite, o filho:

- Pode fechar! Tudo por minha conta.

Quando entrou no último ano de faculdade, o pai o chamou à fazenda para tratar de alguns negócios. Passava das dez quando ouviu a voz da mãe na cozinha.

- Tens certeza do que vais fazer? Nem falaste ao menino que esse povo de língua enrolada vem aqui para tratar de boi. E se ele ficar nervoso?

- Que nervoso que nada! Sorria o pai. Filho meu tem que ser macho. Faz três anos que todo mês eu mando dinheiro para aprender inglês. Então, tem que falar inglês. De trás para frente e de frente para trás. Não engulo desaforo de ninguém. Nem do meu filho.

Encolheu-se na cama, revirou-se, pensou na enrascada em que se metera. Quatro anos jogados fora e nem palavra de inglês.

- Acorda! Acorda! O pai entrou gritando e batendo forte na porta. – Quero te ver de pé em dez minutos.

Enquanto fazia a barba, um violento desconforto estomacal o atacou. Suava frio, respirava com dificuldades, sentia vertigens. Quatro anos e nem palavra de inglês? Pior seria a mãe. Decepcionada, choraria ao descobrir a mentira.

Dois homens de paletós pretos, gravatas impecáveis e lenços nos bolsos sorviam o resto da terceira xícara de café e partiriam para a quarta caso o filho não aparecesse e o pai não se levantasse, apontando-o e abrindo um sorriso orgulhoso.

- Good morning, Mr. Silva. We are here today for buying some cows. Good cows.

O filho estendeu a mão, olhou para o quadro de São Francisco de Assis pendurado na estante, pediu arrependidamente sua intervenção, porém previa o desastre ao apertar a mão do inglês e retrucar amistosamente:

- Good Morning. How are you?

Os compradores iniciaram as propostas por vacas leiteiras que produzissem dezessete litros diários. A quantidade seria impossível na Inglaterra, mas tinham notícias consistentes de que as vacas daquela fazenda alcançavam a meta sem grandes dificuldades.

Da maleta retiravam planilhas da área agrícola da empresa assim como da industrial que transformava o leite em produtos de consumo exportados inclusive para o Brasil. O filho ouvia como se entendesse, alternando feições de sorriso e de seriedade, de aprovação e de restrições.

O pai olhava ora os ingleses, ora o filho, as planilhas repletas de desenhos incompreensíveis, novamente o filho. Este nada entendia. A angústia aumentava. Vez por outra fitava a imagem de São Francisco de Assis, rodeado de coelhos, gatos, cachorros, passarinhos, tartarugas. Provavelmente precisaria recorrer a Santo Expedito ou Santa Rita de Cássia, mas lembrava o tempo de fazenda, o trato com os animais. Quantos galos, galinhas, leitões e bezerros não livrara do forno? As vistas forçadas e a testa enrugada desviaram a atenção dos compradores que elogiaram o quadro singelo, mas de profunda manifestação da arte, exclamava o mais gordo.

Explanação finalizada, perguntavam sobre a qualidade do leite, a imunização das vacas, a expectativa de vida do bicho. Sem entender nada, o filho inicialmente limitou-se a repetir good morning. Depois, inventou palavras sem nexo. Os ingleses se entreolhavam espantados.

O pai quis saber o que falavam. Sem escapatórias. Via-se expulso, escorraçado, amaldiçoado. Deu-lhe um frio na barriga, uma moleza nas pernas, um suor frio escorrendo imaginariamente pela testa. Acabaria com o teatro, mas um fio de sol quente espumou sobre o retrato de São Francisco de Assis que pareceu piscar o olho esquerdo.

De repente, o filho começou a revidar bruscamente, a gesticular estupidamente, a sentar-se e a levantar-se insistentemente.

- O que está acontecendo? Perguntava o pai, aflito.

- Acho melhor o senhor não saber.

- Tenho que saber. Sou o dono da casa, da fazenda. Eles vieram aqui para comprar minhas vacas.

- Eles estão falando desaforos.

- Como assim? Desaforos?

- Desaforos contra o senhor e contra a mãe. Que o senhor é um matuto, que a mãe é uma caipira e que as casas dos porcos da Inglaterra são mais limpas do que a nossa.

- Mande eles saírem daqui agora.

- Já mandei. Eles não saem.

O fazendeiro entrou no quarto, saiu carregando uma espingarda de cano duplo à vista da qual os visitantes puxaram as maletas, puseram os chapéus e saíram ligeiros para o carro, atingido na lataria por dois tiros.

- Aqui eu não engulo desaforo. Nem na minha língua, nem em nenhuma outra.

*Publicado originalmente em “Contos selecionados de novos autores brasileiros” (CBJE, 2009).

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Côncavo e convexo

- Do côncavo e o convexo / Assim é nosso amor...

- Roberto Carlos!

Deixou de passar os produtos do carrinho para o balcão, olhou para trás, garota de saias engraçadas segurando três caixas de leite e um pacotinho de alface. Tão antiga e tão incomodamente romântica, a canção não poderia integrar o repertório de quem teria menos de vinte anos, trajes conotando a imagem de estudante desleixada.
Sorriu interiormente, pensando ouvir vozes.

- Cada parte de nós / Tem a forma ideal / Quando juntas estão...

- Coincidência total...

Terminou de passar as compras, passou um cheque para trinta dias, recolheu as sacolas e encaminhou-se para a saída, buscando as chaves do carro no bolso cheio de papéis, documentos, dinheiro e rascunhos de música. Fã de Roberto Carlos, compunha desde tempos distantes, mais pela necessidade de alimentar esperanças de encontrar a mulher. A procura se estendeu. Já beirava os cinqüenta anos.

Uma namorada gostava de bailes sertanejos aos fins de semana. A outra passava o dia cantando Zeca Pagodinho, voltando a faixa do disco que exaltava a vadiagem, trocando o “vai” por “vou”. A terceira detestava música – razão pela qual a namorou apenas cinco semanas. A quarta, fã confessa de Sinatra. A quinta delirava por Legião Urbana...

Eclético, não se incomodava com as preferências musicais, religiosas ou ideológicas, mas ainda não descobrira quem reconhecesse a grandiosidade do rei da música brasileira contemporânea.

Desativou o alarme, jogou as sacolas no porta-malas, abriu a porta, engatou a ré antes de ligar o carro e, livrando-se cautelosamente do estacionamento apinhado, lembrou da intervenção da menina complementando “Côncavo e convexo”. Talvez se tivesse falado algo, se apresentado, deixado o telefone ou pegado o endereço eletrônico... O que falariam se o vissem transitando com uma garota, menos de vinte anos? Assédio? Pedofilia? Imoralidade?

Rechaçava a idéia de abordá-la. Quanto tempo mais ficaria sozinho? Mais três ou quatro? Décadas?

Preparava-se para finalmente abandonar o estacionamento do supermercado quando a garota estacou, sacola de caixas de leite na mão direta e o pacote de alface na esquerda. Ele parou, cedeu-lhe passagem. Desfilou na frente do carro, olhando para o chão e caminhando desleixadamente. Olhou aquelas saias berrantes, acelerou um pouco. Desligou o veículo.

- Nosso amor é demais / E quando amor se faz / Tudo é bem mais bonito.

- Nele a gente se dá / Muito mais do que está / E o que não está escrito.

Abriu a porta do carro, caminhou para ela.

- Estou indo para a Vila Prudenciana. Posso te dar uma carona, se você quiser. Arrebatou o leite, esbanjou um sorriso tímido e incomum.

Ela titubeou, ele incomodou-se. Recusaria o convite? Mais anos procurando um novo amor?

- O único problema, disse ela, olhos tímidos, é que moro no Jardim Europa.

Devolveria a sacola à dona.

- Se você não tiver pressa nem se incomodar, pode me deixar lá. Pago sua gentileza com café e pão de queijo. Mas não pode ter pressa, pois demoro para fazer a massa...

Para quem desejar ouvir "Côncavo e convexo", clique AQUI.


*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 14 de maio de 2009.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Linhas para minha mãe

Para Veralúcia Regis do Nascimento Silva

Quando se aposentou, minha mãe cobrou do meu pai a promessa de retornar à cidade de onde saíramos em busca de melhores oportunidades. Meu pai, com estilo diplomático peculiar, perguntou se ela realmente queria voltar para nossa cidade, separando-se dos filhos com quem mantinha forte vínculo emocional. Três mil e seiscentos quilômetros não poderiam ser transpostos como se estivéssemos em cidades ou em bairros vizinhos.

Por uma necessidade que desconheço, minha mãe se justifica, enumerando as conquistas que obtivemos: duas especializações em saúde coletiva e em saúde mental concluídas exitosamente por meu pai assim como as ações comunitárias e altruístas desenvolvidas por ele; meu mestrado e minha especialização em história, domínio de três ou quatro idiomas e minha coluna de crítica literária no “Jornal de Assis”; os trabalhos manuais de Regis ou as dezenas de ofertas de trabalho recebidas por Jovian, que minha mãe não cansa de espalhar que é uma sumidade na área de informática.

Talvez por minha mãe e eu possuirmos o mesmo gênio irascível, a mesma franqueza esmagadora e a mesma impaciência temperamental encontramos algumas dificuldades para derrubarmos as barreiras que se constroem em decorrência de nossos embates.

Se as palavras faladas não fluem, as escritas registram permanentemente um sentimento de admiração profunda pela coragem, pela determinação e pela fé que movem minha mãe. Coragem, determinação e fé que não integram minha personalidade, mas que não me impedem de dizer que, ao sairmos de nossa cidade natal, demos o primeiro passo para transformações significativas. Nossa felicidade independe da cidade onde morávamos, onde moramos ou em que moraremos.

Não importam as especializações ou os trabalhos comunitários do meu pai, mas sim a paciência e a compreensão com as quais a tratará depois de compartilhar as angústias, os sofrimentos e as indignações.

Qual a relevância de eu gostar de ler, de falar três ou quatro idiomas ou de escrever no jornal? O que realmente importa é que entrarei em casa gritando, berrando, batendo nas mesas, chutando cadeiras, portas e móveis, perguntando se tem algum doido ali e minha mãe respondendo que acaba de chegar um.

O que vale a pena é saber que todos os dias minha mãe vasculhará e desordenará os objetos de Regis que, apenas semanas depois, descobrirá e reclamará com ela. Mas tem que ser assim, pois minha mãe não dormirá feliz caso não brigue com meu irmão do meio.

O que vale é saber que Jovian ouvirá atentamente suas dúvidas de computação e, com a habitual calma que admiro, lhe explicará sem reclamar os mesmos procedimentos explanados dezenas de vezes.

O que vale, o que vale mesmo, o que vale de verdade, é saber que formamos uma orquestra cujo instrumento principal é minha mãe. Assim como em qualquer orquestra, todos os instrumentos não são nem melhores, nem piores, nem maiores, nem menores, nem mais nem menos importantes, mas todos são imprescindíveis e indispensáveis, mas minha mãe, além de imprescindível e indispensável, é essencial.

Por isso, quando conversar com seus amigos da “nossa terra”, esclareça-lhes que não existe a “nossa terra”, mas sim a “nossa família”: a “nossa orquestra”, de que, com peculiaridades, discrepâncias, divergências e amor, carinho e solidariedade, eu me orgulho de ser apenas um aprendiz em busca de afinação onírica.

*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 7 de maio de 2009.