Percebe a mudança nos
últimos tempos: Roberto Carlos mantém a posição, entretanto muda de estilo. Do
topo das mais românticas assume o primeiro lugar das mais bregas. Os
espetáculos de fim de ano perdem audiência. As fórmulas de apresentação, luzes,
palco, figurinos, caras e bocas se repetem incansavelmente. Possível até mesmo
descobrir quais músicas não faltarão ao repertório naquela noite.
Talvez por essa razão
silencie sobre gostos, amores e preferências musicais durante o jantar marcado
por meio de um site de relacionamentos. Desde a separação da última namorada,
um ano e meio antes, tenta algum encontro. Contudo, a calvície avassaladora, o
corpo apresentando as manifestações dos muitos quilos acima do ideal, os
problemas financeiros – o levaram a devolver a moto e o carro financiados – e
os imbróglios na Justiça por causa da pensão impedem a busca da felicidade.
Ela fala do governo,
do descontrole da inflação, das correrias de amigos em busca de aposentadoria,
de desemprego, da volta por cima, de como trocara a gerência de agência de
banco em São Paulo pelo cargo de professora do estado numa cidade de pouco
menos de dez mil habitantes e, aprovada recentemente no concurso da prefeitura
de Curitiba, das dificuldades de adaptação à capital dos paranaenses, conhecida
especialmente pelos contos de Dalton Trevisan, a quem dedicara dois anos e seis
meses de estudos contínuos em um mestrado.
Ele – mal fala –
concorda com seus posicionamentos. Vez ou outra articula mais de cinco sílabas.
Antes de caírem no silêncio, ela retoma a conversa. Ele a observa: anos mais
nova, vida tão agitada e tão cheia de histórias. O garçom leva a conta. Dividem:
ele, dinheiro; ela, cartão de crédito; ele, balas; ela, café. Os dois, frases
comuns à despedida.
Ele sugeriria esticarem
a algum bar ou mesmo até sua casa. Cerveja ou vinho. Beijos, abraços, sexo. Ela
aceitaria sem resistências. Despedem-se.
Já em casa,
solitariamente procuram novos rostos nas redes sociais para, em breve,
jantarem, conversarem, terminarem a noite ouvindo solitariamente as melhores do
rei. Roberto Carlos: tão fora de moda, tão permanente.
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