terça-feira, 22 de janeiro de 2019

JANTAR DOS DEUSES


Aceita prontamente o convite do amigo para jantar na casa da mãe. Conhece tanto a casa quanto a mãe desde o período em que ele e o amigo jogavam futebol na Barra Funda. Ele, centroavante; o amigo, goleiro. A primeira lembrança toma conta da imaginação: suculentos pedaços de alcatra, farofa, vinagrete, arroz carreteiro – especialidade materna – e inúmeras garrafas de Coca-Cola.
Desde a mudança do amigo para Noruega – trabalha numa organização ambiental – catorze anos atrás, limita-se a trocar algumas mensagens pelas redes sociais e pelo zap. Agora, férias de janeiro, encontra-o casualmente na banca de revistas, reconhece-o pela tatuagem de bola empacando no travessão, abraça-o, recebe o convite do jantar.
Acorda por volta das seis da manhã. Escova os dentes. Faz a barba. Toma banho e xícara de café. Come dois pães com ovo. Volta a tomar café. Lê o jornal. Anota os itens da compra de supermercado. Telefona para o veterinário. À porta do apartamento, conversa com a vizinha sobre os problemas hidráulicos. Orienta o porteiro a redobrar a segurança. Caminha pelo comércio. Sabendo do suculento jantar, restringe o almoço a três tomates: - Quanto mais espaço, mais eu como, sorri, feliz.
Graças aos programas de piadas na internet, a tarde passa rapidamente. À casa da mãe do amigo, as vistas escurecem, denunciando a fome. Relembra da velha sala, dos filmes pornográficos da adolescência, do pai do amigo tocando violão. Estranha a ausência do cheiro do churrasco. Entre uma conversa e outra, passam-se quase duas horas ao fim das quais o amigo convoca à churrasqueira.
- Espero que gostem! Um jantar para saudar a mãe natureza!
Sobre a mesa, tomates, alfaces, rúculas, pepinos, uvas, maçãs, bananas, berinjelas, morangos, laranja, manga...

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