Aceita prontamente o
convite do amigo para jantar na casa da mãe. Conhece tanto a casa quanto a mãe
desde o período em que ele e o amigo jogavam futebol na Barra Funda. Ele,
centroavante; o amigo, goleiro. A primeira lembrança toma conta da imaginação:
suculentos pedaços de alcatra, farofa, vinagrete, arroz carreteiro –
especialidade materna – e inúmeras garrafas de Coca-Cola.
Desde a mudança do
amigo para Noruega – trabalha numa organização ambiental – catorze anos atrás,
limita-se a trocar algumas mensagens pelas redes sociais e pelo zap. Agora,
férias de janeiro, encontra-o casualmente na banca de revistas, reconhece-o
pela tatuagem de bola empacando no travessão, abraça-o, recebe o convite do
jantar.
Acorda por volta das
seis da manhã. Escova os dentes. Faz a barba. Toma banho e xícara de café. Come
dois pães com ovo. Volta a tomar café. Lê o jornal. Anota os itens da compra de
supermercado. Telefona para o veterinário. À porta do apartamento, conversa com
a vizinha sobre os problemas hidráulicos. Orienta o porteiro a redobrar a
segurança. Caminha pelo comércio. Sabendo do suculento jantar, restringe o
almoço a três tomates: - Quanto mais espaço, mais eu como, sorri, feliz.
Graças aos programas
de piadas na internet, a tarde passa rapidamente. À casa da mãe do amigo, as
vistas escurecem, denunciando a fome. Relembra da velha sala, dos filmes
pornográficos da adolescência, do pai do amigo tocando violão. Estranha a
ausência do cheiro do churrasco. Entre uma conversa e outra, passam-se quase
duas horas ao fim das quais o amigo convoca à churrasqueira.
- Espero que gostem!
Um jantar para saudar a mãe natureza!
Sobre a mesa,
tomates, alfaces, rúculas, pepinos, uvas, maçãs, bananas, berinjelas, morangos,
laranja, manga...
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