sexta-feira, 18 de julho de 2008

A Literatura muda as pessoas?

Um leitor do "Jornal de Assis" enviou-me uma mensagem eletrônica perguntando se a Literatura muda as pessoas, tornando-as mais humanas e melhores.

Sinceramente eu não sei. Acredito que a Literatura possa mudar, mas ler Literatura não significa necessariamente que a pessoa vai se tornar melhor ou aprenderá novos conceitos ou se tornará mais humana.

A maioria dos dirigentes do estado nazista lia Literatura, sabia de cabeça fragmentos extensos de filósofos e trechos completos de música clássica. Nem por isso os nazistas respeitaram as diferenças entre povos, religiões, sociedades, costumes e hábitos.

O alemão Thomas Mann - não faço nenhuma associação dele ao nazismo - é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. No entanto, não são poucos os estudiosos que apontam uma distância entre ele e o filho assumidamente homossexual. A Literatura não deveria abrir as portas para o entendimento universal e a aceitação das diferenças?

Aqui no Brasil, dois importantes intelectuais que liam Literatura apoiaram movimentos autoritários na condução dos negócios do estado.

Filósofo e jurista internacionalmente reconhecido, professor da Universidade de São Paulo e reitor dela por duas vezes, professor de Literatura até mais ou menos quarenta anos de idade, membro da Academia Brasileira de Letras, documentos informam que Miguel Reale apoiou a ditadura militar praticada entre 1964 e 1985.

Matemático exímio, economista de renome mundial, professor da Fundação Getúlio Vargas, por onde doutorou-se, poliglota e amante de ópera, Mário Henrique Simonsen assumiu ministérios em mais de um governo da ditadura militar.

Miguel Reale e Mario Henrique Simonsen. Dois intelectuais de grande valor, literatos secretos, poliglotas, leitores profissionais, escritores. Apoiaram o regime militar. Um regime que torturou dezenas de pessoas, matou outras centenas, impediu a liberdade de imprensa e de manifestação. Um intelectual ou escritor poderia se opor à liberdade de expressão, de imprensa, do exercício pleno dos direitos fundamentais?

Esses são apenas alguns exemplos de que a Literatura pode, mas não necessariamente muda o modo, a vida e o estilo das pessoas. Afinal, quem respalda um regime autoritário que mata e tortura pessoas, o que é?

Mesmo assim, ainda insisto que as pessoas se deleitem com a poesia exalada da Literatura. Pode ser que a vida dos leitores se transforme pouco. Pode ser que se transforme muito. Pode ser que permaneça estagnada. Mas, de todas as maneiras, convido os leitores a lerem Literatura, pois apenas Ela possibilitará uma transformação ou, pelo menos, uma tentativa de metamorfose...

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