Treze anos de casamento: monotonia, rotina, cansaço, falta de criatividade. A esposa reclamava da atuação noturna.
- Ou achas uma maneira de mudarmos, ou acabo tudo. Ouviste? Acabo tudo! Tudo!
Confidenciando o problema aos amigos do futebol noturno de quarta-feira, ouviu uma sugestão pragmática: produtos eróticos.
Procurasse algumas sugestões em páginas de internet: algemas, orelhas de coelho, focinhos de porco, lingeries esgarçadas, chicotes, botas pretas de cano alto, camisolas curtas e transparentes.
- O que você quiser – e também o que não quiser – você encontra. Pode confiar.
Esperou a esposa deitar-se, os filhos dormirem e os vizinhos da esquerda e da direita apagarem as luzes na esperança de se sentir sozinho durante a prática de atividade reprovada, mas altamente instigante, deslumbrante, excitante.
Um amigo mais afoito passou-lhe três endereços eletrônicos nos quais poderia adquirir produtos de excelente qualidade facilitados em cinco vezes no cartão de crédito.
- No cartão de crédito? E se alguém pegar?
- Na fatura do cartão os gastos vêm descritos como lanchonete, restaurante ou farmácia. Qualquer um gasta num lugar desses e depois nem sem lembra.
Milhares de ofertas fizeram-no se deter mais tempo do que esperava de modo que o relógio o amedrontou às seis e vinte. Desligou o computador correndo, entrou no banheiro e quando sentou-se no vaso sanitário sentiu o alívio de a esposa bater na porta pedindo que se apressasse. Escorregou a tampa do vaso, tirou a roupa e saiu sorridente.
Depois do almoço, juntou quatro cadeiras no meio da sala de reuniões, improvisou um travesseiro com grossa e velha lista telefônica escondida atrás de um vaso para segurar a porta sempre que necessário.
A secretária o acordou minutos antes de um grupo de colaboradores de uma filial entrar pelo corredor lateral e se apossar do ambiente espalhando olores femininos. Os olores trespassaram as frestas das janelas, percorreram o corredor central e invadiram sua sala instigando o interesse noturno.
Chegou mais ou menos seis e meia, tomou banho, comeu qualquer coisa e se jogou na cama acordando às onze e quinze quando a mulher, filhos colocados na cama, vestia a camisa velha e a bermudinha com furo no lado direito. Disse para ela que precisava concluir um relatório.
Voltou a uma das páginas da internet, encantou-se com um chicote que parecia maior do que ele, um par de algemas de prata e um lingerie preto de chocolate.
Cinco dias depois a recepcionista entregava-lhe um pacote lacrado com papel madeira e um aviso de recebimento. Olhou curiosamente as letras do seu nome e o endereço do escritório. O amigo entrou na sala quando contemplava o embrulho.
- Boa sorte, disse ao cruzar com ele.
Os amigos o rodearam assim que chegou ao futebol noturno de quarta-feira. Cara triste, jeito discreto, cabisbaixo. Indagado sobre a noite, voltou a carro e mostrou os produtos eróticos que mudariam seu casamento: o chicote tinha menos de quinze centímetros, as algemas mal davam para prender os punhos da boneca da filha e o lingerie preto de chocolate derretera com o calor e os solavancos da viagem.
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 19 de novembro de 2009.
3 comentários:
ta\m´bem passei uma vez assim e não valeu nada bom texto
Coitado! Mais uma noite de frustação.
Não dá muito certo comprar produtos eróticos pela internet. Uma vez comprei um chicotinho, quando chegou na cabia nem na mão e não minha chicotada o bicho arrebentou. kkkkkkkkkk
Parabéns, adorei sua criatividade.
Coitado! Mais uma noite de frustração.
Não dá muito certo comprar produtos pela internet. Uma vez comprei um chicotinho, quando chegou fiquei frustrada, o tal era tão pequeno que mal dava para pegar e pior, na primeira chicotada o bicho arrebentou. kkkkkkkkkkk
Parabéns, adorei sua criatividade.
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