domingo, 18 de janeiro de 2009
Para acabar com a insônia
Depois de quinze minutos de leitura de um livro encontrado na mesa de trabalho da esposa, deitou-se e dormiu. Há quinze anos não se sentia tão extenuado e preparado para dormir.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Meu neto é um gênio
Um amigo e eu nos encontramos casualmente numa das fabulosas praias de Florianópolis. Como fizesse muito tempo que não nos falássemos, começou a contar do sucesso dos filhos, da felicidade de brincar com os netos e, olhando-me meio sorrateiro, falou que gostaria de contar de um neto que era um gênio.
Numa tarde, levou o menino para assistir a uma palestra numa universidade pública. O conferencista falou por mais de uma hora e meia sobre redimensionamento do meio-ambiente e da relevância de todos os segmentos sociais darem as mãos numa situação tão importante quanto aquela: salvar o mundo. O menino nada entendeu, mas ao fim o avô disse que o homem quis dizer que todos precisavam reciclar.
Como não soubesse o signficado da reciclagem, o avô ensinou que todos os papéis velhos, que não tinham mais uso, deveriam passar por um processo por meio do qual voltariam a ser utilizados. Isso era a reciclagem: transformar o velho e inútel em novo e pronto para usar.
Disse-me que o neto telefonara na véspera perguntando o que avô faria de especial com os livros separados numa estante perto da porta do banheiro do quarto.
- Nada. Ainda não sei, respondeu o avô.
- Mas eles são velhos, não são?
- Sim, confirmou o avô.
Desligou o telefone, jantou, tomou banho, deu uma voltinha na praia e caiu exausto na cama. Pela madrugada, acordou sobressaltado pressentindo o que o neto poderia fazer. Ligou para casa, mas o filho mais novo, que tomava conta do lugar, informou que estava muito orgulhoso do sobrinho. Afinal, com a anuência do avô, levara mais de trezentos livros velhos para a reciclagem.
Perguntei se ele não se sentia mal. Trezentos livros não são vinte revistas de fofocas.
- Por enquanto vou curtir a praia, disse-me sorrindo. Deixarei para sofrer depois. Mas que meu neto é um gênio, isso ele é. Falei uma vez só em reciclagem e ele aprendeu tudo. Bem direitinho.
Desde então não o vi mais. Porém, confesso que sempre fico curioso para saber o que foi transformado: a primeira edição da Barsa, das Memórias Póstumas de Brás Cubas, d'Os Sertões ou de Macunaíma, os autógrafos de Érico Veríssimo, Josué Guimarães ou o outro Josué, o Montello, os livros de capa dura da coleção de filosofia medieval ou de literatura paraibana. Como será que ele ficou? Coisas sobre as quais minha curiosidade ainda não obteve resposta.
Numa tarde, levou o menino para assistir a uma palestra numa universidade pública. O conferencista falou por mais de uma hora e meia sobre redimensionamento do meio-ambiente e da relevância de todos os segmentos sociais darem as mãos numa situação tão importante quanto aquela: salvar o mundo. O menino nada entendeu, mas ao fim o avô disse que o homem quis dizer que todos precisavam reciclar.
Como não soubesse o signficado da reciclagem, o avô ensinou que todos os papéis velhos, que não tinham mais uso, deveriam passar por um processo por meio do qual voltariam a ser utilizados. Isso era a reciclagem: transformar o velho e inútel em novo e pronto para usar.
Disse-me que o neto telefonara na véspera perguntando o que avô faria de especial com os livros separados numa estante perto da porta do banheiro do quarto.
- Nada. Ainda não sei, respondeu o avô.
- Mas eles são velhos, não são?
- Sim, confirmou o avô.
Desligou o telefone, jantou, tomou banho, deu uma voltinha na praia e caiu exausto na cama. Pela madrugada, acordou sobressaltado pressentindo o que o neto poderia fazer. Ligou para casa, mas o filho mais novo, que tomava conta do lugar, informou que estava muito orgulhoso do sobrinho. Afinal, com a anuência do avô, levara mais de trezentos livros velhos para a reciclagem.
Perguntei se ele não se sentia mal. Trezentos livros não são vinte revistas de fofocas.
- Por enquanto vou curtir a praia, disse-me sorrindo. Deixarei para sofrer depois. Mas que meu neto é um gênio, isso ele é. Falei uma vez só em reciclagem e ele aprendeu tudo. Bem direitinho.
Desde então não o vi mais. Porém, confesso que sempre fico curioso para saber o que foi transformado: a primeira edição da Barsa, das Memórias Póstumas de Brás Cubas, d'Os Sertões ou de Macunaíma, os autógrafos de Érico Veríssimo, Josué Guimarães ou o outro Josué, o Montello, os livros de capa dura da coleção de filosofia medieval ou de literatura paraibana. Como será que ele ficou? Coisas sobre as quais minha curiosidade ainda não obteve resposta.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Características efêmeras
Essa água corrente, que sobe e desce, demonstra bem minha surpresa ao presenciar duas cenas lastimáveis na manhã de hoje pelas ruas de Assis, cidade do interior de São Paulo.
Nos tempos de faculdade duas garotas faziam discursos incríveis de que se encaixariam nas fileiras do serviço público assim concluíssem o curso de bacharelado.
Uma delas, falava russo ou chinês ou tailandês, mudou a opção pelo cargo, mas manteve-se firme na perspectiva de ser funcionária pública.
Cinco anos depois, encontro uma delas descabelada, roupas engraçadas e um ar abandonado de quem sofre diariamente os maus tratos do marido. No colo, uma criança. Provavelmente um filho, concebido na angústia de quem planejou grandes sonhos, entretanto não soube se disciplinar e se desligar dos desejos mais prementes do reconhecimento que não viria pelo caminho profissional.
A outra, igualmente achava-se a mais brilhante e a insubstituível, depois de mais de três décadas de exercício celibatário, finalmente conseguiu desencalhar. Olhei bem para o namorado a quem confidenciava algo que, pela cara dele, ouvia contrariado.
Assim como a primeira, essa segunda colega deixará seu vôo solo para se meter embaixo da asa de um homem que, nos moldes do marido da primeira, vai massacrá-la e impor-lhe uma degradante condição doméstica e selvagem.
A água da fonte secará em algum momento. A soberba, a beleza construída forçadamente e a falsa erudição caíram num buraco, depois de empurradas por seus objetos de dominação. Assim como a felicidade - na acepção epicurista do termo - da fonte se transforma em calvário, quem muito escolhe pode ser escolhido, engolindo tudo o que detestava.
***
Lembro de uma crônica de Sérgio Faraco. O escritor gaúcho relata a situação de um primo, sempre elogiado, sempre cursando mais de uma faculdade, sempre aplaudido, que ficou louco. E ele, Sérgio Faraco, funcionário público do poder judiciário e que cursara Direito em quase dez anos, mal mencionado nas festas de família, sempre esquecido e preterido, ficou são e dono de uma quantidade invejável de leitores, de admiradores, de amigos. Neste momento, acredito que dezenas de pessoas se sintam como o Sérgio Faraco: feliz da vida. Eu, pelo menos, não poderia descrever o quanto.
sábado, 10 de janeiro de 2009
Sentiu o medo
Sentiu um medo intenso da montanha de folhas que tinha em sua frente, um medo de não conseguir resolver razoavelmente os problemas que se faziam diários na construção de sua vida. Por isso, como um místico que resolve testar seus poderes extraordinários, pegou uma caneta, um papel, olhou o ar e escreveu seu primeiro poema talvez místico, certamente mágico. O nome dele? Gibran.
sábado, 3 de janeiro de 2009
Crônica: laboratório do escritor
O espaço que os jornais abrem para os novos escritores constitui uma importante ferramenta de disciplina, de espaço e de incentivo. Disciplina porque quem escreve sabe que terá, sempre no prazo estipulado, que apresentar um texto. Faça chuva ou sol.
Espaço porque, entre os grandes escritores contemporâneos, destacaram-se também os que optaram por um estilo minimalista como Dalton Trevisan. Se temos quarenta linhas a preencher, vamos desenvolvendo técnicas de produção textual capazes de narrar uma mesma situação numa crônica, num conto, numa novela ou num romance. Obviamente todas as histórias são interessantes, porém nem todas assumem fôlego para transpor tranquilamente o vasto braço de mar que separa as margens.
Incentivo? Quando se recebe uma mensagem eletrônica, um telefonema ou uma carta ou, em algumas situações, em cidades menores, se é parado na rua pelo leitor admirado ou indignado por uma posição radical, heterodoxa ou pelo silêncio.
Ainda bem que temos jornais. E, melhor, ainda bem que temos leitores que nos incitam a escrever, a debater e a se debater. E, muito melhor, ainda temos grandes diretores de jornal que, mesmo no interior, têm macrovisão, demonstrando que interior e capital estão simplesmente separados pela quantidade da população, mas intimimamente ligados pela qualidade. Proporcionalmente, os jornais interioranos são iguais e, em muitas vezes, melhores do que os da capital.
Espaço porque, entre os grandes escritores contemporâneos, destacaram-se também os que optaram por um estilo minimalista como Dalton Trevisan. Se temos quarenta linhas a preencher, vamos desenvolvendo técnicas de produção textual capazes de narrar uma mesma situação numa crônica, num conto, numa novela ou num romance. Obviamente todas as histórias são interessantes, porém nem todas assumem fôlego para transpor tranquilamente o vasto braço de mar que separa as margens.
Incentivo? Quando se recebe uma mensagem eletrônica, um telefonema ou uma carta ou, em algumas situações, em cidades menores, se é parado na rua pelo leitor admirado ou indignado por uma posição radical, heterodoxa ou pelo silêncio.
Ainda bem que temos jornais. E, melhor, ainda bem que temos leitores que nos incitam a escrever, a debater e a se debater. E, muito melhor, ainda temos grandes diretores de jornal que, mesmo no interior, têm macrovisão, demonstrando que interior e capital estão simplesmente separados pela quantidade da população, mas intimimamente ligados pela qualidade. Proporcionalmente, os jornais interioranos são iguais e, em muitas vezes, melhores do que os da capital.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Começando 2009
Visitei recentemente dois ou três blogs de alguns escritores. Com exceção de uma cronista, os demais recorrem à internet para divulgar seus textos publicados em veículos de comunicação impressos. Na prática, reunem dois ou três textos, ajustam, diminuem, adaptam ou, na pior das hipóteses, inventam de dispor largamente aquilo que foi publicado no jornal ou na revista.
Certamente o jornal impresso tem circulação limitada. O jornal de Santa Catarina não chega à Paraíba e vice-versa. Alguns assuntos são interessantes, outros, nem tanto. Porém, imagino que podemos deixar um endereço eletrônico alternativo para quem quer ler o que já fizemos. Quem visita um blog quer notícia ou informação ou texto fresco, cheio de erros, de acertos, de arrependimento, de paixão e de improviso. Com uma ou outra exceção,(afinal, temos assuntos que devem ser tratados em todos os canais possíveis e oníricos), o certo é deixar por aqui e em outros lugares informações novas.
Quem quiser ler o que produzimos de maneira impressa, pode encontrar, ao lado, as categorias que auxiliarão os leitores mais interessados.
Ano novo, escrita antiga, textos novos.
Certamente o jornal impresso tem circulação limitada. O jornal de Santa Catarina não chega à Paraíba e vice-versa. Alguns assuntos são interessantes, outros, nem tanto. Porém, imagino que podemos deixar um endereço eletrônico alternativo para quem quer ler o que já fizemos. Quem visita um blog quer notícia ou informação ou texto fresco, cheio de erros, de acertos, de arrependimento, de paixão e de improviso. Com uma ou outra exceção,(afinal, temos assuntos que devem ser tratados em todos os canais possíveis e oníricos), o certo é deixar por aqui e em outros lugares informações novas.
Quem quiser ler o que produzimos de maneira impressa, pode encontrar, ao lado, as categorias que auxiliarão os leitores mais interessados.
Ano novo, escrita antiga, textos novos.
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