Confesso aversão às novas tecnologias. Ocupam o tempo das pessoas que, em vez de lerem, de se informarem, de refletirem sobre a condição humana, gastam boa parte das madrugadas ou das noites compartilhando fotos e mensagens pueris em redes sociais. Mantinha-me firme na convicção de evitá-las e, entre elas, as câmeras fotográficas. Pequenas, leves, baterias de seis a oito horas, fáceis de manusear e de retirar seu conteúdo, enviando-o ao outro lado do mundo em minutos.
Um dia, a professora tirou cerca de trezentas fotografias de viagem ao interior do Paraná. As cidades visitadas não eram bonitas, mas as paisagens e formações naturais de árvores, montanhas e clareiras encantavam os espectadores. Outra vez, um aluno mostrou perto de cem imagens de festival de São Paulo. Por fim, o diretor, em congresso no Rio de Janeiro, posara com Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony e Deonísio da Silva.
Resistia à aquisição de câmera fotográfica até que encontrei dois senhores esvaziando o porta-malas e procurando o estepe. Cumprimentei-os e, dando três passos de volta, reconheci Rubem Alves e Moacyr Scliar. Ajudei-os a trocar o pneu. Sentamos numa cafeteria e conversamos por cerca de duas horas sobre seus estilos literários. Deram conselhos de criação, discorreram sobre as especificidades da crônica – gênero em que me arrisco, indicaram-me leituras. Cheguei à sala dos professores e, em seguida, à de aula, comentando o fato. Um aluno perguntou se tinha como provar o que falava. Uma foto?
Comprei a câmera fotográfica digital. Carrego-a há três anos. Nunca mais vi nem Moacyr Scliar, nem Rubem Alves, nem outro escritor cuja imagem, registrada pela câmera, comprovaria afirmações eufóricas e inacreditáveis.
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