Convocou o sobrinho para dar um jeito no filho.
- Fazes o que quiseres, mas vais colocá-lo nos eixos! Quero todo mundo comentando que meu filho é um garanhão! Entendeste?
Munido da generosa doação do tio, empurrou o primo para um fim de semana de pesca. O primo levara alguns amigos de modo que a noite de sexta-feira e a manhã de sábado transcorreram rapidamente.
Depois do almoço – falta do barulho de carros, motos e caminhões, das conversas femininas nos salões de beleza se preparando para a noite, da TV, do rádio, do computador, do bar de periferia esperando eternamente grande número de torcedores de futebol – confessou:
- Não agüento mais esse negócio de pesca!
- Se não agüenta, por que inventou?
A pergunta inesperada o pôs numa situação pitoresca da qual se desvencilhou brilhantemente: queria sossego, tranqüilidade, contato com a natureza. Entretanto, não pensara que o contato com a natureza fosse tão monótono.
Aproveitando a oportunidade, sugeriu que fossem para a cidade à noite e, como o destino se tornasse cúmplice, um dos amigos do primo gritou euforicamente:
- Por que não vamos visitar as Senhoras das Noites?
O ar de ignorância do primo sumiu quando, ouvindo a explicação para o termo, ruborizou diante da explicação:
- Um rendez-vous!
Perderam a tarde compartilhando impressões, criando situações, discutindo qualidades e discorrendo alternativas da arte de amar.
Telefonou discretamente para o tio:
- De hoje não passa. Garanto ao senhor. De hoje não passa.
O tio desligou o telefone. A aflição indisfarçável despertou a atenção da mulher que, depois do jantar, entregou-lhe uma xícara de chá de qualquer coisa para acalmar os nervos.
Mal deram nove horas, os sete sentaram-se ao fundo, à direta do palco. Encetaram conversas com as meninas, trataram das condições contratuais. O primo confidenciava-se aos ouvidos de uma uruguaia de sotaque despercebido. Já relaxado, poderia telefonar no dia seguinte para o tio.
Acordou por volta das dez da manhã, celular tocando, ressaca gritante, tio esbravejando: como o enrascara assim? Por que deixara na internet as fotos do filho dançando num palco trajando calcinhas e soutiens?
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 15 de outubro de 2009.
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