sábado, 28 de agosto de 2010

GENTILEZAS

O rapaz de sorriso largo entrou no bar de frente ao hotel. Ficara do meio-dia às cinco e meia fazendo uma prova de um concurso para o qual vinha estudando nos últimos cinco anos. A terceira fase – fizera a segunda naquela tarde – ocorreria no dia seguinte na mesma escola e no mesmo horário.





Buscava petiscos, água mineral e refrigerante. Comeria os petiscos, beberia o refrigerante e levaria a água mineral para o quarto em que mal cabiam uma cama e uma pequena geladeira cujos produtos custavam em média dezessete vezes mais do que os vendidos em supermercados ou lojas de conveniência. A salsicha, as batatas fritas e o salame em fatias iam sendo degustados com Coca-Cola. Antes de limpar o prato, uma roda de samba improvisada na calçada despertou-lhe a atenção.





Os olhares constantes aproximaram uma morena de cabelos pretos lisos e sorriso cativante. Não gostaria de se sentar com os amigos e ouvir um pouco de Adoniran Barbosa, Demônios da Garoa, Noite Ilustrada, Martinho da Vila, Elymar Santos, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione? Timidamente – mais por educação e galanteio do que pela eventual afinidade com a música – pôs uma cadeira ao lado dos onze ou doze integrantes. Os mais velhos preocupavam-se na afinação da voz enquanto os mais novos, manejando os instrumentos como podiam, encaixavam os acordes numa harmonia excepcional.





A morena e ele comunicavam-se por gestos, olhares e sorrisos. Deixavam escapar mensagens subliminares nas cervejas. Aos vinte e três anos, jamais ingerira uma gota de álcool e se orgulhava disso, mas estava distante de casa. Recusaria a gentileza da morena que prometia uma noite memorável?





A morena acenou ao garçom. Completasse os copos dos integrantes da roda. Um moreno de camiseta listrada esforçava-se para transmitir o som límpido do cavaquinho, investindo atenciosamente os dedos nas cordas e deslizando-os no braço do pequeno instrumento que parecia um brinquedo.





Um menino de dentes de coelho apareceu na frente dele: bilhetes da loteria federal, remédios para dor de cabeça, chicletes. Trabalho para ajudar no sustento da família. A mãe também trabalhava fora o dia inteiro e os seis irmãos ficavam sozinhos em casa. Tirou dez reais da carteira e pegou um bilhete da loteria federal. Embora fizesse questão de devolver o troco, o menino aceitou a gorjeta sob a alegação de tomar um refrigerante no almoço de domingo.





A morena jogava frases inaudíveis. Em segundos os pelos dos braços se eriçavam denunciando leve transtorno orgânico. Os arrepios tomavam conta do resto do corpo. O ouvido se acostumou ao baixo tom de voz e, entre uma e outra anedota, riam de qualquer coisa. Uma senhora gorda, um cachorro magro, um homem alto, um carro cinza, uma motocicleta com dois passageiros equilibrando a compra do supermercado, um entregador de farmácia, um policial de botas velhas, um homem elegante de gravata borboleta. O álcool já alterava suas percepções mais elementares.





O dono do bar trouxe uma bandeja de carne de boi e de porco assadas. Depois, uma travessa com frutos do mar e peixe. Em seguida, nove garrafas de vinho – vinho do Porto? – esvaziaram-se sobre a mesa. Bebeu mais cerveja, comeu os assados, repetiu o peixe, engoliu duas taças de vinho. A barriga apresentou os primeiros sons de desarranjo. Beijando a mão da parceira, entrou no bar.





O banheiro não era dos melhores lugares para se fazer palavras cruzadas ou se informar a respeito dos últimos escândalos previdenciários. Usou os apetrechos e utensílios disponíveis com alguma dificuldade. Ou por vontade de regurgitar, ou pela necessidade de se manter em pé, passou sem perceber o conteúdo estranho da garrafinha de sabão líquido e imaginou que se tratasse de um bordado a sujeira grossa incrustada na toalha verde com detalhes amarelos e azuis.





Quando finalmente saiu do banheiro – a porta emperrou e precisou pedir ajuda – deu com a mesa vazia. Perguntou onde estavam os integrantes da roda de samba. E a morena? Conta detalhada de mil e duzentos reais de consumo. Mão no bolso. Onde deixara a carteira?



*Publicado originalmente na coluna Ficções, no Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 27 de agosto de 2010.

sábado, 21 de agosto de 2010

SUSTO

A idéia parecia perfeita: um susto na Professora de Português. Afável, atenciosa e absolutamente profissional, interessava-se por nossos problemas literários, redacionais e lingüísticos e esforçava-se para resolvê-los. Pensei um pouco, mas me convenci sem muito custo de que se planejássemos contra outros professores, a artimanha não teria graça.



Então propus a Canelito que se escondesse. Quando entrasse ao fim do recreio, pediria a professora que fechasse a porta: susto imenso e risada geral. Em minha perspectiva, ela acharia a cena engraçada e começaríamos a aula mais leves. Entretanto, lançou o material sobre a mesa, mão direita na cintura:



- Quem fez isso?



Os alunos riam sem escutar a inquirição.



- A sala toda participou do episódio?



- Opa, rosnou um aluno que se mantivera longe da traquinagem. A sala toda? Não, senhora!



Nos momentos raros em que os integrantes do grupo se unem em defesa da integridade coletiva, eu percebia que meus planos iam por água abaixo.



- Os que planejaram fiquem de pé.



Sem saída, fui o primeiro a me levantar, seguido de Canelito, que lhe dera o susto e de um amigo cuja covardia sempre fora qualidade e a quem os colegas delataram pela falta de hombridade.



Não me lembro bem se chamou a diretora, mas, por uma ajuda divina – os infratores também têm ajuda divina – Tia Ana, a diretora, e Tia Vera, filha de Tia Ana e responsável pela escola quando da ausência da mãe, não estavam.



- Os três. Para fora da sala.



Enquanto Canelito e eu arrumávamos as bolsas, o colega covarde persistia na esperança de se livrar da expulsão. Do lado de fora da escola, duas preocupações: Tia Ana e meu pai.



O que Tia Ana perdia em altura ganhava na ferocidade e na capacidade indescritível de amedrontar. No dia seguinte, todos nos olhavam com desconfiança, esperando choro e ranger de dentes. Antes do recreio Tia Ana entrou, a sala emudeceu, meu coração disparou.



- Fiquei sabendo o que vocês fizeram ontem. Vocês não têm juízo? Já imaginaram se ela tem um ataque cardíaco ou um problema de saúde? Se ela desmaia? Vocês merecem uma suspensão.



Naquela época, a suspensão correspondia mais ou menos a uma sentença imposta aos bandidos. Já imaginava que se conseguisse sair vivo da escola portando um comunicado de suspensão, não conseguiria sobreviver em casa: meu pai me esperaria com uma espingarda e, se ainda me mostrasse firme na idéia de viver, um machado de esquartejamento.



- Vocês merecem uma suspensão, repetiu Tia Ana, mas não vou dar uma suspensão porque não adianta, porque vocês não têm brio. Sabem o que é brio?



Um mosquito atravessou meu ouvido gelado.



- Brio significa vergonha na cara e vocês não têm vergonha na cara.



À saída, esperei a Professora de Português. Desculpei-me pelo ocorrido. Quando entrei em casa, esperava a convocação paterna a qualquer momento e já preparava as mãos para a palmatória. A tarde escapou. Preparei-me para a surra no início da noite, mas a noite foi tranqüila.



Passaram-se dois, cinco, dezessete dias. No décimo oitavo, a surpresa. Meu pai prestava trabalho voluntário no Centro de Valorização da Vida (CVV). O trabalho no CVV consistia em atender, por telefone, pessoas com problemas, tristezas, angústias ou sozinhas, evitando atitudes impensadas como o suicídio.



- Meu filho, eu fiquei sabendo do susto que você e seus amigos deram em Fátima.



Se eu não estivesse sentado, teria caído no chão. Naquele instante, como numa trama que se arma para prolongar o suspense, o telefone estalou. Meu pai o atendeu:



- CVV, boa tarde. Dois segundos e retomou: - Olá, Mãe Jovem.



O trabalho do CVV objetivava acalmar e apoiar as pessoas. Nome, endereço ou eventuais características pessoais eram irrelevantes. Todas as pessoas são importantes, independentemente de suas opções, de seus erros, de seus acertos.



Eu não sabia quem era a Mãe Jovem nem prestei atenção ao que meu pai e ela conversaram por mais de dez minutos, mas mentalmente agradeci a Deus e a ela pelo tempo a mais que me concediam de vida. Enquanto conversavam, retomei a calma, estruturei meu discurso, articulei minha defesa. Meu pai então escreveu um bilhete: comprasse balas, chicletes e pão.



Quando entrei no CVV, a Mãe Jovem desligara, meu pai me esperava. Meu coração em descompasso sambava nas minhas costas. Minha garganta secou, frio na barriga, moleza nas pernas. Tempo para me despedir das namoradas?



- Meu filho, o que você fez não foi correto. Ana me telefonou. Já imaginou se Fátima tivesse algum problema de saúde em razão da brincadeira? Meu pai falou por quinze minutos, enumerando os problemas que minha brincadeira causaria e, quando me disse para pedir desculpas para ela – e eu rapidamente respondi que já as tinha pedido, me dispensou. Terminaria de preencher os formulários para voltar para casa.



À noite, fiquei um bom tempo rolando na cama enquanto a casa escura prendia a passagem do tempo. Ainda não acreditava que tinha saído inteiro do meu primeiro delito.



*Publicado originalmente na coluna Ficções, no Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 20 de agosto de 2010.

sábado, 14 de agosto de 2010

MATEMÁTICA

Jogava conversa fora com o matemático Roberto Cavali. Disse que julgava uma perda de vida o tempo que gastei estudando matemática no ensino médio e no ensino fundamental. Acrescentei que não apenas a matemática, mas também a química, a física, a biologia, a educação artística e a educação física pareciam matérias irrelevantes no contexto a que me dediquei e, para alfinetar um pouco mais, ressaltei que ganharia mais se tivesse me concentrado apenas em História, Literatura, Filosofia e Sociologia.





Roberto Cavali discordou veementemente, enumerando dezenas de exemplos em que a matemática se mostrava importante. Divergi mais uma vez, ele defendeu a donzela como pode e, quando vimos, estávamos cara a cara, cada um segurando uma cadeira. Preparávamos para entrar em batalha corporal quando alguns professores, nos afastando e alegando a irrelevância do debate, nos separaram.





Obviamente saí da discussão consciente de que meus argumentos ganharam. Boa parte dos profissionais repudiaria a disciplina dos números. Voltei tranqüilo para casa, li até parte da madrugada, tomei banho, dormi e acordei com o ânimo serenado. Algumas contas repousavam sobre a mesa do computador, peguei o dinheiro e disparei para o banco cuja porta central estava praticamente emperrada com a fila enorme que se formava dentro da agência, espalhava-se pelo pronto-atendimento e estendia-se pela rua.





No fim da fila, puxei o jornal para ler as últimas notícias de política. Li também alguma coisa sobre televisão, Literatura, Teatro, cozinha mineira, economia de energia no hospital, construção de uma biblioteca em bairro de periferia, ampliação do acervo de computadores numa empresa de prestação de serviços. Entrávamos na área de pronto-atendimento. Circulava os olhos pela parte de esportes cujo fim da leitura coincidiu com a passagem pela porta-giratória e a entrada definitiva na agência cuja fila, ainda quilométrica, me deixou em pânico.





Uma mulher de aparentes quarenta anos segurava uma sacola cheia de papéis e, pensando em provar a mim mesmo o argumento da véspera, disparei:





- A senhora acha que matemática serve para alguma coisa?





Revirou os olhos, retirou uma pancada de papéis da sacola:





- Se matemática servisse para alguma coisa, eu não estaria enfrentando esse inferno para resolver um problema do cartão de crédito.





Voltou a colocar os papéis dentro da sacola e contou que no fim do ano passado, antes do natal, a atendente de operadora telefonara oferecendo um cartão de crédito que não cobrava anuidades e dava sessenta dias para pagar a primeira parcela das compras. O cartão chegou três dias depois com limite de cinco mil reais. O marido a advertiu que o usasse moderadamente, preocupando-se em manter as parcelas dentro do orçamento doméstico.





Fez uma conta simples: se comprasse produtos com parcelas mensais de até cinqüenta reais, conseguiria atender aos desejos consumistas. Comprou três pares de sapato em vinte parcelas de vinte reais. Depois, três vestidos, duas calças, um espartilho, duas camisetas e um batom por trinta e seis parcelas de vinte e cinco reais. Em seguida, um guarda-roupa e uma casa por vinte parcelas de quarenta reais. E, finalizando, um micro-ondas por setenta e duas parcelas de sessenta reais.





Pagou a parcela mínima a que o cartão dava direito e, manteve a tradição por seis meses consecutivos quando o filho, que trabalhava em Curitiba e aparecera para um fim de semana, constatou que a mãe já devia mais de nove mil reais apenas de juros.





A conversa estava tão boa que, quando percebemos, estávamos à boca do caixa. Antes de nos separarmos, concordamos mais uma vez que a matemática não serve para nada, contudo por mera razão de princípios cosmopolitas, comprei uma calculadora simples e uma calculadora científica e, no próximo mês, entro em curso noturno de matemática financeira. Continuo batendo o pé que a matemática não serve para nada e mando minha convicção ao matemático Roberto Cavali, mas sempre é bom saber certinho como funciona esse negócio de juros simples, juros compostos, correção monetária, juros de mora e cláusula penal. Afinal, por que trocar uma dívida certa de oitocentos reais por uma aventura futura de nove mil?



*Publicado originalmente na coluna Ficções, caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 13 de agosto de 2010.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DETETIVE EM AÇÃO


As histórias de detetives, de aventuras ou de suspenses constituem perigo para os criadores literários uma vez que o ritmo aplicado ao enredo, a velocidade das cenas e das ações, os artifícios dos personagens e a capacidade de produzir efeitos eficazes podem alçar o escritor ao mais alto patamar ou jogá-lo no limbo ou no rol do esquecimento.



Quem não se lembra das aventuras de Sherlock Holmes, brilhante personagem de Arthur Conan Doyle? A característica essencial de Holmes repousa na impaciência e na ausência de estímulo intelectual desafiador para sua cultura de modo que, para fugir do tédio, busca equacionar problemas aparentemente insolúveis para a polícia inglesa. Sua fama se expande de tal maneira que até pessoas ricas – ou mesmo as que nada têm – o procuram para dar respostas a fatos estranhos ou “muito óbvios”, como sugere o amante da química que tem um laboratório em casa, toca instrumento de corda e usa cocaína para estimular o cérebro.



A captura dos criminosos e o estratagema dos percursos de Holmes – que, diga-se de passagem, não integra as forças de segurança pública – decorrem de estudos técnicos em que a ciência, a análise e a percepção dos fatos se enquadram em um quebra-cabeças restando ao detetive apenas o trabalho de montá-lo.



Diferentemente de Holmes, Jules Maigret é um comissário da polícia de Paris que busca, através de evidências, de conversas insólitas, de visitas inesperadas e de métodos coercitivos, descobrir os fatos que resultam em crimes. Criado pelo belga Georges Simenon (1903-1989), o comissário Maigret vendeu mais de um bilhão e meio de exemplares em todo o mundo e protagoniza pouco mais de setenta romances e mais algumas histórias curtas.



“Liberty Bar” – que sai pela edição de bolso da editora L&PM – constitui mais um título da longa obra que vem sendo traduzida para o português possibilitando ao público brasileiro contato direto e extasiante com narrativas de fôlego e enredos brilhantes. O comissário Maigret viaja a uma cidade interiorana para desvendar o assassinato de William Borwn, um excêntrico australiano que vivia com mãe e filha numa ampla casa, aparecia na parte urbana para fazer compras ou para – durante alguns dias por mês – receber uma mesada. William Brown é morto com arma branca. As duas mulheres que moram com ele são encarceradas como as principais suspeitas do crime, entretanto, após recebê-las na casa em que moravam com a vítima, Maigret as liberta, parcialmente convencido de que não mataram William. As malas repletas de pertences – configurando fuga aparentemente decorrente de culpa no assassinato – respaldam a insegurança e o medo relatados durante a conversa.



Maigret segue para a cidade vizinha e encontra o Liberty Bar, um pequeno estabelecimento mais afetivo do que comercial. Jaja – a proprietária viúva e falante – e Sylvie – uma meretriz de faces joviais, caminhando desinibidamente nua entre as mesas – informam ao investigador que William Brown aparecia mensalmente para beber, ajudando financeiramente na manutenção da alimentação. O detetive desconfia da intimidade, mas Jaja acrescenta que, depois da morte do marido e de algum tempo de convalescença, o Liberty Bar adquirira mais ar aconchegante e fraterno do que ambiente meramente lucrativo.



O comissário parisiense ainda se encanta com os detalhes de que, ao visitar o local mensalmente, William Brown não procurava a meretriz e, depois de se embriagar, dormia em qualquer lugar. Aos poucos, as informações vão se reunindo e se surpreende com o testamento do falecido: além de deixar parte da fortuna – que consistia em fábricas, terras e ações na Austrália – para as duas mulheres com quem morava, Jaja e Sylvie também são diretamente beneficiadas.



Os detalhes do testamento compõem o provável mapa da morte de William. Embora Jaja e Sylvie insistam na manutenção do discurso do desapego, da amizade e da fraternidade incondicional do relacionamento com o morto, Maigret flagra Sylvie saindo de um quarto de hotel onde se encontrara com um dos prováveis suspeitos. Em sua bolsa, vinte mil francos. Depois de visitar Sylvie e o garçom na cadeia, Jaja se desespera, embriaga-se e deixa escapar a informação de que William, tempos antes de morrer, lera parte do testamento em que as colocava em condição favorável.



Quem matou William Brown? O rico filho empresário que está na cidade cuidando do féretro e de negócios? As duas mulheres com quem vivia? A dona do Liberty Bar? A jovial meretriz que era sua amiga? O garçom Joseph que aparecia no Liberty Bar?



Simenon constrói um dos melhores enredos de detetives dos últimos tempos, fazendo de Maigret – um homem simples, burocrata, mediano, intuitivo e com um pouco de sorte – um cão de caça de faro apurado.





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Geroges Simenon – L&PM – 160 p. – R$ 15,00
 

*Publicado originalmente na coluna Ficções, caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 6 de agosto de 2010.