Adorava inserir
solteiro no campo destinado ao estado civil nas fichas de hotel e documentos
oficiais, reiterando, entre os ciclos de amigos, de parentes e de colegas de
trabalho, a escolha do eterno estilo de vida. Vida que, diga-se de passagem,
tomou sentido absolutamente contrário do que desejava quando um de seus irmãos
perdeu o emprego e, juntamente com a esposa, teve de tentar ilegalmente a vida
nos Estados Unidos deixando sua sobrinha de seis anos em sua casa por prazo indeterminado.
Se o irmão e a
cunhada tivessem indagado a respeito da possibilidade de cuidar de Camila,
certamente ele teria rejeitado qualquer intenção de virar tutor, mas, conhecendo
como o conheciam, preferiram deixá-la com um bilhete, usando a mãe dele como
mensageira.
A sobrinha não se
mostrava inteiramente uma peste. Entretanto, seus ouvidos pequenos
permitiam-lhe detectar, a léguas de distância, o rompimento da embalagem de
chocolate, interpelando-o com batidas na porta do carro, do banheiro, do quarto
ou da cozinha. Depois de engolir três caixas em menos de uma semana, o solteiro
convicto articulou estratégia militar para cuidadosamente, depois da
meia-noite, quando ela já dormia, estocar suas caixas na parte de cima do
guarda-roupa. Mas, antes, conversou seriamente com ela a respeito dos
malefícios do açúcar no sangue, arrancando-lhe o compromisso de que ambos, dali
em diante, recusariam qualquer investida contra a decisão de abstinência.
Sem problemas, sempre
depois da meia-noite e meia e antes das três da manhã, abria cuidadosamente a
porta superior do guarda-roupa, pegava dois chocolates, desembrulhava-os e,
como o sedento perdido no deserto ao encontrar água, saboreava cada contato da
língua com seu objeto de desejo. Considerava-se vitorioso quando, numa noite,
depois de subir na cadeira, encerrou a melindrosa operação e arremessou dois
chocolates da cama.
- Quem fez pacto de
abandonar o açúcar porque ele é prejudicial à saúde?
Recuperado da queda –
causada pelo desequilíbrio do susto – ele fitava incredulamente a menina, mãos
na cintura, semblante irônico, inteligentemente dentro do quarto por seu
esquecimento da porta aberta.
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