Outro dia, ao almoço,
o poeta – e também administrador financeiro – Ozair Campos de Lacerda iniciou a
explanação do projeto de viagem à Itália. Sua pretensão: visitar as cidades
mais famosas, entre elas, Roma e Veneza. A conversa sobre preço de passagens
aéreas, hotéis, alimentação, seguros, rotas mais baratas já ia adiantada quando
sua esposa falou tranquilamente: - Vou fazer o aniversário de cinco anos de
nossa filha.
Entre um e outro
argumento – entre eles, o dinheiro curto – a esposa batia o pé sobre o
aniversário, ele, reforçava a economia indispensável para conseguir atravessar
o Atlântico, a pequena filha, sentada à ponta da mesa, perdida em algum desenho
da internet, mantinha-se calada, alheia ao debate. Virei-me para ela e, com
absoluta malícia, indaguei:
- Você prefere viajar
com seu pai ou festar com sua mãe?
E a menina,
inteligente como todas as crianças brilhantes cujo raciocínio amadurece antes
mesmo de encerrarmos nossas perguntas, disparou:
- Eu quero brinquedo!
Algumas vezes focamos
em projetos pessoais – extremamente importantes para que, ao fim do ciclo
terreno, afirmemos que valeu a pena ter aproveitado a vida – e inúmeras outras
esquecemos de ouvir se nossos filhos, pais, mães, avós, maridos, esposas,
companheiros de trabalho ou conhecidos também desejam enfrentar nossa maratona.
Esquecemos que, em tantas outras vezes, a companheira ou o companheiro de
viagem nunca teve ambição de ler um livro, de compreender um quadro, de se
irritar com uma peça, de chorar em um filme, de elevar as mãos no ar como a
reger uma orquestra imaginária, de vibrar com as vitórias.
Nossos projetos de
vida são nossos projetos de vida. Por isso, quando nos despedimos
temporariamente para uma viagem – qualquer que seja a viagem – ao som de “até
logo”, não exibimos egoísmo, mas apresentamos amadurecimento a ponto de
escolher e de colocar em prática nossas prioridades.
A quem, de fato,
interessa a viagem? Ao pai.
A quem, de fato,
interessa a festa de cinco anos? À mãe.
À filha interessam os
brinquedos. Nem viagens internacionais, nem festança.
E, a nós, o que de
fato nos interessa?
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