terça-feira, 19 de março de 2019

A QUEM, DE FATO, INTERESSA?


Outro dia, ao almoço, o poeta – e também administrador financeiro – Ozair Campos de Lacerda iniciou a explanação do projeto de viagem à Itália. Sua pretensão: visitar as cidades mais famosas, entre elas, Roma e Veneza. A conversa sobre preço de passagens aéreas, hotéis, alimentação, seguros, rotas mais baratas já ia adiantada quando sua esposa falou tranquilamente: - Vou fazer o aniversário de cinco anos de nossa filha.
Entre um e outro argumento – entre eles, o dinheiro curto – a esposa batia o pé sobre o aniversário, ele, reforçava a economia indispensável para conseguir atravessar o Atlântico, a pequena filha, sentada à ponta da mesa, perdida em algum desenho da internet, mantinha-se calada, alheia ao debate. Virei-me para ela e, com absoluta malícia, indaguei:
- Você prefere viajar com seu pai ou festar com sua mãe?
E a menina, inteligente como todas as crianças brilhantes cujo raciocínio amadurece antes mesmo de encerrarmos nossas perguntas, disparou:
- Eu quero brinquedo!
Algumas vezes focamos em projetos pessoais – extremamente importantes para que, ao fim do ciclo terreno, afirmemos que valeu a pena ter aproveitado a vida – e inúmeras outras esquecemos de ouvir se nossos filhos, pais, mães, avós, maridos, esposas, companheiros de trabalho ou conhecidos também desejam enfrentar nossa maratona. Esquecemos que, em tantas outras vezes, a companheira ou o companheiro de viagem nunca teve ambição de ler um livro, de compreender um quadro, de se irritar com uma peça, de chorar em um filme, de elevar as mãos no ar como a reger uma orquestra imaginária, de vibrar com as vitórias.
Nossos projetos de vida são nossos projetos de vida. Por isso, quando nos despedimos temporariamente para uma viagem – qualquer que seja a viagem – ao som de “até logo”, não exibimos egoísmo, mas apresentamos amadurecimento a ponto de escolher e de colocar em prática nossas prioridades.
A quem, de fato, interessa a viagem? Ao pai.
A quem, de fato, interessa a festa de cinco anos? À mãe.
À filha interessam os brinquedos. Nem viagens internacionais, nem festança.
E, a nós, o que de fato nos interessa?

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