- Eu não disse que
daria certo?
- Realmente tenho de
concordar: deu muito certo. Fiquei com medo de ele recusar a proposta. Tão
cheio de regras, tão cheio de pudores e de palavras sacras, tão cheio de
etiquetas, de calça bem passada e de sapato lustroso...
- Nenhum homem resiste
a uma mulher como você. Todos esses anos de academia, corrida cinco vezes por
semana, alimentação equilibrada... Usou aquele vestido azul curto?
- Tiro e queda!
- Não tinha como não
dar certo. Bastava um jeitinho e...
- E as coisas
acontecerem. Ainda comentei com minha mãe sobre a possibilidade de ele me
considerar uma dessas mulheres da vida, sem vergonha, que gosta de frequentar
esse tipo de lugar...
- E sua mãe?
- Ela me disse que não
tinha conversa. Se ele não fosse por bem, deveria levá-lo por mal, nem que
precisasse usar da força bruta e pedir ajuda...
- Meu Deus! Sua mãe
entende de homem!
- Ah, se entende!
Depois que aceitou Jesus, abriu mão de muita coisa, mas ela já tinha fechado a
porta na cara de médico, agrônomo, professor, advogado, gerente de banco e até
um bispo prometeu largar a igreja por causa dela, mas, no fim das contas, ela
apaixonou-se por meu pai...
- Atendeu seu
telefone!
- Alô, meu amor. Sim.
Saudades. Gostei. Adorei. Amei. Quero de novo! Hoje à noite?
- Verifique se
realmente o telefone desligou. Hoje à noite de novo?
- Vou comprar uma
fantasia que vi naquela loja de roupa perto da fonte. Beijos.
- Sua doida! Boa
sorte.
A atendente mirou o
computador:
- Próximo.
Aposentadoria, pensão ou auxílio-doença?
- Motel, respondi sem
maiores delongas.