1 – Sair do cheque
especial;
2 – Parar de tomar
refrigerante;
3 – Evitar chocolate;
4 – Ingerir
moderadamente açúcar, sal e gorduras de todas as espécies e lanches;
5 – Amar uma só
mulher;
6 – Cultivar paixão
única;
7 – Dormir cedo e
acordar cedo;
8 – Falar somente a
verdade;
9 – Não viajar;
10 – Não comer fora
de casa;
11 – Não comprar
livros;
12 – Não gastar mais
do que meia hora do dia lendo Literatura;
13 – Aplicar menos de
quinze minutos da primeira parte da manhã em História, Sociologia, Filosofia,
Antropologia e Psicanálise;
14 – Frequentar aulas
de natação, de música e de culinária;
15 – Economizar
dinheiro ao mesmo tempo em que o ganho;
16 – Transformar-me
num homem extremamente conservador, sério e objetivo;
17 – Parar de roer
unhas;
18 – Descobrir as
diferenças entre os vinhos, a importância de Mario de Andrade na Literatura e
no movimento modernista, por que Clovis Bevilaqua caiu no esquecimento se
admirava incomensuravelmente as mulheres e tentou alçá-las à igualdade dos homens
ainda no século XIX, lutando pela paridade entre filhos adotivos e biológicos,
concebidos dentro ou fora do casamento;
19 – Criar ódios,
rancores e mágoas pela Literatura;
20 – Aprender, com
homens de verdade, a conquistar mulheres já que os métodos de flores,
chocolates, poesias, músicas românticas e cavalheirismos encantam apenas as
octogenárias e servem de piada às mais jovens;
21 – Assimilar as
técnicas da panqueca e do filé de frango à parmeggiana;
22 – Comprar um
condicionador de ar;
23 – Ouvir menos
ópera, Altemar Dutra e Frank Sinatra;
24 – Compreender como
a colheitadeira separa o milho da espiga;
25 – Esquecer metas
de produção científica;
26 – Caminhar aos
fins de tarde naquele parque de Campo Mourão (PR);
27 – Mandar para a
reciclagem as coleções de Machado de Assis, Eça de Queirós, Marcel Proust,
Josué Montello, Autran Dourado, Moacyr Scliar, Josué Guimarães, Fernando
Pessoa, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Alves e toda a prateleira
erótica;
28 – Lavar o carro
todos os sábados;
29 – Tornar-me menos
recluso e mais sociável, participando de mais churrascos com música sertaneja
ao fundo, mais bailes de engraçados cujos freqüentadores se julgam bon-vivants parisienses,
mais comes e bebes de falsários provenientes de inúmeras denominações
religiosas;
30 – Aguardar
pacientemente o caixa do banco colocar em dia a fofoca com a amiga depois de
passarem o fim de semana juntos;
31 – Aprender a
pescar;
32 – Comprar botas,
cinto, calças, camisa, fivelona e chapéu de vaqueiro;
33 – Comparecer a todos
os rodeios da região;
34 – Barbear-me
diariamente;
35 – Escrever um
livro de contos ou de ensaios literários;
36 – Comprar ações de
bancos, de empresas de informática e de construtoras;
37 – Aprender
etiqueta, a comer com seis garfos, seis facas, seis colheres, oito pratos e
sete taças;
38 – Descobrir as
maneiras adequadas e esteticamente aceitáveis de combinar gravata, paletó e camisa;
39 – Comprar uma
motocicleta e seguir o trajeto de casa até a última cidade do Rio Grande do
Norte, percorrendo o país pelo litoral e parando a cada possibilidade para
aproveitar o melhor do dia, das pessoas, das comidas e das bebidas;
40 – Ignorar o
desperdício de tempo nos bancos;
41 – Dominar as
técnicas de informática e os artifícios de computador de maneira que consiga
gravar discos de áudio e de vídeo, salvar arquivos Word e utilizar
brilhantemente o excel, que substituirá a calculadora arcaica e economizará
semanas de vida;
42 – Comprar pão e
preparar o café da manhã;
43 – Agir falsamente
com os que acreditam piamente em minha ingenuidade ou ignorância a respeito de
assuntos banais;
44 – Alongar
diariamente depois de levantar da cama e antes de dormir a fim de evitar dores
prolongadas nas costas;
45 – Falar a verdade
o tempo inteiro e insistir para que minha filha, quase sempre segue o que
ordeno, também fale a verdade vinte e quatro horas ao dia;
46 – Manter meu
guarda-roupas diariamente organizado;
47 – Encher a cara de
cachaça;
48 – Virar um
recordista olímpico;
49 – Nadar em
dinheiro;
50 – Comer peixe
cheio de espinhas três vezes ao mês.
*Publicado
originalmente na coluna Ficções,
caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 28 de dezembro de
2012.