sexta-feira, 4 de maio de 2012

AVENTURAS DE JÚLIA


Uma menina que mora com os pais, estuda regularmente, desempenha suas atividades rotineiras, exterioriza os problemas da impaciência e instabilidade de temperamento, implica com o irmão mais novo e seu camundongo Rabico, diverte-se com as amigas, possui bom relacionamento com os vizinhos e admiração das crianças para as quais, segundo nos conta o narrador, criou inconscientemente a imagem de alguém que cura as enfermidades ou patologias infantis, adora seu gato Inácio...


Se transportada à vida cotidiana real, Júlia conviveria sem desconfianças na escola, na igreja, no clube, nas ruas, na vizinhança, nas festas, nas disputas esportivas ou nos leves trabalhos rurais. O temperamento explosivo com o irmão e seu rato de estimação, o amor pelo gato encontrado entre a vida e a morte no trajeto da escola, a conversa com o pai, a convivência com a secretária residencial e a curiosidade são rotinas nas casas das famílias que, com problemas e felicidades, vivem nas grandes ou pequenas cidades. Até a visita a um sítio, a exploração do lugar, a história de que mulher idosa, que vivia no imóvel rural, ter morrido e sido enterrada na capela em estado de abandono, o encontro de um caderno velho ou as indicações de Inácio sobre acontecimentos dentro da casa também nada possuem de novidade.


O que prende o leitor ao enredo de “Júlia e a parada do pen drive dourado”, de autoria de Maria Otília Iamarino Farto Pereira, são os telefonemas ou mensagens anônimas descrevendo o que ela está fazendo, aonde está indo, com quem está falando, compromissos ou afazeres que deixou de praticar. Inicialmente Júlia deduz que as mensagens e telefonemas sejam brincadeiras de amigas, de engraçadinhos da escola ou de integrantes do Clube do Livro.


Os mistérios sucedem-se. Inicialmente Jorginho, o irmão de Júlia, descobre um pen drive que poderia ser da irmã, mas não é. Em seguida, Júlia, seu gato, o irmão, os pais e duas crianças visitam um sítio, adquirido posteriormente pela família. Na hora de voltar, ela, o irmão e as crianças procuram o gato por quase uma hora e, sem sucesso, abandonam o bicho que teria de esperar a segunda parte da busca dias depois. Antes de retornarem ao sítio, o gato aparece cansado e faminto, enrolado numa pedra que poderia ser um pingente, usado pela menina como acessório de roupa. Jorginho descobre um duende em busca do pen drive que, para aguçar a curiosidade do menino e instigá-lo a procurar o eletrônico, diz que o aparelho está cheio de jogos. Apesar da posse, Jorginho garante que não viu nada e o introduz ao computador na primeira oportunidade. Sem conseguir acessar as diversões, cobra satisfações do duende que explica que os jogos conduzem ao outro mundo. Insatisfeito, Jorginho procura o vizinho na esperança de que desarme códigos de bloqueio para finalmente acessar as informações.


A descoberta do responsável pelos telefonemas e pelo envio de mensagens é um dos pontos mais interessantes. Júlia, visitando novamente o sítio com os pais, o irmão e o amigo do irmão, recebe mais uma mensagem e constata que o duende, o mesmo que conversara com Jorginho, aprontava as travessuras. Deixa transparecer – pela irritação e pelas perguntas implacáveis – que já o conhecia e quase avança sobre ele ao detectar um celular que, jogado ao alto, transforma-se em aviãozinho. A criaturinha então convida a menina para visitar seu reino e conhecer sua rainha.


Desde quando Júlia conhecia o duende? Jorginho e seu amigo conseguiram realmente acessar as informações do pen drive? O que o duende queria com os dois irmãos? Quais os segredos do pen drive? Para que servia o pingente que Júlia encontrou amarrado a Inácio?


Essas e outras respostas poderão aparecer ao leitor – criança, adolescente, jovem ou adulto – que se, talvez por uma passagem secreta, se jogue no mundo de aventuras e descubra as peripécias de “Júlia e a parada do pen drive dourado”, livro bem construído, articulado e inteligente com que Maria Otília Imarino Farto Pereira nos contempla.


JÚLIA E A PARADA DO PEN DRIVE DOURADO
Maria Otília Iamarino Farto Pereira – Arte & Ciência Editora – 180 p. – R$ 35,00


*Publicado originalmente na coluna Ficções, Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 4 de maio de 2012.

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