sábado, 20 de agosto de 2011

MOTÉIS E ESCOLAS



Desde os tempos de Heráclito, Parmênides, Sócrates, Platão e Aristóteles as discussões em torno da relação professor e aluno ensejam debates, especialmente quando esses debates vão parar na imprensa, passando-se prévia ou concomitantemente em tribunais. Desde os tempos dos filósofos pré-socráticos, socráticos e pós-socráticos, as relações entre professores e alunos causam frisson no estabelecimento de limites entre certo e errado, apropriado e inadequado, ético e imoral.

De uns tempos para cá, a imprensa tem noticiado com freqüência e estardalhaço as imagens de professoras e alunos flagrados em motéis, carros ou escolas promovendo ações amorosas socialmente reprováveis. As notícias dão conta da ação policial em coibir os atos das professoras que, em tese, usando de sua condição de superioridade, do poder de persuasão e de instrumentos de coerção, seqüestram adolescentes de quinze, dezesseis ou dezessete anos para satisfazer angústias pouco espirituais.

Como vivemos numa sociedade machista, patriarcal e corporativista, apontaria mecanicamente o dedo e denunciaria publicamente o professor que convenceu a aluna. Ele, o professor, mofaria na cadeia, acusado de crimes reais e inimagináveis, cumprindo prisão eterna. Porém, colocar atrás das grades uma professora que foi ao motel com rapaz de dezesseis anos? Que culpa tem a professora se esse mesmo rapaz informa reiterada e inequivocamente que se deslocou ao luxurioso ambiente por livre e espontânea vontade?

Em “Sexo para principiantes”, Cesar Lobo e Carlos Eduardo Novaes esboçam uma trajetória do sexo iniciando suas anotações nos tempos mais remotos e chegando à contemporaneidade sem esquecer dos gregos aos quais, em páginas específicas, atribuem o hábito de relacionamento carnal entre mestres e discípulos. O relacionamento entre professor e aluno na época de Sócrates – para ser mais claro, relacionamento homossexual – não feria a ética.

O advento do cristianismo relativiza os conceitos de ética, de moral, de certo ou de apropriado e, além de lançar o homossexualismo na fogueira das ignomínias, reprova as licenciosidades. Se Sócrates estivesse vivo, constaria da lista de pedófilos.

O fato destacado na imprensa – e voltemos ao fato – consiste em ações planejadas ou voluntárias de professoras que civilizadamente convidam os alunos mais jovens, atletas, bons batimentos cardíacos, fôlego de touro, destreza de raposa e perseverança de elefante para passeio voluptuoso.

Se essas professoras tivessem tomado tais iniciativas cerca de noventa anos atrás, o romancista José Lins do Rego jamais teria escrito “Menino de engenho”, considerada por alguns obra estritamente inspirada em seu rico universo ficcional. Verdade integral ou ficção pura, uma das cenas do enredo descreve as relações do menino com uma vaca. Ah, se algumas dessas professoras americanas, belgas e francesas que se desmancham em gentilezas e convites tivessem aparecido na fazenda do avô do adolescente José Lins...

Lembro de professoras a quem meus olhos e pensamentos se concentravam muito mais nos corpos bem talhados e nos vestidos provocantes do que em suas matérias. Nunca tive o azar (ou a sorte?) de ser molestado por elas. Se eventualmente descoberto um convite para motel ou banco de carro, um alvoroço se daria na cidade, em minha casa, entre outros professores e alunos. Um invejoso arrumaria página de jornal para dar testemunho da desconfiança das intenções da professorinha e externar protestos ao ato ultrajante.

Meus amigos, curiosos e interessados, me procurariam às pencas para detalhes da sedução. Limitar-me-ia a dizer das impressões do perfume de mulher madura, argumentando que a educação rígida sempre me forçou a obediência às mais velhas de modo que, seguindo o preceito universal de dar de comer a quem tem fome, a professorinha atendeu aos desmandos do espírito, escolhendo-me para objeto de desatinos. Adolescente cavalheiro, que mais poderia se não cumprir tarefa tão conspícua?

Entre reflexões e devaneios, constato que José Lins e eu nunca estivemos nem no lugar certo, nem momento adequado, nem com as professoras apropriadas.

*Publicado originalmente na coluna Ficções, Caderno Tem!, do Oeste Notícias (Presidente Prudente – SP) de 19 de agosto de 2011.

Um comentário:

Sandra disse...

OLÁ!!! PROFESSOR VICÊNTONIO,ESTE É MEU COMENTÁRIO: FIQUEI FELIZ EM SABER QUE EXISTE PESSOAS COMO VC.QUE SE PREOCUPA SEMPRE COM ATUALIDADES;PRINCIPALMENTE NO MUNDO EM QUE ESTAMOS VIVÊNCIANDO NOS DIAS DE HOJE E FEITA UMA COMPARAÇÃO COM O PASSADO,VCS.ESTÃO DE PARABÉNS....AMEI ESTA CRÔNICA...COM TODO RESPEITO...BJS.DE UMA ALUNA,QUE POR FORÇA MAIOR TEVE QUE PARAR NO SEGUNDO TERMO DE PEDAGOGIA...VC.VAI SE LEMBRAR DESTA ALUNA(PRES.EPITÁCIO)...SUCESSO AI...